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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Os amores e os ódios de dom Balduino, este estranho “homem de Deus”

Há dois dias escrevi aqui sobre as maluquices de dois padres — Júlio Lancelotti e um outro aí — que decidiram se opor à internação involuntária de viciados em São Paulo, embora o programa, que cumpre previsão legal, esteja cercado de todos os cuidados técnicos e garantias democráticas. Por que os dois fazem isso? Porque […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h00 - Publicado em 25 jan 2013, 19h24

Há dois dias escrevi aqui sobre as maluquices de dois padres — Júlio Lancelotti e um outro aí — que decidiram se opor à internação involuntária de viciados em São Paulo, embora o programa, que cumpre previsão legal, esteja cercado de todos os cuidados técnicos e garantias democráticas. Por que os dois fazem isso? Porque têm, vamos dizer assim, ideias na cabeça que passam muito longe dos fundamentos do catolicismo e da outra Constituição que deveriam seguir: os fundamentos no Novo Testamento.

No dia 23, a Folha publicou um artigo assinado por Dom Tomás Balduino, 90 anos (se escrito por ele, isso já não sei), que é nada menos do que um libelo contra a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Vamos ver. Divergir desse ou daquele é parte do jogo democrático. O ataque gratuito, saído do nada, apelando a calúnias já desmoralizada pelos fatos e pela Justiça, bem, isso é outra coisa. A senadora, presidente da Confederação Nacional da Agricultura do Brasil (CNA), não foi atacada por dom Balduino por ter feito isso ou aquilo, mas por ser quem é: líder de um setor da economia — o único da área produtiva que exibe números realmente virtuosos. E sem ter o BNDES como babá.

Dom Tomás é bispo emérito de Goiás e “conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra”, de que já foi presidente. As “pastorais” são o que já chamei aqui de “herança maldita da Escatologia da Libertação”. Na sua militância, substituem os fundamentos do cristianismo — e, particularmente, do catolicismo — pela velha e boa (para os militantes) luta de classes. Poucos setores demonizam tanto o a produção rural, por exemplo, como essa ala da Igreja. Padres e bispos católicos deveriam ter como mandamento “dar pão a quem tem fome”. Fazem, nesse caso, o contrário: preferem a fome desde que ela esteja de acordo com o que acham ser “justiça”.

Dom Balduino, com o seu entendimento muito particular do que seja justiça, já foi tema deste blog muitas vezes. Em 2009, confesso, ele consegue deixar chocado até este blogueiro, que espera as piores coisas desse setor da Igreja. O noticiário internacional dava conta da penca de filhos que o então presidente do Paraguai, Fernando Lugo, havia tido na clandestinidade, quando era nada menos do que bispo — filhos que, evidentemente, não haviam sido reconhecidos. Dom Balduino não hesitou: trocou a Teologia da Libertação pela Teologia da Inseminação e emprestou seu total apoio ao “amigo”. Mais: acusou uma conspiração contra o Lugo e ainda acusou a mídia, claro!!! Deu a impressão de que os inimigos de Lugo o forçaram a se deitar com parcela significativa da população feminina do Paraguai. No trecho mais impressionante da carta, Dom Balduino exaltou a quebra dos votos de castidade do outro e sua prolífica militância. Assim: “Continue assim, caro Irmão, coerente com a inspiração evangélica, ao testemunhar, com clarividência e humanidade, o inestimável valor do relacionamento entre o homem e a mulher”.

Ainda que padre transando com mulher não seja a pior notícia que pode ter a Igreja, é evidente que a carta de dom Tomás é pura delinquência teológica e política.

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O que isso tem a ver?
Aí alguns mais inocentes poderiam perguntar: “O que isso tem a ver com o caso de agora, Reinaldo?”. Tudo! Dom Balduino é do tipo que santifica os seus amigos, pouco importando as transgressões que tenham praticado (ele as transforma, como se vê, em virtudes), e que demoniza aqueles que considera adversários, pouco importando se têm ou não virtudes. E isso está demonstrado por sua trajetória e militância.

As acusações
O artigo de Balduino está ancorado num texto publicado pela notória Carta Capital, com o apreço e o amor à verdade que há por lá. Acusa Kátia Abreu de ter expulsado um agricultor de sua terra e de ter se apropriado de área pública. Os documentos que existem a respeito do caso desmentem uma coisa e também outra — tudo submetido ao crivo da Justiça.

Balduino afirma ainda outras barbaridades sobre assunto que conhecemos bem, os que somos deste blog. Quando o Supremo tomou a decisão sobre Raposa Serra do Sol — decisão lastimável no mérito (e nós estávamos certos; só cresceu miséria por lá ) —, estabeleceu 20 condicionantes para aquela área e para a demarcação de futuras terras indígenas. O bispo, com um desapreço pela verdade só superado pelas ignomínias que disse no elogio a Lugo, atribui tal decisão a Kátia Abreu. É mesmo um troço espantoso!

