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O texto que Luiz Nassif fez de cócoras

Leitor, trata-se de um texto longo, que começa com um “Reinaldão” e termina com dois legítimos “Diogo Mainardi”. No meio, Luiz Nassif. Parece divertido ao menos. Vamos lá? Quem levou o caso das apostilas do COC para, vá lá, a grande imprensa fui eu. Tanto quanto meu blog, hospedado na VEJA On Line, é grande […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h23 - Publicado em 14 jun 2007, 07h14
Leitor, trata-se de um texto longo, que começa com um “Reinaldão” e termina com dois legítimos “Diogo Mainardi”. No meio, Luiz Nassif. Parece divertido ao menos. Vamos lá?

Quem levou o caso das apostilas do COC para, vá lá, a grande imprensa fui eu. Tanto quanto meu blog, hospedado na VEJA On Line, é grande imprensa… Um leitor me mandou o link do site Escola Sem Partido. Mirian Macedo, mãe de uma aluna, relatava alguns disparates contidos no material didático. Li a história, achei o caso importante, fiz um post — reproduzindo, inclusive, o artigo (no dia 1º de junho) — e liguei para a VEJA: “Olhem, isso parece interessante”. A redação achou que merecia uma reportagem. E assim se deu. Todas as personagens relevantes são ouvidas: a mãe, um representante da escola e um do COC. À revista, a direção do sistema informou que vai fazer uma revisão do material didático. O dono do grupo foi enfático: “Erramos mesmo”. Alguma dúvida?

Eis que um leitor me manda a transcrição de um post do Blog de Luiz Nassif. Lê-se o que vai em vermelho:

Confesso que não entendi direito a matéria, acho que na “Folha”, falando da mãe que resolveu denunciar o material didático do sistema COC de ensino. Depois, a análise de um especialista mostrando que, fora alguns problemas menores de linguagem, o material era correto.
Agora me falaram que a matéria foi dada na Veja. Fui ler. Intertítulo: “Mirian com a filha, Luísa: indignada com os erros factuais e com a doutrinação esquerdista”.
Segue-se uma longa catilinária, com uma conclamação para que colégios deixem de utilizar o material do COC. “O colégio onde estuda a filha reagiu com coragem e correção. Não renovou o contrato com o COC e mandou tirar de sua própria apostila o texto em questão”. Depois, críticas genéricas de especialistas contra a má qualidade dos livros didáticos, mas sem deixar claro se são críticas genéricas ou específicas.
Faltou à matéria informar que a Editora Abril, através de duas editoras que adquiriu nos últimos anos, é concorrente direta do COC no fornecimento de material didático às escolas; que a matéria favorece a Abril nessa disputa; que a defesa do COC aparece em apenas uma frase do proprietário.
Eis aí uma das facetas mais perigosas dessa concentração de poder na mídia. Pode-se utilizar a notícia como ferramenta empresarial para sufocar concorrentes, sem o risco desse tipo de posição ser questionada por outros veículos.

Voltei
Lá vou eu garantir um pouco de trânsito para Luiz Nassif. Entrei no seu Blog só para ver se o post realmente estava lá. Estava. Ontem, ele recebeu, ao todo, 95 comentários, o que dá conta da sua importância no debate. É o que jogo fora, por hora, de comentários de petralhas. Tal irrelevância foi construída de maneira meticulosa — provavelmente com textos soberbos como o que vai acima: desinformado e inepto. Eu desafio Nassif a provar que eu esteja a serviço de uma briga entre empresas que produzem material didático, mas não é difícil evidenciar que ele usa release de empresário como se fosse texto de sua autoria. E isso ainda é o de menos. Já chego lá.

Antes, a seu texto:
1 – Ele escreve sobre algo que confessa não ter entendido direito;
2 – A matéria da Folha, de fato, é muito ruim porque cita apenas uma das distorções do material — sobre o apoio da Igreja à escravidão. Não ouve “especialista” coisa nenhuma, e sim um padre da Teologia da Libertação;
3 – Mesmo assim, é mentira que ele tenha dito que o material está correto. Até porque ele aborda apenas a questão da Igreja. O “material” é bem mais amplo;
4 – O que Nassif chama de “intertítulo” na reportagem é uma legenda;
5 – A reportagem não é uma “longa catilinária”; é curta: 3.854 toques;
6 – Nassif, vejam só, nega o erro — que o próprio dono do sistema admite;
7 – Nassif omite que o COC, antes de admitir os erros, havia entrado na Justiça contra a mãe e contra o site “Escola Sem Partido”. Ambos tiveram garantido o direito de publicar a crítica.

