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Os patrulheiros transformam até Bethania e Chico Buarque em manifestações folclóricas

Por que o politicamente correto é uma manifestação de estupidez e censura? Porque os patrulheiros abandonam o eventual objeto do debate ou análise e passam a julgar as motivações do crítico. Ainda que o objetivo daquele meu post de ontem, tirando uma casquinha da capoeira, fosse mais divertir do que dar início a uma peleja […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h31 - Publicado em 21 mar 2011, 17h26

Por que o politicamente correto é uma manifestação de estupidez e censura? Porque os patrulheiros abandonam o eventual objeto do debate ou análise e passam a julgar as motivações do crítico. Ainda que o objetivo daquele meu post de ontem, tirando uma casquinha da capoeira, fosse mais divertir do que dar início a uma peleja intelectual, é claro que há lá uma constatação objetiva, que pode ser debatida, independentemente do meu gosto pessoal: é mentira que essa dança, ou luta, tenha a importância que lhe atribuem, a ponto de visitantes ilustres serem submetidos duas vezes a uma apresentação.

Digamos que a capoeira tenha sido, mesmo!, uma das formas de resistência dos escravos — se foi, haja ineficiência!; o Brasil ficou na rabeira na extinção da escravatura! —, e daí? O que ela diz hoje do que nós somos? Isso na hipótese de que é possível dizer a um visitante estrangeiro: “Somos isso”! Deve haver mais gente que joga críquete no país… Dar relevância a esse tipo de coisa como traço de formação da nossa cultura é tentar submeter a história a uma espécie de regressismo a partir de alguns marcos que são nada mais do que escolhas de natureza ideológica. Na Cidade de Deus mesmo, aposto o que quiserem, há mais moleques interessados no rap e no funk — importados duzamericânu — do que na capoeira.

Meu post, em suma, no que tinha de sério, chamava a atenção para essa superestimação. A capoeira não deixa de fazer parte da “bundalização” da cultura brasileira; o “traseiro” de exportação seria o nosso lado sensual; a luta de exportação, a resistência dos oprimidos. O Brasil de verdade, no entanto, não se define nem pelos traseiros fartos nem pela ginga manemolente.

Mas que se dane o objeto em debate, certo? É preciso inventar uma nova categoria para censurar a palavra alheia. Assim, uma crítica dessa natureza passa a ser “reacionária”, “de direita”. É coisa de vigaristas intelectuais, de pilantras, de fascistóides. Os patrulheiros querem ser os donos da agenda e determinar o que é e o que não é legítimo debater. Querem ver?

Como foi que Jorge Furtado reagiu às críticas à decisão de premiar o Blog da Bethania com capilé oficial? Em tempo: Furtado é aquele cineasta que vê São Paulo como um enclave da cultura branca, de direita, o que quer dizer que os paulistas devemos nos abster de aborrecê-lo assistindo a seus filmes no cinema ou a seus especiais na TV. Muito bem: qual foi a reação dele?
– NÃO DEBATEU SE A CONCESSÃO ERA JUSTA OU NÃO.
– NÃO DEBATEU SE A REMUNERAÇÃO ERA JUSTA OU NÃO.
– NÃO DEBATEU SE OS CRITÉRIOS DE CONCESSÃO FAZIAM OU NÃO SENTIDO.
– NEM MESMO LEU O PROJETO!

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Numa manifestação de impressionante vigarice intelectual, preferiu colar uma pecha nos críticos: “direita branca!” E pronto! O mesmo aconteceu com Chico Buarque, que surrupia Jabutis. Algumas coisas estavam em debate, outras não! Por exemplo: ninguém questionava as suas qualidades de compositor de MPB. O que estava em tela eram os critérios da premiação literária e, sim!, a partir de um determinado momento, as qualidades de seus romances.

Ah, só conservadores, direitistas, reacionários no geral ousariam pôr em questão as concessões a Maria Bethania ou a premiação da obra de Chico Buarque. O conteúdo da crítica que se dane! É preciso dizer que o crítico não tem legitimidade para fazê-la. A patrulha pretende definir o que pode e o que não pode ser discutido. Se preciso, até cantores de MPB passam por um processo de folclorização para que possam ser postos acima do bem e do mal. Bethania e Chico — ele muito especialmente — seriam heróis de uma momento de resistência da cultura e da política, o que lhes conferiria um sentido superior, acima da expressão de suas respectivas obras.

Até aí, vá lá, acho que tal defesa poderia ser feita — ainda que eu considere uma abordagem estúpida — com um mínimo de honestidade intelectual. Defendam que “patrimônios da cultura brasileira” como a capoeira, Chico Buarque e Maria Bethania são intocáveis. Outros tantos dirão o contrário. Mas não! Os fascistóides não se conformam com a divergência e precisam encontrar nos críticos motivações subalternas, alheias ao objeto de confronto.

Não aqui! Capoeira, Bethania, Chico Jabuti, Obama ou o papa, tudo será submetido a exame. Os candidatos a delegados da Polícia das Consciências podem rosnar à vontade.

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