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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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O antissionismo é só uma das formas de ser do antissemitismo. Ou: a fraude intelectual que associa o antissemitismo à causa palestina

Escrevi dois posts sobre a defesa aberta que o PSTU, um partido legal, que recebe recursos do fundo partidário, faz da destruição de Israel. A lorota é que se trata de uma luta contra o “sionismo”, não contra os judeus. A turma do PSTU defende o fim de um país de sete milhões de pessoas, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 09h14 - Publicado em 27 mar 2012, 23h10

Escrevi dois posts sobre a defesa aberta que o PSTU, um partido legal, que recebe recursos do fundo partidário, faz da destruição de Israel. A lorota é que se trata de uma luta contra o “sionismo”, não contra os judeus. A turma do PSTU defende o fim de um país de sete milhões de pessoas, mas não diz o que fazer com a população. Fica por conta da livre imaginação… Fato: a luta contra o sionismo tornou-se uma das formas de ser do antissemitismo. Ponto. Leiam trechos da entrevista concedida pelo professor Robert Wistrich a Marcelo Ninio na Folha desta terça:

Distorção do termo genocídio justifica esse tipo de matança

O atentado em Toulouse, na França, em que três crianças judias e um rabino foram mortos por um muçulmano francês, mostrou que o antissemitismo está vivo na Europa, alimentado por islamitas radicais sob a cumplicidade de parte da mídia e dos políticos.  Esta é a avaliação do professor Robert Wistrich, chefe do Centro Internacional de Estudos do Antissemitismo, da Universidade de Jerusalém, e um dos maiores estudiosos do mundo no assunto. Em entrevista à Folha, ele disse que, desde o Holocausto, o antissemitismo sofreu uma metamorfose na Europa, e hoje a principal força por trás dele é o islã fundamentalista, ao qual pertencia o terrorista de Toulouse.

Folha – O atentado em Toulouse foi descrito por alguns como um ato de fanatismo isolado, por outros como parte da ascensão do antissemitismo na Europa. O que o sr. acha?
Robert Wistrich
– Esse ato assassino se insere totalmente na lógica da jihad (guerra santa islâmica) contemporânea. Em 1998, Osama bin Laden fez uma declaração, ignorada na época, em que dizia que o inimigo absoluto do islã é o que ele chamava de aliança entre judeus e cruzados -como se referia ao Ocidente cristão. Na época ninguém ligou. O mundo só começou a prestar atenção depois do 11 de Setembro.
Esse tipo de ação não é novo. Talvez o único elemento novo seja a forma como foi cometido, a sangue frio e direcionado contra crianças. Isso é o que causa mais choque.
Foi um ato antissemita, mas também contra a França como símbolo do Ocidente. Seu pretexto foi o envolvimento francês no Afeganistão e uma vingança pelas mortes de palestinos em Gaza, o que é uma ultrajante peça de propaganda. Mas é o tipo de propaganda que vem sendo engolida há tempos pela mídia ocidental.
Até a ministra do Exterior da União Europeia, Catherine Ashton, disse quase a mesma coisa, ao comparar a ação em Toulouse com Gaza e com um acidente de trânsito na Suíça em que crianças morreram.

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O sr. quer dizer que a mídia e os governos europeus de alguma forma encorajam esse tipo de ação?
Há anos observo na mídia europeia, e certamente na francesa, uma tendência de apresentar a autodefesa de Israel contra o terrorismo como um genocídio contra o povo palestino. É uma distorção grotesca da palavra genocídio. Se é repetida continuamente, cria-se uma justificação para esse tipo de matança, pois é exatamente assim que o criminoso justifica seus atos.

A Al Qaeda emitiu um comunicado afirmando que o criminoso pertencia à rede. Há risco de novos atentados?
É claro que pode acontecer de novo. Há muitas semelhanças entre esse ataque e outros atentados, como em Londres e Madri, em que os terroristas eram muçulmanos nascidos na Europa. Em todos os casos, foram doutrinados no Paquistão e no Afeganistão.
Pode acontecer em qualquer país dentro ou fora da Europa, nos EUA ou na América Latina. Um dos efeitos de a Al Qaeda ter sido desalojada de sua base no Afeganistão é que há células do grupo em vários países e elas se tornaram mais autônomas. São motivadas pela ideologia e não precisam de ninguém para lhes dizer o que fazer.