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A delinqüência petralha, claro, já mandou comentários pra cá, comprando a versão da disputa comercial. Relembro algumas das pérolas que a corajosa Mirian Macedo aponta em seu artigo. Se Nassif quiser, a gente pode marcar um debate: ele defende o ponto de vista das apostilas. Eu combato. Vamos a algumas (apenas algumas) das bobagens relatadas por Mirian:

Sobre o papel da mulher – “O progresso técnico aplicado à agricultura (…) levou o homem a estabelecer seu domínio sobre a produção agrícola em detrimento da mulher”.

Classes sociais no pós-neolítico – “Estas transformações provocaram a dissolução das comunidades neolíticas, como também da propriedade coletiva, dando lugar à propriedade privada e à formação das classes sociais, isto é, a propriedade privada deu origem às desigualdades sociais – daí as classes sociais – e a um poder teoricamente colocado acima delas, como árbitro dos antagonismos e contradições, mas que, no final de tudo, é o legitimador e sustentáculo disso: o Estado”.

O dilúvio – O “dilúvio seria enviado por Deus, como castigo às cidades de Sodoma e Gomorra”.

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O que vai acima é exemplo de puro besteirol, digamos, factual. Mas há também os muitos exemplos de doutrinação ideológica. Com efeito, a matéria da Folha, que pautou a hipótese conspiratória de Nassif, ignorou o essencial e se contentou com a máxima de que toda pendenga tem dois lados. Bom, todo mundo tem o direito de achar que Deus mandou o dilúvio para acabar com a sem-vergonhice de Sodoma e Gomorra. É um lado: o da ignorância. É, o governo Lula recomendaria ao Altíssimo só uma política de “redução de danos”…

Na única questão que interessou à Folha, Mirian contestou, de modo irretocável, esta passagem, entre outras de marxismo chulé: “Sabemos que a história é escrita pelo vencedor; daí o derrotado sempre ser apresentado como culpado ou condições de inferioridade (sic). Podemos tomar como exemplo a escravidão no Brasil, justificada pela condição de inferioridade do negro, colocado (sic) como animal, pois era ‘desprovido de alma’. Como catequizar um animal? Além da Igreja, que legitimou tal sandice, a quem mais interessava tamanha besteira?

A inculta e bela, como vocês vêem, já mereceria um tratado. Mirian lembrou, com propriedade, que, “em 1537, o Papa Paulo III publicou a Bula Veritas Ipsa (também chamada Sublimis Deus), condenando a escravidão dos ‘índios e as mais gentes’.” A simples omissão desse dado constitui falha da apostila. O que é educar? Com efeito, é transmitir um conteúdo, tão objetivo quanto possível, e provocar a reflexão dos alunos. É inegável a tolerância da Igreja Católica com a escravidão, mas que se fale, por exemplo, de Padre Vieira no Brasil e suas censuras severas aos senhores de engenho. Como isso era possível? Há de haver alguma explicação. É ela que interessa. Tratar, por exemplo, das diferenças entre a orientação oficial da Igreja e a ação dos jesuítas na colônia portuguesa é, com efeito, ensinar história. O trecho da apostila é só uma estupidez, uma declaração de princípio, vazada em péssimo português. Mas não é irrelevante: ao evitar os matizes, estimula os estudantes a ser judiciosos com o passado — julgando-o com os olhos do presente.

Nassif, obviamente, ignora todos esses aspectos e prefere inventar uma história: VEJA teria feito a reportagem a serviço de uma disputa comercial, que, de resto, é só uma fantasia de seus delírios conspiratórios. Não age por acaso. Ao pôr aquele texto sob suspeição, pretende fazer o mesmo com todas as matérias da revista. Renan Calheiros, Vavá e Zuleido, entre outros moralistas, lhe ficam muito gratos. Seria ridículo eu ficar defendendo VEJA aqui. Isso é feito por milhões de leitores a cada semana. Falo por mim. Sou muito zeloso da minha independência para que alguns me avaliem por seu metro.

