Os que invadiram o CT do Corinthians são bandidos, não torcedores
É preciso chamar as coisas, as pessoas e suas práticas pelo nome que têm. Quando menos, por amor à língua. Aqueles caras que invadiram o CT do Corinthians no domingo não são, obviamente, torcedores. São bandidos. São vândalos. São marginais. Escolham aí a palavra que lhes parecer mais adequada. Depredaram instalações e carros de atletas, […]
É preciso chamar as coisas, as pessoas e suas práticas pelo nome que têm. Quando menos, por amor à língua. Aqueles caras que invadiram o CT do Corinthians no domingo não são, obviamente, torcedores. São bandidos. São vândalos. São marginais. Escolham aí a palavra que lhes parecer mais adequada. Depredaram instalações e carros de atletas, agrediram funcionários, roubaram celulares e queriam, ora vejam, bater nos jogadores. Eu tenho uma tese sobre violência que vocês conhecem. O sujeito primeiro decide ser delinquente — o que ele vai fazer é que é ditado pela oportunidade.
Essa é uma das razões por que é estúpida essa história de que descriminação das drogas reduz a violência. O traficante vai trabalhar com carteira assinada? Não! Vai mudar de ramo. O que estimula o crime é a impunidade. Mas não vou me desviar. Os bandidos que invadiram o CT do clube têm um pretexto: a má fase da equipe. Não fosse isso, iriam agredir outras pessoas, em outros lugares, por alguma outra razão que julgassem justa. Afinal, eles decidiram ser os juízes de uma causa e os executores da pena.
Ora, agiu de modo diferente boa parte daqueles que ocuparam as ruas em junho ou mais recentemente? Também eles — refiro-me, claro, aos não pacíficos — se sentem de tal sorte donos da verdade e pensam ser tão legítima a sua causa que decidem fazer justiça com as próprias mãos. É o mesmo espírito que leva sem-terra a depredar instalações de fazendas e laboratórios de pesquisa, que faz com que extremistas de esquerda disfarçados de estudantes emporcalhem uma reitoria ou que leva doidivanas com graus variados de ignorância a depredar um instituto que testa remédio em animais.
Torcedores enfurecidos não são exatamente uma novidade no Brasil. No dias que correm, no entanto, o risco de ações como a de domingo começarem a se tornar corriqueiras é grande. Há uma onda de incêndios a ônibus país afora. Só descontentamento com o serviço? Besteira! Usuários pobres não incendeiam os veículos porque sabem que sua vida tende a ficar mais difícil. Há um certo espírito no ar que leva pessoas a impor na marra a sua vontade. Infelizmente, quando o assunto envolve política, setores da imprensa tendem a ser simpáticos a esse vandalismo cidadão… É tolice achar que esse tipo de comportamento não salta para outras áreas.
O clima no futebol anda tenso. O tal movimento “Bom Senso” tem ensaiado uma greve há algum tempo. A CBF e associados se movem com agilidade paquidérmica. Nem vou entrar no mérito da coisa agora. O fato é que a violência perpetrada contra o Corinthians pode virar o gatilho a levar os jogadores à paralisação.
Leio a respeito e vejo que se fala em pedir proteção à PM. Certo! Um promotor decidiu convocar a polícia porque diz que ela tem de garantir a segurança dos ônibus. Entendo. Também tem a obrigação de assegurar a integridade dos patrimônios público e privado no caso das manifestações que degeneram em violência. Bem, daqui a pouco, em vez de 100 mil homens na ativa — eu escrevi 100 mil! —, a PM de São Paulo terá de contar com pelo menos 200 mil. Só na Grande São Paulo, há uns 20 mil ônibus circulando. Dá para meter um soldado em cada um? Acho que não…
Sim, claro, é preciso em cada caso desenvolver ações de inteligência para tentar descobrir onde se acoitam os vândalos etc. e tal. Mas com qual lei serão punidos? Na última manifestação violenta em São Paulo, no dia 25, foram presas, se não me engano, 170 pessoas. Horas depois, estavam nas ruas. Enquadrá-las exatamente em quê?
Clubes de futebol são entidades privadas. É claro que, nos casos de agressões flagrantes, a polícia tem de entrar em ação. Mas, convenham, não cabe à Polícia Militar, e a polícia nenhuma, fazer a segurança de clubes. Essa não pode ser mais uma obrigação a recair sobre os ombros da Secretaria de Segurança Pública. Terão de contratar segurança privada! Até porque mantêm uma relação de intimidade com torcidas organizadas.
E o Brasil? Como vai tratar os seus vândalos? Por enquanto, generaliza-se a sensação de que cada troglodita tem “o direito” de exercer a sua vontade pela força, recorrendo a métodos violentos. Na rua, no clube de futebol, na fazenda, na universidade, em qualquer lugar.
Um país não passa incólume por um tempo em que bandidos são tratados como heróis. Sem punições exemplares, a situação tende a piorar. É simples assim.