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Niemeyer, a obra e o pensamento. Ou ainda: Por que ser “poeta da curva” é superior a ser “poeta da linha reta”?

Que coisa! Quando Oscar Niemeyer fez 99 anos, publiquei um post neste blog sobre tão notável personagem. E expliquei ali por que o considerava metade gênio e metade idiota. Isso foi em 15 de dezembro de 2006 – no primeiro ano do blog. O texto foi bastante comentado e coisa e tal, mas os jegues […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h16 - Publicado em 6 dez 2012, 17h55

Que coisa!

Quando Oscar Niemeyer fez 99 anos, publiquei um post neste blog sobre tão notável personagem. E expliquei ali por que o considerava metade gênio e metade idiota. Isso foi em 15 de dezembro de 2006 – no primeiro ano do blog. O texto foi bastante comentado e coisa e tal, mas os jegues militantes, tudo indica, não o haviam descoberto até agora. O que fiz ontem, no primeiro texto, foi escrever uma pequena introdução e anunciar que repetia aquele texto. Qualquer pessoa que o tenha lido sabe que fiz um elogio à obra de Niemeyer. Mais do que isso: sustentei que a qualidade do trabalho de um homem e a qualidade de seu pensamento nem sempre andam juntas, são proporcionais ou têm o mesmo sentido.

Num segundo texto, sustentei, e sustento, que, na raiz da ambiguidade que eu apontava, estavam, sim, as escolhas ideológicas que fiz. Um liberal conservador, acho eu, tem de, nesse particular também, pensar e se comportar diferentemente das esquerdas, que demonizam artistas – isso é histórico – por conta, eventualmente, de seu pensamento ou de suas escolhas ideológicas. Não raro, basta que ele não seja um militante e se dedique apenas à sua obra para ser considerado um “reacionário”.

Notem: não toquei na obra de Niemeyer, QUE, NÃO OBSTANTE, NÃO ESTÁ ISENTA DE CRÍTICAS POR SUA PRÓPRIA NATUREZA. É perfeitamente possível, legítimo e intelectualmente desafiador que se tentem, por exemplo, estabelecer relações entre o que criou e sua ideologia. É perfeitamente possível que se leia a sua obra à luz de suas relações com governos – ele sempre foi um arquiteto do poder: no Brasil e fora. O “comunista” Niemeyer sempre foi um cortesão.

Independentemente disso, reconheci, é autor de uma grande obra. E até fiz algumas considerações sobre a proximidade ente arte e poder. Boa parte dos que me atacam o faz movida por ignorância. Não têm a menor ideia dos assuntos de que tratei.

Inaceitável
Inaceitável, aí sim, é que se fale da obra de Niemeyer ignorando quem ele era, ainda que seja para fazê-lo como fiz: para distinguir uma coisa de outra; para estabelecer a fronteira entre o arquiteto e o ideólogo. Lembro que Niemeyer, vejam que mimo!, defendeu o golpe dado pela burocracia comunista contra Gorbachev!!! Tenham paciência!

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Mas atenção! EU, REINALDO AZEVEDO, O QUE CLASSIFICOU NIEMEYER DE METADE GÊNIO E METADE IDIOTA, O QUE REAFIRMO, SEPAREI O SEU COMUNISMO DE BEIRA DE PISCINA DE SUA OBRA. O que leio por aí, no entanto, é outra coisa.

Delinquentes intelectuais das mais variadas colorações e com variados teores de convicção, ASSOCIAM SUA IDEOLOGIA À SUA OBRA. Acham que a propaganda comunista que fazia era parte das suas utopias, que teria sido expressa também em sua obra. Qual a diferença, em essência, no que concerne ao humanismo, entre o comunismo e o fascismo? Nenhuma! Qual a diferença na espécie? O comunismo matou muito mais.

Ora, então Niemeyer morre, e até o comunismo passa a ser coisa boa? Então Niemeyer morre, e até a sua ideologia homicida se torna parte de sua grandeza? Quando Leni Riefenstahl morreu, felizmente não li – se houve, desconheço – nenhum artigo sustentando algo assim: “Alto lá! Afirmar que ela serviu ao nazismo corresponde a não reconhecer a qualidade de sua obra”… Ora, vão plantar batatas! Niemeyer, uma personalidade, com efeito, conhecida no mundo inteiro emprestou seu apoio a tiranos, a notórios homicidas.

E eu lembrei isso TAMBÉM, tendo o que considero o bom senso, reitero, de preservar a sua obra, que, INSISTO, NÃO ESTÁ ISENTA DE UM EXAME CRÍTICO POR AQUELES QUE DELA NÃO GOSTAM. E HÁ MUITOS.

Amor pela tirania
Eu estou me lixando para o que zurram a meu respeito. Os meus leitores sabem que não sou movido nem mesmo a elogios. Fiquei quase isolado aqui quando me opus ao aborto de anencéfalos ou quando fiz restrições à pesquisa com embriões. Muitos leitores que costumam gostar do que escrevo disseram: “Ah, Reinaldo, nessa você errou…” E eu não mudei de ideia, embora fossem ponderações gentis, generosas, humanistas, sim… Imaginem se, agora, vou me intimidar porque algumas bestas ao quadrado resolveram que o “comunismo” de Niemeyer era parte de sua genialidade. Não vejo nada de genial em defender um modelo que matava por indústria.

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Mas entendo, claro… Este é, afinal, um país em que um tirano como Getúlio Vargas, cuja polícia matou e torturou nos porões, foi transformado em herói nacional porque, mais tarde, metendo o país numa crise institucional, resolveu dar um tiro no próprio peito. E por que o amor ao tirano? Ah, porque as esquerdas e os nacionalistas decidiram transformá-lo num herói anti-imperialista. Vão caçar sapo!

Niemeyer era metade gênio e metade idiota. E há, por óbvio, inclusive no Brasil, quem o achasse cem por cento idiota. E, como se vê, muitos pensam que era cem por cento gênio. Estão calados porque os “democratas” do debate decidiram que é possível, sim, discutir a sua obra e o seu pensamento, desde que se concorde com ambos.

Poeta da curva
Entendo todas as metáforas sobre a sua obra como o “poeta da curva”. Só noto que isso nem mesmo chega a ser um juízo de valor. É só um brocado retórico. Até porque se pode ser também um poeta da linha reta. E o juízo de valor estaria em dizer por que o poeta da curva é estética ou moralmente superior ao da linha reta.

Encerro
Escrevi ontem um texto sobre a Irmandade Muçulmana. Vejam lá. Eu não me intimido com irmandades… Tampouco com a Irmandade Petralha.

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