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Depois que vim para a VEJA, como já disse, um monte de gente oferece o traseiro para que eu chute. Costumo ignorar porque não tenho tempo pra isso. Preciso trabalhar. Não ganho dinheiro fazendo lobby para empreiteira. Mas, às vezes, acho que é o caso de responder. São mais de duas da manhã de quinta. Enquanto Nassif dorme o sono dos que têm biografia impoluta, fico aqui conspirando a serviço de uma guerra comercial. Hoje Nassif arrebenta a boca do balão. Os que lêem este blog talvez passem lá para ver se ele responde alguma coisa. Se responder, esperarão a tréplica (tou bem animado!). E assim vai. Até eu ficar enjoado dele.

Em nome da Editora do Reinaldão, aceito um debate público com Nassif. Ele sustenta que o surgimento das classes sociais pôs fim ao neolítico, e eu vou afirmar que ele é maluco. O encontro poderia ser na reitoria da USP. Talvez lá ele tenha alguma chance.

Por fim, já que o assunto é independência, relembro duas colunas de Diogo Mainardi. Quando ele as escreveu, Nassif ainda era colunista na Folha. Não é mais. A culpa, claro, não é nem de Diogo nem de VEJA.

Chega de ética, Nassif
13/08/2005

Sou um conspirador. Um conspirador da elite. Quero derrubar Lula. Só não quero ter muito trabalho. Quero derrubar Lula sem sair de casa. Quase deu certo na semana passada. Telefonei para o deputado José Janene. Ele reconheceu que José Dirceu comandou o esquema de compra de deputados por parte do governo. Foi a primeira vez que um dos envolvidos nas denúncias do mensalão acusou o Palácio do Planalto de distribuir dinheiro sujo a parlamentares. Janene pediu que eu publicasse a notícia em off, sem citá-lo. Não aceitei. Não sou padre, que ouve confissão calado. Dedurei Janene. O Jornal Nacional procurou-o na segunda-feira, para confirmar o conteúdo da entrevista. Janene preferiu não se manifestar. Como não gravei nossa conversa, o assunto morreu. O maior sucesso de minha atividade como conspirador falhou miseravelmente. Decidi começar a gravar meus telefonemas. Virei o Juruna da imprensa. Gravo tudo no aparelho de karaokê de meu filho. Quero derrubar Lula, mas só vale se for desse jeito: sem sair de casa e com o karaokê da Chicco. Derrubar Lula de qualquer outra maneira seria conferir-lhe um crédito exagerado.

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O deputado Janene reprovou minha atitude. Disse que quebrei o código de ética do jornalismo. Outra autoridade em matéria de ética, que se sentiu no direito de me passar um pito, foi Luis Nassif, colunista de economia da Folha de S.Paulo. Ele escreveu: “Para combater a falta de escrúpulos do governo, agora, chega-se a atropelar até valores sagrados da imprensa, como o instituto do off the record. Em uma coluna, em revista de larga circulação, o autor se vangloria de ter passado a perna em um deputado, prometendo-lhe manter uma declaração em off e não cumprindo a promessa”. Isso foi publicado na última quinta-feira.

Na quinta-feira da semana anterior, Nassif deu um perfeito exemplo de ética jornalística. Num artigo sobre Daniel Dantas, ele reproduziu palavra por palavra, sem citar o autor, uma mensagem enviada a diversos jornalistas por Luiz Roberto Demarco. Demarco não é o que se poderia definir como uma fonte isenta. Pelo contrário: ele está processando Dantas na Justiça, numa ação bilionária. Como se pode notar, Nassif é um jornalista ético, que sabe preservar suas fontes. Ele é tão cioso de sua responsabilidade que decidiu copiar até mesmo os erros de grafia da mensagem original de Demarco, como o nome do presidente da Portugal Telecom no Brasil, Shakhaf Wine, chamado por ambos de Shakaf Wine.

