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O CCC – Comando de Caça aos Crucifixos

Andei respondendo a alguns leitores no próprio espaço de comentário. Seria conveniente não ficar repetindo argumentos. É chato vir com coisas como: “Ah, quer dizer, então, que, se um juiz quiser colocar uma Pombajira na sua sala…” É chato porque isso já foi respondido. Que eu saiba, não há problema nenhum! Aliás, houvesse alguém que […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 17h09 - Publicado em 6 ago 2009, 18h19

Andei respondendo a alguns leitores no próprio espaço de comentário. Seria conveniente não ficar repetindo argumentos. É chato vir com coisas como: “Ah, quer dizer, então, que, se um juiz quiser colocar uma Pombajira na sua sala…” É chato porque isso já foi respondido. Que eu saiba, não há problema nenhum! Aliás, houvesse alguém que recorresse contra uma eventual Pombajira (existe imagem da dita-cuja?) ou similar, haveria uma grita formidável: “Preconceito! Racismo! Discriminação!” Lá vou eu de novo — e não dá pra ignorar este aspecto que está no primeiro texto: uma coisa é tornar o crucifixo presença obrigatória numa repartição; outra, distinta, é ele existir ali como uma dado ou expressão da cultura e mesmo da religiosidade predominante da NAÇÃO brasileira, ainda que o estado seja laico. O Estado é um dos entes do país, mas não é o país todo. Empreender, agora, o Comando de Caça ao Crucifixo em nome do estado laico corresponde a usar uma causa boa, o laicismo do Estado, para justificar a ação ruim: a perseguição.

Mas eu não seria eu se não dissesse tudo o que penso, não é? O fato de eu não ver, em si, problema numa Pombajira não significa que eu reconheça o crucifixo e a Pombajira como termos coordenados, equivalentes, permutáveis. Não sou aqueles franceses que proibiram o véu e o crucifixo. Nada há de preconceito no que vem, mas de matéria de fato: o crucifixo tem uma importância na formação cultural, moral, ética e religiosa dos brasileiros que a Pomba Gira – ou qualquer outro símbolo, ícone ou conceito religiosos – não tem. Segundo a crença de cada um, podem até ser iguais. Mas a história os fez diferentes.

Não só isso. O crucifixo restou na parede, muitas vezes — aliás, acredito que na esmagadora maioria das vezes — como herança dos valores de justiça e igualdade que o cristianismo, em sua essência, condensa. Não se trata de uma escolha ativa. Mas pôr a Pombajira ou outro símbolo religioso qualquer seria, aí sim, a expressão afirmativa de uma identidade, indicando uma escolha que, por óbvio, não coincide com a da maioria. Quantos juízes se lembram que, muitas vezes, são encimados por um crucifixo, ali presente quase como parte dos móveis da sala? Já um juiz saberia muito bem por que ostentaria uma Pombajira.

Desprezar a centralidade que a questão cultural exerce nesse debate é fazê-lo girar em falso e produzir obscurantismo. Ademais, o crucifixo está lá, pacífico, em repouso. Se inspirar alguma coisa, inspira, no máximo, os valores de igualdade, justiça e fraternidade perenizados nas palavras do Cristo. Tirá-lo da parede é que é a ação afirmativa. Mas não a ação afirmativa de uma minoria, e sim a ação afirmativa contra uma maioria absolutamente pacífica. Isso não pode dar certo.

Só para vocês terem uma idéia do ânimo de quem se mobilizou contra o crucifixo, saibam: Jefferson Aparecido Dias, o procurador que assinou a petição, pediu, como observa um leitor, ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, alegando “periculum in mora”. Vale dizer: ele alegou que os crucifixos deveriam ser retirados já, antes mesmo do julgamento de mérito, porque a demora em fazê-lo poderia trazer dano irreparável a uma das partes.

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“Perigo na demora”???

É, há, certamente, gente muito tolerante que acredita que o crucifixo atrapalha a humanidade há quase dois mil anos. Antes, o homem era feliz, depois veio esse troço…

Ninguém é tão cegamente fundamentalista quanto aquele que acredita reprimir o outro em nome da Razão e da ciência. É por isso que Raymond Aron, numa sacada genial, respondeu à tolice de que a “Igreja é o ópio do povo” com a afirmação e demonstração de que “o marxismo é o ópio dos intelectuais”. É evidente que há muitos anticristãos e defensores do “CCC” que nada têm, conscientemente, de marxistas ou comunistas. Talvez não saibam que, ao reivindicarem a deposição do crucifixo das paredes de uma sala, agem também inspirados por um elemento insidioso pendurado na parede de sua (in)consciência. Qual será ele?

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