O PT supostamente limpinho está na base do proselitismo pró-Haddad
No texto abaixo, ao comentar uma opinião de Fernando de Barros e Silva, colunista da Folha, contesto a ilusão, o erro ou a avaliação ideológica de que o PT é essencialmente bom, mas está sendo corrompido pelos aliados. Essa questão é mais relevante do que parece! Na verdade, ela é central. Silva é apenas um […]
No texto abaixo, ao comentar uma opinião de Fernando de Barros e Silva, colunista da Folha, contesto a ilusão, o erro ou a avaliação ideológica de que o PT é essencialmente bom, mas está sendo corrompido pelos aliados. Essa questão é mais relevante do que parece! Na verdade, ela é central. Silva é apenas um de uma miríade de jornalistas, analistas e “petistas do bem” que entendem que este partido que aí está é só o “PT real”, distinto do “PT ideal”. Isso remete, é evidente, àquela antiga tolice que sustentava que o socialismo soviético era uma cerda porque não era o verdadeiro…
Essa arquitetura intelectual sustenta hoje, por exemplo, a pré-candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo — não estou dizendo que Silva esteja engajado nela; se e quando achar, digo. Um prosélito da causa, como o jornalista Eugênio Bucci, insiste, noves fora o glacê retórico, na natureza essencialmente boa do PT, supostamente desvirtuada por autoritários, aproveitadores e malfeitores de dentro e de fora. A cada vez que o vejo a fazer profissão de fé na liberdade de imprensa, mas justificando a metafísica petista, eu me dou conta de que ele pode não ser um grande argumentador, mas é um excelente prestidigitador. Alguns bobos se satisfazem: “Vejam, um petista e esquerdista que não quer nos censurar”. Posso me dispensar de lhe ser grato por defender o que a Constituição me garante?
Sim, Haddad está sendo oferecido — e Bucci é uma espécie de embaixador da causa junto aos “conservadores” — como a renovação do PT e a face moderna, tolerante e pluralista do partido; sempre com a suposição de que isso devolve a legenda à sua real natureza. Uma ova! Este senhor tem um trabalho do Ministério da Educação, ainda a ser devidamente caracterizado, e, vá lá, é dono de uma obra, em que defende idéias — entre outras, fez a apologia do socialismo soviético pouco antes de ele desmoronar.
Será mesmo um PT limpinho, porém nascido de um dedaço de Lula, que atropela até mesmo a democracia interna do partido? É essa a face nova, ética e moderna do PT? Se Haddad é mesmo outra coisa, consegue ser, então, um retrocesso.