Estudiosos tentam entender as razões do declínio da Igreja Católica no Brasil — e está em declínio, é inútil negar. Deriva, não tenho dúvida, entre outras causas, do fato de que muitos religiosos passaram a ignorar o dogma da Cruz em favor do da luta de classes. O pior é que acabam com um entendimento prejudicado das duas coisas. Os marxistas originais, vá lá, achavam que era preciso superar o capitalismo para chegar ao socialismo — e àquilo que entendiam ser o bem-estar coletivo. O comunismo dos padres é coisa mais primitiva mesmo. Eles parecem ter uma atração fatal pela socialização da miséria. A exemplo daquela turma da Alana, eles também não gostam do… consumismo… É o caso de Lancelotti. Esse homem não pode ver um miserável que logo cai de joelhos.

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Leiam a resposta que Kátia Abreu deu a dom Balduino, também na Folha:

Li, com surpresa, nesta Folha, um texto rancoroso e eivado de fúria acusatória e caluniosa (“Apreensão no campo” ), assinado pelo bispo emérito de Goiás Velho, dom Tomás Balduino, atribuindo-me pecados que não cometi.

Como católica praticante, jamais imaginei um dia polemizar com um representante da mais alta hierarquia da fé que professo. Mas a fé que professo não parece ser a mesma que a dele. As palavras que me dirigiu não foram de um cristão.

Minha fé não é a do ódio revolucionário, que incita o conflito e trata como pecadores os que dele divergem ideologicamente. É a fé que o papa Bento 16, em seu livro “Jesus de Nazaré, da Entrada em Jerusalém à Ressurreição”, proclama como sendo a da paz.

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“A violência”, diz o papa, “não instaura o Reino de Deus, o Reino da Humanidade. É, ao contrário, instrumento preferido do Anticristo. Mesmo com motivação religiosa idealista, ela não serve à humanidade, mas à inumanidade”.

Não há mistura mais letal que a da política com a religião. O fundamentalismo é, em si, antirreligioso. Os católicos da Irlanda, em nome de sua fé –que seguramente não é a de Cristo–, usaram o terrorismo e o sangue de inocentes como arma política, em nome de Alguém que resumiu sua doutrina numa frase: “Amai-vos uns aos outros”.

Minha mais remota lembrança de dom Tomás é diametralmente oposta ao espírito de seu artigo. Remonta a um tempo anterior à criação do meu Tocantins, então integrado a Goiás.

Ele, ainda padre, ensinava, num Sermão das Sete Palavras, na Sexta-Feira da Paixão, que Jesus, ao pedir ao Pai que perdoasse seus algozes, “pois não sabiam o que faziam”, mostrava a importância de interceder não só pelos amigos, mas sobretudo pelos inimigos.

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Ao que parece, algo mudou na transição de padre Tomás para o bispo dom Balduino. Invoco, pois, o espírito cristão do padre para responder ao bispo, com absoluta serenidade, as imputações que me faz –a mim e a meus irmãos Luiz Alfredo e André Luiz. Mesmo perdoando-o desde já, cumpro o dever de desmenti-lo.

Não é verdade, dom Balduino, que tenha perseguido, despejado e feito perseguir “por 15 policiais armados” um pequeno agricultor em Campos Lindos, Tocantins. Tratava-se do grileiro Juarez Vieira, cuja crônica de violências e maldades qualquer morador da região atestará. Obtive na Justiça reintegração de posse de terra de minha propriedade legítima.

Não é verdade também que a tenha recebido de “mão beijada”. Adquiri-a em moeda corrente e a preço justo, como os demais fazendeiros. Era área inóspita e desabitada; hoje, é a internacionalmente conhecida região do Mapito, referência de produtividade em soja, milho e algodão, com infraestrutura bancada pelos produtores pioneiros.

Outra injúria atinge meus dois irmãos. O bispo acusa Luiz Alfredo de grilagem e André Luiz, de promover trabalho escravo. Mas Alfredo adquiriu com recursos próprios as terras que possui, devidamente documentadas. E André jamais foi proprietário da fazenda citada pelo bispo.

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Apenas alugou dois tratores, sem os tratoristas, para o proprietário, nada tendo a ver com as denúncias, que não o envolveram. É, inclusive, funcionário do Ministério Público do Trabalho, onde jamais foi questionado.

Esclareço também que não sou responsável pela decisão da Advocacia-Geral da União de estender as condicionantes da demarcação de Raposa Serra do Sol às demais terras indígenas. Foi o Supremo Tribunal Federal que assim o determinou.

Sem seu grau de santidade e sabedoria, não lhe devolvo as insolências. E se for o caso de terminar com uma citação, tomo, com respeito, a palavra do Senhor, no Antigo Testamento: “Não darás falso testemunho contra o teu próximo” (Êxodo, 20, 16).

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