O SANGUE DO HOMEM E O SANGUE DO BOI
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, deve proferir hoje o seu voto no caso Battisti. Se votar contra a extradição, leva o placar para 5 a 4 em favor da permanência do assassino no Brasil como refugiado. Nessa condição, o governo brasileiro pode até dar ajuda material a este humanista reformador de mundos. […]
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, deve proferir hoje o seu voto no caso Battisti. Se votar contra a extradição, leva o placar para 5 a 4 em favor da permanência do assassino no Brasil como refugiado. Nessa condição, o governo brasileiro pode até dar ajuda material a este humanista reformador de mundos. Se votar a favor, o 5 a 4 será pela extradição. No voto de Cezar Peluso, até agora endossado por três ministros, é explícita a avaliação de que Lula tem de enviar o criminoso para seu país de origem porque está obrigado a seguir o Tratado de Extradição que existe entre Brasil e Itália. Battisti também responde por uso de documento falso no Brasil. O máximo de protelação pela qual Lula poderia optar seria decidir que, primeiro, ele tem de ser julgado pelo crime cometido aqui.
Battisti está em greve de fome. Este senhor é mesmo quem é. Estaria escolhendo, assim, voluntariamente, a morte que, para suas vítimas, foi compulsória. Este senhor é uma dessas pessoas que me fazem ter piedade, sim. Mas sinto piedade é da condição humana, não dele.
Vejam de novo a foto asquerosa publicada aqui ontem.
Sentem um cheio estranho? Sentem um cheiro de pólvora e sangue humano — que, segundo um primo médico, não é muito distinto do cheio que tem a carne crua de boi, quando a manipulamos?
Porque, leitor, com efeito, não há grande diferença entre a carne e o sangue de um homem e a carne e o sangue de um boi. E há quem mate homens como se matam bois. Há até quem mate homens, embora considere uma barbaridade que se matem bois. Se você não reconhece que o outro é dotado de direitos e não pode, pois, ser eliminado como parte de suas fantasias de justiça, então você mata. Está aí a essência do chamado “crime político” numa democracia: o outro é bicho, é coisa!
O carne e o sangue do homem, nesse caso, passam a ser como a carne e o sangue do boi ou do cordeiro servido em holocausto. Para um agnóstico, os direitos os distinguem. Para um religioso, além dos direitos, também a alma. Já o assassino vê no boi e no homem apenas um propósito: o seu propósito.
O cheiro que a foto exala vem do sangue das personagens ocultas sob a sola dos sapatos daqueles patriotas. É o sangue derramado de Antonio Santoro, Pierluigi Torregiani, Lino Sabadin e Andrea Campagna, os homens que Battisti matou.
Battisti e seus amigos da foto, certamente, jamais matariam bois.