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Lula entrega os pontos precocemente e já dá como certa a derrota de Dilma

Estranhou o título, não é, leitor? É claro que ele não disse o que vai acima. Trata-se de uma interpretação irônica deste escriba. Numa solenidade no Ipea, o presidente da República saudou o fato de que, nas eleições de 2010, não haverá candidatos de direita. Disse Sua Excelência: “Pela primeira vez, não vamos ter um […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h52 - Publicado em 16 set 2009, 20h50

Estranhou o título, não é, leitor? É claro que ele não disse o que vai acima. Trata-se de uma interpretação irônica deste escriba. Numa solenidade no Ipea, o presidente da República saudou o fato de que, nas eleições de 2010, não haverá candidatos de direita. Disse Sua Excelência:

“Pela primeira vez, não vamos ter um candidato de direita na campanha. Não é fantástico isso? Vocês querem conquista melhor do que, numa campanha, neste país, a gente não ter nenhum candidato de direita? Uns podem não ser mais tão esquerda quanto eram. Não tem problema. A história e a origem dão credibilidade para o presente das pessoas. Era inimaginável até outro dia que chegássemos a esse momento no Brasil. Não tem um candidato que represente a direita. É fantástico. (…) Antigamente, a campanha era o candidato de centro-esquerda ou de esquerda contra os trogloditas de direita. Começou a melhorar já comigo e com o Fernando Henrique Cardoso, já foi um nível elevado. Depois, eu e o Serra também. Depois veio o Alckmin e baixou o nível, por conta dele, não por minha conta “.

Trata-se de soma impressionante de bobagens, além de revelar uma concepção obviamente autoritária, estúpida, de democracia.

Comecemos pelo óbvio. O próximo pleito, segundo diz, será o primeiro sem candidatos de direita – mas ele próprio admite que já não havia a tal “direita” quando ele disputou com Fernando Henrique, em 1994 e 1998, e com Serra, em 2002. Assim, 2010 será a primeira vez, além, naturalmente, das outras três vezes!!! É um portento da coerência! Em seguida, vem o ataque bucéfalo a Geraldo Alckmin, que mistura um pouco de tudo, especialmente rancor pessoal e frustração.

O rancor pessoal deriva do fato de que o ex-governador de São Paulo, na disputa de 2006, ousou confrontá-lo. Nem entro no mérito se a dureza a que o tucano recorreu nos debates foi eleitoralmente positiva ou não — o resultado demonstra que não era bem aquele o caminho. Mas isso não muda o fato de que Lula ficou com ódio, guardou rancor. Não aceita ser contraditado. Como se nota, ele joga na boca do sapo o nome dos adversários sem hesitar um miserável minuto. Mas considera inaceitável ser contraditado. Ora, qual foi a “baixaria” de Alckmin? Não existiu. A frustração está no fato de que Alckmin vencerá a disoputa ao governo de São Paulo, pouco importa o candidato do PT, se é que haverá um. Trato deste particular no post seguinte.

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Agora vamos o mérito político e moral do que ele disse. Concordo com Lula num aspecto: com efeito, não existe direita disputando a eleição, mas o fato antecede 1994. Em 1989, já não havia. Fernando Collor não é de direita – classificá-lo assim, antes ou agora, é puro preconceito contra a… direita! Ademais, ainda que ele fosse, de quem o ex-presidente é aliado hoje em dia?

Saudar o fato de que não existe um candidato de direita e considerar isso uma evolução do processo político corresponde a afirmar que uma parte do espectro ideológico deve ser impedida de se manifestar politicamente. Partidos considerados “de direita” disputam eleições em todas as democracias do mundo. Digam-me uma só em que isso não acontece. Está alijada da disputa, em razão de atos de força, em ditaduras ou protoditaduras.

Mas recorramos a uma sintonia ainda mais fina para desmontar o que disse o valente. Segundo ele, em 2010, não haverá mais direita, embora uns possam “não ser mais tão esquerda quanto eram”. E Lula? Será Lula “tão esquerda” quanto ele era? Será que não aconteceu justamente o contrário? A ESQUERDA É QUE TEVE DE SE FANTASIAR, DE NEGAR O PRÓPRIO CREDO, PARA SE ELEGER. O Lula que foi eleito em 2002 jamais governou. Ou alguém se atreveria, no governo ou fora dele, a apontar o coração vermelho de Henrique Meirelles? A única coisa vermelha que há lá é sangue, não é mesmo?

Lula, para variar, inverte o sinal da história. A esquerda é que está morta no Brasil. Mesmo a marca do estatismo que o Lula do segundo mandato imprime à economia guarda mais semelhança com o capitalismo de estado do Regime Militar do que com qualquer modelo de esquerda.

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E agora vamos ao meu título. Lula está entregando os pontos – eu diria que precocemente. Ânimo, presidente!  Está avaliando que é difícil emplacar a sua candidata, aquela escolhida na base do dedaço. E, assim, tenta fazer da possível vitória de José Serra, o provável candidato da oposição, uma vitória sua, pessoal, ainda que não do PT.

A história contada por este senhor é falsa. Ele é que teve de escrever a Carta ao Povo Brasileiro para se eleger. Ele é que teve de se ajoelhar no altar do mercado. A esquerda é que perdeu. “Então Dilma não é de esquerda?” É, sim. Mas jamais faria um governo tipicamente “de esquerda”, o que não quer dizer que não seja estatista e evidencie um óbvio perfil autoritário.

Em todo caso, o que interessa é que Lula se traiu e deu a entender que o governo vai perder as eleições. Tomara que ele esteja certo. Que o povo o ouça!

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