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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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NÃO SOU UMA GAVETA PARA GUARDAR BADULAQUES DO SUPOSTO CONSERVADORISMO. CONSERVADORES RESPEITAM INDIVÍDUOS

Sabia, claro, que muitos discordariam do que escrevi sobre o adoção de crianças por parceiros gays. Sabia com base na experiência: já expressei aqui esse ponto de vista e apanhei bastante à época. Não contei, mas creio que a maioria dos comentários publicados é contrária à minha opinião (e já mais um monte esperando moderação). […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 15h27 - Publicado em 28 abr 2010, 17h41

Sabia, claro, que muitos discordariam do que escrevi sobre o adoção de crianças por parceiros gays. Sabia com base na experiência: já expressei aqui esse ponto de vista e apanhei bastante à época. Não contei, mas creio que a maioria dos comentários publicados é contrária à minha opinião (e já mais um monte esperando moderação). Tive de excluir muitas intervenções. É impressionante! Tal tema desperta a besta que está adormecida no coração de muitas pombas da paz. Acho a militância gay uma chatice. Acho militância negra uma chatice. Acho a militância verde uma chatice. Acho a militância feminista uma chatice. Acho a militância religiosa uma chatice. Acho a militância uma chatice!!! Quando a pessoa vê o mundo apenas segundo o fortalecimento  ou o  enfraquecimento do grupo a que pertence, perdeu o sentido da universalidade, parou de pensar.

Boa parte dos que me criticaram, alguns com impressionante violência, pergunta: “Oh, mas que conservador é você? Defende o fim do celibato sacerdotal; agora, a adoção de crianças por gays. Isso é incoerente.” Pois é! Sou um indivíduo, não uma gaveta de badulaques do conservadorismo. Uma das razões fundamentais por que deploro os vários esquerdismos é a sua incapacidade de reconhecer a autoridade do indivíduo sobre a manada. Eu não me obrigo, nunca!, a pensar isso ou aquilo para não contrariar o meu público!!! Até porque não tenho “público”, tenho leitores. São autônomos. Pensam com a própria cabeça — freqüentemente contra a opinião do blogueiro. E daí? Isso não é uma igreja, os internautas não são fiéis, e sagrada, aqui, é só a obrigação de pensar. Respondo a algumas questões que apareceram nos comentários:

“Não te leio mais”
Ok. É do jogo. Alguém já me viu aqui a recorrer àquele truque vigarista de estimular os leitores a dizer primeiro o que pensam para que eu, “como cachorro de sarjeta,  saia atrás do batalhão”, para lembrar música antiga? No dia em que eu deixar de dizer o que penso porque “vão me levar a mal”, fecho o blog, vou fazer outra coisa. Não tenho milhares de leitores, muitos milhares, porque puxo o saco de pensamentos influentes, de um ou de outro lado. Quem freqüenta o blog na expectativa de que SÓ VAI LER coisas com as quais concorda não quer ler o blog, mas a si mesmo. Recomendo que crie a própria página e passe a adorá-la, todos os dias, como se fosse um altar de verdades reveladas. Comigo, não, violão!

“A militância gay é parte da militância de esquerda”
Pode até ser uma contingência porque os esquerdistas vão sempre se aproveitar de descontentamentos vários para impor a sua agenda. Mas, em si, a tese é furada. Um dos países mais homofóbicos do mundo é Cuba. Se a questão sexual determinar clivagens ideológicas e se, uma opinião não hostil aos homossexuais se confunde com simpatia pela esquerda, os que são críticos severos da homossexualidade porque também críticos da esquerda deveriam aplaudir o governo assassino de Cuba. Afinal, nesse particular, os irmãos Castro seriam bem “conservadores”. Desculpem-me! Isso é uma tolice. Fica parecendo que os gays estão proibidos de ser conservadores em política.

“O gayzismo é uma ameaça”
Lamento não endossar esse ponto de vista. Muitos reagem como se o mundo vivesse uma espécie de assédio “homossexualista”, como se a heterossexualidade estivesse sendo ameaçada… Bem, eu não vejo risco nenhum! Os gays, que devem continuar  a ser algo em torno de 10% da humanidade, como sempre, são mais visíveis hoje porque vivemos tempos de afirmação da identidade, o que, em si, não é ruim. Eu luto para que os indivíduos tenham o direito de ser o que são, segundo regras de civilidade que têm como base a liberdade individual.

A imposição do padrão de minorias, pautada pelo pensamento politicamente correto, é que é o problema. Nesse sentido, já escrevi aqui, a tal lei que criminaliza a homofobia tem aspectos autoritários — contrários à sua declarada pretensão. Mas esse é outro problema. Não vejo por que heterossexuais devam temer o “gayzismo”, como dizem alguns. Há gays que falam muita besteira, sustentando que “no fundo, todo mundo é um pouco gay porque Freud etc”??? Há, sim! Mas também há heterossexuais que falam muita bobagem. Eu não sei por que há homossexuais entre mamíferos e aves — existirá entre os répteis, batráquios, insetos? Sei que há. E sei que essas pessoas têm o direito de ser felizes sendo quem são e que compõem parte da nossa precária humanidade.

“Homossexualidade é escolha, é doença, é tentação…”
Os heterossexuais que sustentam que se trata de uma escolha estão afirmando que eles próprios, então, heterossexuais que são, poderiam escolher a homossexualidade. Poderiam? Eu, de fato, não creio.

