Mais Chico para instruir o processo? “Chame o ladrão!” Ou: Então vamos falar coisa séria!
O advogado de José Dirceu (ver post), José Luís Oliveira Lima, não gostou de Roberto Gurgel ter encerrado a sua peça acusatória com uma letra de Chico Buarque. Achou, parece, pouco técnico e constitucional. Sei… O sambista, com o pseudônimo “Julinho da Adelaide”, é autor de outro clássico do protesto: “Chame o ladrão”. Há um […]
O advogado de José Dirceu (ver post), José Luís Oliveira Lima, não gostou de Roberto Gurgel ter encerrado a sua peça acusatória com uma letra de Chico Buarque. Achou, parece, pouco técnico e constitucional. Sei… O sambista, com o pseudônimo “Julinho da Adelaide”, é autor de outro clássico do protesto: “Chame o ladrão”. Há um trecho assim:
Acorda, amor
Eu tive um pesadelo agora,
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição!
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão…
Pois é…
Oliveira Lima está querendo opor, parece, aquela que seria a sua seriedade intelectual à suposta demagogia do procurador-geral. Então vamos ter conversa de gente grande. Ele poderia ter discutido, então, a introdução da peça acusatória de Gurgel, que cita com muita propriedade o clássico “Os Donos do Poder”, como chamei a atenção neste blog. Referia-se ao arraigado patrimonialismo brasileiro, de velha herança, que consiste em usar o que é público como se privado fosse, a serviço dos interesses de uma elite dirigente.
Gurgel também citou Max Weber e corrigiu a leitura safada que se faz no Brasil da “ética da responsabilidade” — ou do resultado —, que concerne ao homem público. Por aqui é vista como oposta à “ética da convicção”, que diz respeito aos indivíduos, como se uma pudesse ser a negação da outra; como se o político que recorre ao crime o fizesse por uma imposição do processo, do sistema.
Se Oliveira Lima quer um debate que vá além do samba, os elementos estão lá.