Mediocridade do discurso da vitória de Obama só ganhou da mediocridade do discurso da derrota de Mitt Romney
Neste momento, o presidente dos EUA, Barack Obama, tem estimados 303 delegados no Colégio Eleitoral, contra 206 de Mitt Romney. Nos votos totais, no entanto, a diferença é de 1% — um quase empate. Ao longo da disputa e até a última hora da campanha — com seus respectivos discursos, o da vitória e o […]
Neste momento, o presidente dos EUA, Barack Obama, tem estimados 303 delegados no Colégio Eleitoral, contra 206 de Mitt Romney. Nos votos totais, no entanto, a diferença é de 1% — um quase empate. Ao longo da disputa e até a última hora da campanha — com seus respectivos discursos, o da vitória e o da derrota —, os dois foram igualmente medíocres. A fala de Romney só não foi melhor porque a derrota é sempre menos atraente. Que diferença entre o Obama de agora e o de 2008! É que, entre um e outro, existe a imensa realidade. A fala foi um pouco aflitiva: tentava emplacar alguns ganchos que empolgassem a plateia, mas a excitação não vinha — nem a do orador nem a de quem o ouvia.
Fez os agradecimentos de praxe — à família, à equipe de campanha, aos americanos e, claro, a Mitt Romney. Disse que pretende sentar com o seu adversário de até havia pouco para discutir uma agenda comum, para trabalhar juntos. É papo furado. Não é assim que as coisas funcionam nos EUA. Não existe esse caciquismo no sistema partidário americano. Ter obtido quase metade dos votos não conferirá autoridade especial ao derrotado em seu partido.
Como não existe — tratei disso já em alguns textos — a chance de que o presidente conquiste parlamentares republicanos (que manterão o comando da Câmara) com cargos ou com mensalão, Obama vai ter de negociar num ambiente que pode ser mais adverso do que no primeiro mandato. Sua vitória, desta vez, será mais magra.
Fez o elogio, também obrigatório, à democracia. Lembrou que as divergências são legítimas e que isso é parte da cultura política americana, mas destacou que é possível ter um agenda comum porque, afinal, o que faz grandes os EUA, disse, não é seu poderio militar, não é sua riqueza, não são suas universidades, mas valores que unem o povo: “amor, caridade, dever, patriotismo”. Ficou claro que esse era um dos momentos destinados a excitar a plateia, que reagiu com um quase muxoxo. Boa parte ali deve achar que o que faz grandes os EUA são mesmo a riqueza, o poderio militar e as universidades…
O Obama de hoje mostrou só uma nesga do brilho de outrora ao afirmar que, na América, não importa se você é branco ou preto, homem ou mulher, gay ou não etc… O que importa é que “você pode ter sucesso se você tentar” porque, afinal, “nós somos os EUA da América”.
A impressão que ficou é que Mitt Romney, abatido, não entendeu por que havia perdido. E que Obama, só um pouco mais feliz, não entendeu por que havia ganhado.
Ah, sim: falou que não quer um segundo cachorro. Então tá.