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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Não me confundam com Arnaldo Jabor! É uma injustiça com ele e comigo!

Com alguma freqüência, leitores associam o que penso a Arnaldo Jabor. É de uma brutal injustiça com ele e comigo. Ambos repudiamos o parentesco no Cairo, em Brasília ou no cinema. Hoje fico na questão interna. Vamos ver. Jabor foi governista na gestão FHC, na gestão Lula (no segundo mandato, andou discordando) e agora aderiu […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h52 - Publicado em 10 fev 2011, 17h21

Com alguma freqüência, leitores associam o que penso a Arnaldo Jabor. É de uma brutal injustiça com ele e comigo. Ambos repudiamos o parentesco no Cairo, em Brasília ou no cinema. Hoje fico na questão interna. Vamos ver. Jabor foi governista na gestão FHC, na gestão Lula (no segundo mandato, andou discordando) e agora aderiu à gestão Dilma. E ele o faz sempre com igual entusiasmo e aquela indignação a favor quase jacobina! É um talento nessa arte! Já eu fui crítico de FHC, de Lula e, como se nota, ainda não virei cavaleiro da Rainha Dilma Primeira, a Muda. Não faço juízo moral a respeito. Pode até ser que Jabor se alinhe com todos os governos por bons motivos e que eu os critique por maus. Mas fato é fato. Associar-nos corresponde a não reconhecer o empenho dele em  ser a favor e o meu empenho em ser contra, entenderam?

Arnaldo Jabor é um cineasta, um cronista de TV etc. Tem a importância que tem, mas é capaz de algumas sínteses interessantes. Ontem, no Jornal da Globo, ele fez uma espécie de ode ao adesismo. E foi perfeito nisso, razão pela qual comento o seu comentário. Abaixo, o vídeo. Na seqüência, transcrevo a sua fala em vermelho e intervenho em azul.

https://video.globo.com/Portal/videos/cda/player/player.swf

No dia de sua posse, o carro de Dilma estava cercado por mulheres fardadas, mulheres-segurança, correndo e protegendo a chefe da nação. Eu senti que alguma coisa havia mudado ali: ela não era mais a “bichinha danada” como Lula, paternalista e machão, a apelidava.
Trata-se, digamos assim, da percepção de um esteta dos serviços de segurança. Estetas pensam por metáforas, metonímias, símbolos, cascatas alegóricas… Dilma deveria ter recusado a condição de “bichinha danada” quando candidata, não é mesmo? Não obstante, foi a beneficiária feliz do mais escancarado uso da máquina pública de que se teve notícia numa campanha eleitoral.

Eu vi que ali não estava sua criatura. Dilma não saiu de sua costela. Dilma é economista, culta e tem um passado de guerra que no contexto da época era, sim, um sinal de coragem e idealismo.
Jabor sempre vê coisas. Se escarafuncharem os arquivos, vocês o encontrarão a fazer grandes e severas distinções entre Lula e o PT, especialmente no primeiro mandato.  O Apedeuta seria, então, o mandatário moderno, e o partido, um ninho de bolchevistas atrasados. Jabor nos convidava a apoiar Lula contra o PT, como nos convida agora a apoiar Dilma contra Lula. Em outro post, digo qual é a raiz desse pensamento bocó.

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Ela nomeou várias ministras para um governo feminino. Mulheres que podem ser generosas, obstinadas, superiores ao machismo cafajeste de Brasília. Dilma quer nomear técnicos e não vagabundos aliados.
Não há nada mais arraigadamente machista do que supor que as mulheres estão especialmente talhadas para a generosidade. Só homens, alguns ao menos, acham isso. Todas as mulheres que conheço, a começar da minha, consideram essa avaliação de um supino cretinismo. Deve ter raiz psicológica. Como somos mamíferos, há pensamentos que não saem da fase do aleitamento… Minhas filhas façam o que quiserem, mas a minha sugestão sempre foi esta: “Se algum mané partir do princípio de que vocês são mais boazinhas por serem meninas, dê um pé na bunda dele!” Sou feminista! Ou agora devo saudar a generosidade superior de Ideli Salvatti no Ministério da Pesca?

Bateu o pé contra os oportunistas do salário mínimo, apontou o dedo contra o assassino do Irã, que Lula tanto amava, salvou Furnas dos espertalhões que queriam continuar sangrando a estatal, busca o necessário encontro com os Estados Unidos e, agora, fez um corte de 50 bilhões no orçamento. Em suma, está fazendo um bom governo.
Rá, rá, rá. Vamos ver. Dilma “salvou” Furnas nomeando para a estatal Flávio Decat, homem da turma de Sarney. O setor elétrico sempre esteve sob o comando da então ministra Dilma: se havia roubalheira lá, ela se deu sob os seus auspícios — bem,  era a chefe de Erenice Guerra, né? Quanto ao Irã, a política do Itamaraty era insustentável. O Brasil começava a sofrer as conseqüências das loucuras de Celso Amorim. Mas é no  Orçamento que o adesismo de Jabor atinge o estado de arte.

À moda de Rodrigo Maia presidente do DEM, Jabor considera que o corte é, em si, uma espécie de valor moral. Pois eu digo que, em si, é ruim. Sinal de que haverá menos recursos para os mais pobres. Então, cumpre não ser perverso. Posto isso, pergunta-se: era um corte necessário? Era, sim!  Sob o governo Lula, como disse um petista, “enfiou-se o pé na jaca”. E para quê? Entre outros motivos, para eleger Dilma Rousseff. Ela foi a principal beneficiária da lambança. O rombo programado, deliberado, metódico, nas contas públicas tem de ter agora uma correção. Perto da eleição, assalta-se o cofre de novo!

Os picaretas vão reagir, mas Dilma é brava, muito brava, e é melhor ser temida que amada neste país da cordialidade corrupta.
É só uma apropriação pobrezinha de Maquiavel, que escreveu sobre a conveniência de o príncipe ser amado ou temido, sendo preferível isso àquilo. E notem a mitificação da personagem: “Ela é brava, muito brava!” Uiuiui… Jabor, pelo visto, acha que a cordialidade pode ser corrupta, mas não a falta dela… Qual é? Ah, os picaretas…

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O Brasil não é mais do presidente, como Lula quis, mas a presidente é do Brasil. Lula sumiu: que sossego! Mas amanhã ele fala no PT, que o homenageia. Será que ele vai dar alguma bandeira de ciúme, de inveja?
Reitero: assim como Jabor tentava distinguir Lula do PT, tenta agora distinguir Dilma de Lula, como se essa própria diferença, que existe, não estivesse sob administração e gestão de um corpo superior a ambos chamado “PT”. O partido promove hoje a pajelança, em que se devolverá a presidência de honra a Lula, justamente para que a “mídia” não se excite muito com a idéia de que há uma contradição severa entre ambos.

Daqui a pouco haverá eleições. E veremos, então, para onde vai todo esse comedimento. Jabor está, a seu modo, fazendo política. Ele acha que, agora, a melhor tática é a gente aderir a Dilma contra Lula. Ele ache o que quiser. Com argumentos diferentes, ele aderiu a todos os governos de FHC para cá. Reajo é à mistificação. O governo não cortou R$ 50 bilhões do Orçamento para provar que é fiscalmente responsável. Cortou porque a farra que elegeu Dilma deixou o país na pindura.

Jabor deveria fazer um filme. Quer dizer, pensando bem, melhor não…

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