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Os que vêem na homossexualidade uma tentação parecem tratar o assunto mais ou menos como outras tentações viciosas a que estamos todos sujeitos: álcool, droga, jogo – curiosamente, todas elas excitantes a prazerosas enquanto vividas, mas desastrosas depois. Tal raciocínio supõe, então, que todos podem estar sujeitos à “tentação homossexual”. Não acredito nisso e, para ser franco, esta parece ser uma suposição pautada pelo medo. Relaxem os desarvorados! Nesse caso, ninguém será o que já não é.

Os que acusam a “doença”, um ponto de vista que não tem embasamento científico — de qualquer ramo das ciências, das médicas às comportamentais —, talvez imaginem formas de tratamento, não é? Nesse caso, é bem possível que tivéssemos, como civilização, sido privados de algumas das boas contribuições no terreno das artes, da filosofia e da ciência porque pessoas “doentes” estariam tentando curar o seu mal.

“Que católico é você? A Bíblia condena”
Ditas as coisas assim, lembro que a Bíblia também condenada o consumo de certos alimentos e estabelece o tamanho certo dos altares.

Acho, por exemplo, e já apanhei muito por isso também, que a Igreja Católica tem todo o direito de vetar clérigos gays se considera que isso é incompatível com o ministério. Trata-se, de fato, de uma entidade privada. Também tem todo o direito de expressar seu ponto de vista, certamente contrário ao chamado “casamento gay” ou à adoção de crianças por homossexuais. A sociedade e o estado, por meio dos Poderes democraticamente instituídos, fazem as suas escolhas, que nem sempre coincidem com princípios religiosos. “Que católico sou eu”? Um católico comum, que diverge um tanto de seu pastor e procura distinguir o que é matéria de princípio do que é contingência. A Igreja Católica, até hoje, tem reservas ao capitalismo, por exemplo, que eu não tenho. A tensão entre mudança e conservação é saudável. Satanizar a mudança como princípio é uma estupidez reacionária. Satanizar a conservadorismo como princípio é uma estupidez progressista.

“Gays estão mais propensos à pedofilia”
Deve haver “estudos” demonstrando isso, contra, é bom notar, as evidência empíricas. Há “estudos” provando qualquer coisa. Os casos mais escabrosos de pedofilia não estão, como faz crer a militância anticatólica, na Igreja, mas na sociedade, em famílias consideradas “tradicionais”. O que se sabe a respeito indica que a criança é molestada, na maioria das vezes, por parentes próximos — quase sempre, pais ou padrastos. Trata-se de um preconceito estúpido associar a homossexualidade à pedofilia. Mesmo entre os padres, para tratar de um caso momentoso, essas duas questões não estão associadas, não! O que se faz é tomar uma coisa em lugar de outra. Aquele senhor de Arapiraca, por exemplo, filmado fazendo sexo com uma “criança” de 22 anos, não é um pedófilo, mas um gay que usou as facilidades oferecidas por sua condição para exercer a sua sexualidade sem qualquer forma de expiação pública. E por isto defendo o fim do celibato: para que a Igreja não seja armário para homens que gostam de fazer sexo com homem ou com garotões (não com crianças!). ISSO NÃO QUER DIZER QUE O CELIBATO SEJA UM DISFARCE. HÁ CELIBATÁRIOS QUE LEVAM A SÉRIO O SEU VOTO E O SÃO POR CONVICÇÃO.

“Prefiro uma criança no orfanato a viver num lar gay”
Ah, você prefere? É mesmo, é?

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Finalmente…
Não sou uma gaveta, reitero, de teses do que alguns imaginam que seja o conservadorismo. E também não me considero o aiatolá desse ou daquele pensamento  — nem aceito ser patrulhado por aiatolás. Já os há o bastante na esquerda. Também não inventei o “Emplasto Brás Cubas” — ou “Emplasto Reinaldo Azevedo” — para livrar a nossa pobre humanidade de todos os seus sofrimentos e melancolias. Lido com homens reais, com pessoas reais, com sociedades reais. E tento fazer algumas escolhas que, acredito, nos civilizam, com tolerância, sim, mas com firmeza.

Haverá os que nunca mais porão os “pés” — ou os “olhos” — aqui? Paciência! Não faço blog para adular as idéias, teses, opiniões ou preconceitos de ninguém, a não ser os meus próprios. Há milhares que gostam disso. E há milhares que odeiam. É do jogo. Eu não abro mão da democracia nem por um “valor maior”. Porque, no que concerne à organização social, não há “valor maior”.

Recomendo cuidado com certos ódios. Afinal, sob certo ponto de vista, há gente considerando que Mahmoud Ahmadinejad, por exemplo, é que sabe lidar direito com os gays. Se bem que, segundo ele, não há gays no Irã porque isso é coisa das sociedades decadentes ocidentais…

Na saída, uma quase graça: os muitos desarvorados não se desesperem: “homossexualidade” não é contagiosa, hehe. Quem não for “ameaçado” por tal desejo jamais beijará “a boca de quem não devia”, como na música de Assis Valentes, porque foi “contaminado”… Quanto ao “gayzismo” como parte de um plano macabro das esquerdas (?) ou de um partido (?) para tomar o poder, aí já estamos no terreno da pura e simples paranóia.

Lula, Zé Dirceu e Dilma URSSoef não são gays, hehe.

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