A palavra antissemitismo significa ódio aos povos semitas, que também incluem os árabes. O conceito precisa ser redefinido?
De todos os tipos de ódio, e há muitos, o antissemitismo é o mais antigo. Remonta a 2.000 anos, a idade da diáspora judaica. O certo seria usar o termo ódio antijudeu, ou judeofobia. Semitismo é um termo racista que foi criado no fim do século 19 por antissemitas que não se referiam aos árabes. Quando falavam de semitas, se referiam aos judeus, mas queriam que seu ódio soasse mais respeitável ou científico.
O que é particularmente perigoso no antissemitismo dos últimos cem anos são as teorias conspiratórias. Que os judeus têm um plano para controlar o mundo, que controlam a mídia, os bancos, os governos, a política externa dos EUA, por exemplo.

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Islamofobia e judeofobia têm paralelos?
Islamofobia, como diz o termo, é o medo do islã, como religião principalmente. Não nego que haja medo e ódio ao islã, e ele está crescendo. Ações como a de Toulouse certamente vão intensificar esse sentimento.
Isso não justifica o ódio aos muçulmanos, porque a maioria obedece à lei e certamente não se identifica com essas ações. O problema é que há grupos muçulmanos fanáticos que propagam essas doutrinas fundamentalistas que descrevem todos os não muçulmanos como hereges e inimigos do islã.
O antissemitismo tem origens bem diferentes, porque é baseado no judeu imaginário, na imagem do judeu herdada de séculos de história, e que segue viva. É uma expressão muito mais potente de ódio.
Hoje há entre 35 milhões e 40 milhões de muçulmanos na Europa e apenas um milhão de judeus. E ainda assim, o antissemitismo, em muitos países, é mais forte que a islamofobia. Na França, nos últimos cinco ou seis anos, o número absoluto de ataques antissemitas foi muito maior que os ataques racistas em geral e contra os muçulmanos. E lá há dez vezes mais muçulmanos que judeus.

Há paralelos entre o antissemitismo na Europa de antes do Holocausto e hoje?
Hoje é bem mais sutil. O antissemitismo clássico, que existia em quase toda a Europa antes do Holocausto, foi para o subterrâneo. O antissemitismo tradicional passou por uma metamorfose, em que foi absorvido sob o rótulo de hostilidade a Israel.
A maior razão para isso é que não há lei em nenhum país contra ataques a Israel, mesmo de forma difamatória. Se alguém ataca judeus em público em muitos países pode até ser preso. Se for um político, pode ser o fim de sua carreira. Mas você pode demonizar o sionismo ou Israel o quanto quiser e não há punição nem condenação. Você pode até ser aplaudido.

Qual a principal força por trás do antissemitismo hoje?
Os islamitas, onde quer que estejam, seja a Irmandade Muçulmana do Egito ou em outras partes do Oriente Médio, sejam os jihadistas estilo Al Qaeda, seja o islã wahabista da Arábia Saudita -que com seus petrodólares construiu mesquitas e centros comunitários pelo mundo-, sejam os pregadores do ódio locais, supostamente baseados no Corão -mas eles também falsificam o Corão. Esses são os tipos mais ativos, violentos e assassinos.
Mas há outras forças. Existe a cumplicidade de esquerdistas, que dizem ser apenas contra Israel, mas, com frequência, apoiam grupos como Hamas e Hizbollah. Há também a extrema direita, com uma forma mais tradicional de antissemitismo. Muitos deles são também islamofóbicos.
Há ainda um quarto tipo, que é insidioso e raramente identificado apropriadamente: o neoliberal, um tipo de antissemita “iluminado”, que não apenas é veementemente contra Israel por suas políticas, mas que ataca a própria base do país, questionando o Estado judaico.
(…)
As ações do governo israelense citadas pelos terroristas, como a ocupação dos territórios palestinos, contribuem para aumentar o antissemitismo?

Eu categoricamente rejeito, com base em anos de pesquisa, a proposição de que há uma conexão real entre ocupação e antissemitismo. Há só uma ligação: essa foi a principal fonte da campanha de desinformação e intoxicação promovida pelos palestinos e árabes na opinião pública internacional.
Assim, a ocupação, indiretamente, alimenta o antissemitismo. Mas não é a razão, porque o antissemitismo palestino existia antes de 1967.

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