Além da coluna na Folha de S.Paulo, Nassif tem também um site de notícias, que foi financiado com empréstimos do BNDES. Um dos patrocinadores do site é o próprio BNDES, coincidentemente o maior acionista da Telemar, concorrente direta de Dantas. Não surpreende que um paladino da ética como Nassif tenha defendido a compra, por parte da Telemar, da produtora de fundo de quintal do filho de Lula, Fábio Luís. Outro importante patrocinador do site de Nassif é a Odebrecht, cujo fundador mereceu um panegírico apaixonado numa coluna recente. Nassif me deu uma lição de ética. Janene me deu uma lição de ética. Lula afirmou que não existe ninguém mais ético do que ele. Eu não aceito lição dessa gente. O Brasil tem off demais. Tudo o que se faz aqui é em off. Esta não é a hora do off. É a hora de abrir o jogo, de contar tudo, de falar a verdade.

O empresário Nassif
22/08/2005

É bom brigar. É um prazer brigar. Prefiro brigar quando não tenho razão. Quando não tenho argumentos. No caso de minha briga com Luis Nassif, colunista da Folha de S.Paulo, estou coberto de razão. Estou cheio de argumentos. Não preciso enfiar dedo no olho. Não preciso recorrer a golpes baixos. Quase não tem graça brigar com ele.

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Quem começou tudo foi Nassif. Ele me recriminou porque dedurei uma fonte. Respondi na coluna da semana passada, desmerecendo sua autoridade moral. Na última terça-feira, ele fez a bobagem de retomar o assunto, num artigo intitulado “O caso Mainardi”. No artigo, ele me define como um “showman”, um parajornalista. Não sei como definir Nassif. Ele é jornalista, mas é também dono de um site de economia. A função de jornalista não é inteiramente compatível com a de empresário. O empresário Nassif lucra com o patrocínio oferecido por uma empreiteira ao seu site. O jornalista Nassif elogia a empreiteira em sua coluna, citando-a como exemplo de “gestão inovadora”. O empresário Nassif recebe dinheiro de um banco oficial para seu site. O jornalista Nassif defende o banco oficial em sua coluna.

No artigo da semana passada, acusei Nassif de reproduzir informações fornecidas por uma fonte suspeita. No caso, Luiz Roberto Demarco, que usou Nassif para defender seus interesses contra Daniel Dantas. Nassif copiou integralmente uma mensagem que Demarco mandou a vários outros jornalistas, sobre as negociações entre o banco Opportunity e a Portugal Telecom.

Demarco:
Participaram das negociações pelo lado do Opportunity, Daniel Dantas, Carlos Rodemburg, Artur Carvalho, Veronica Dantas, Francisco Mussnich. Pelo lado da Portugal Telecom, entre outros, Carlos Vasconcellos, o chefe mundial de investimentos da PT, Eduardo Amaral Lyra Neto, ex-presidente da PT Brasil, e Shakaf Wine, atual presidente da PT, e na época advisor de investimentos.

Nassif:
Pelo lado do Opportunity, participaram das negociações Daniel Dantas, Carlos Rodemburg, Arthur Carvalho, Verônica Dantas, Francisco Mussnich. Pelo lado da Portugal Telecom, entre outros, Carlos Vasconcellos, chefe mundial de investimentos da PT, Eduardo Amaral Lyra Neto, ex-presidente da PT Brasil, e Shakaf Wine, atual presidente da PT e na época “advisor” de investimentos.

Para provar que Nassif copiou a mensagem de Demarco sem conferir seu conteúdo, chamei atenção para o fato de que ambos grafaram errado o nome de Shakhaf Wine. Se for para ser implicante, se for para enfiar o dedo no olho, digo que eles grafaram errado também o nome de Carlos Rodenburg. Pior: chamaram o então presidente da Portugal Telecom, Eduardo Correia de Matos, de Eduardo Amaral Lyra Neto. Nassif garante que consultou a Portugal Telecom antes de publicar seu artigo. Duvido. A Portugal Telecom teria corrigido ao menos o nome de seu presidente.

Nassif deu a entender que minha coluna estava relacionada a um encarte publicitário de uma empresa de Dantas, veiculado “com exclusividade” em VEJA. Na verdade, o encarte foi veiculado também pelo jornal Valor, cujo dono é o mesmo da Folha de S.Paulo. A mensagem de Demarco, diligentemente copiada por Nassif, acusa Dantas de usar Marcos Valério para repassar dinheiro ilícito à camarilha que apóia o governo Lula. Nesse ponto – só nesse ponto – o empresário endividado num banco oficial Nassif preferiu ignorar sua fonte. Deve ser uma questão de ética jornalística.

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