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Lula diz em Diadema por que se deve votar em Serra em São Paulo. Ou: Dois ministros despudorados

O PT está na Prefeitura de Diadema desde 1983 — em 1982, elegeu-se Gilson Menezes, que está hoje no PSB. Seu sucessor foi José Augusto, agora deputado estadual pelo PSDB. Depois de 30 anos, o mandarinato petista exibe sinais de fraqueza. O prefeito Mário Reali pode perder a disputa para Lauro Michels, do PV, que […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h35 - Publicado em 22 out 2012, 07h01

O PT está na Prefeitura de Diadema desde 1983 — em 1982, elegeu-se Gilson Menezes, que está hoje no PSB. Seu sucessor foi José Augusto, agora deputado estadual pelo PSDB. Depois de 30 anos, o mandarinato petista exibe sinais de fraqueza. O prefeito Mário Reali pode perder a disputa para Lauro Michels, do PV, que conta com o apoio do governador Geraldo Alckimin (PSDB). Michels lidera as pesquisas de intenção de voto. Diadema tem o simbolismo de ser a primeira cidade conquistada por um petista, mas também é uma fornecedora de quadros. José de Fillipi, ex-prefeito, foi tesoureiro da campanha de Dilma.

Muito bem! Luiz Inácio Apedeuta da Silva fez um comício ontem na cidade. Estava acompanhado dos ministros Aloizio Mercadante (Educação) e José Padilha (Saúde), que se comportaram — e não estou surpreso — de modo absolutamente despudorado. Já falo sobre os valentes. Quero me deter um pouco no despudor do Apedeuta Inácio.

Segundo informa José Maria Tomazela no Estadão, Lula foi tomado de um estranho ímpeto conservador em Diadema. Em São Paulo, o PT fala em nome do novo (como se não estivesse unido às forças que governaram 16 dos últimos 24 anos na cidade). Em Diadema, ora vejam, Lula pediu que a população repudie o novo. E se saiu com um argumento realmente estupendo. Disse que, em 1989, no Brasil, a população resolveu recusar os políticos experientes como Mário Covas e Ulysses Guimarães e acabou elegendo Collor: “Vocês viram a desgraça que deu”.

Não sei se o que mais me fascina é o Lula historiador ou o Lula pensador. De fato, em 1989, a população acabou fazendo a escolha por duas novidades: Collor e… o próprio Lula, que disputou com o outro o segundo turno. Com efeito, foi uma desgraça. Mas a desgraça petista não teria sido menor — aliás, com absoluta certeza, teria sido muito maior. Collor foi impichado e se recolheu à sua mediocridade. Os petistas — que ainda prometiam dar calote na dívida púbica — teriam conduzido o país ao caos, mas resistiram bravamente em largar o osso. O Babalorixá de Banânia esqueceu-se de dizer no palanque em Diadema que ele próprio recusou o apoio de Ulysses no segundo turno porque se negava a compor com “partidos da burguesia”… É a segunda vez que Lula evoca como referência negativa seu agora aliado Fernando Collor. Em São Paulo, ele se referiu ao ex-presidente para atacar o experiente Serra; em Diadema, para atacar a novidade Michels.

Entendi, segundo o discurso de Lula, que o melhor para São Paulo, por exemplo, é mesmo Serra, embora ele tente empurrar Haddad para a cidade. Por quê? Operando com categorias da alta política, pensou: “Vocês viram o que aconteceu com a Carminha, ela trocou o certo pelo duvidoso. Nós agora estamos vendo aqui em Diadema as mesmas fantasias. Temos de votar em pessoas que têm história”.  Explicando por que Dilma não deveria ter sido eleita em 2010, afirmou: “Colocar alguém que não administrou nem a cozinha de sua casa não é bom”. Num rasgo de criatividade e admitindo que a gestão de Reali em Diadema é meia-bomba, refletiu: “Mais vale um pássaro na mão que dois voando; se alguém da família tem um problema, a gente corrige, não troca de família”. Diadema, como se vê, teria virado quintal da família… Lula! Como estava num dia iluminado mesmo, ofereceu sua própria relação conjugal como exemplo: “Estou há 38 anos com a Marisa e, até agora, não consegui cumprir todas as promessas, mas estamos juntos, e ela sabe que não pode trocar o certo pelo duvidoso”.

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Indecorosos
No sábado, Alckmin esteve na cidade para deixar claro seu apoio a Michels. Apelando a uma notável delinquência intelectual (e eu explicarei por que é), Aloizio Mercadante, ministro da Educação, afirmou: “São Paulo vai votar no Haddad porque o PSDB do FMI, das privatizações e do pedágio não fez o que prometeu para o povo”. Mercadante conseguiu um doutorado mandraque em economia com uma tese puxando o saco de Lula (que nunca o quis como ministro), que foi alvo da ironia até do neopetista Delfim Netto, que estava na banca. Para todos os efeitos, é doutor em economia. Afirmar que existiu um “PSDB do FMI” é indigno de alguém que ocupa a pasta da Educação. Trata-se de uma mentira histórica, de uma pistolagem acadêmica, de uma fraude.

Os petistas, por acaso, não aderiram às privatizações, que antes satanizavam? Aliás, ele está à frente do ministério que mais recursos passa ao setor privado, por intermédio do ProUni, que deixa Elio Gaspari tão excitado… Quanto ao pedágio, o candidato derrotado ao governo de São Paulo em 2006 e 2010 insiste numa tese recusada pelos paulistas. Os petistas tentaram seu próprio método de privatização de estradas e naufragaram. Seu modelo cobra um tarifa realmente pequena — mas o motorista tem de se contentar com os buracos, com as pistas não duplicadas, com as obras malfeitas… É o fim da picada que um ministro de estado possa recorrer a uma retórica ainda mais baixa do que a de Lula, que hoje é só um líder político.

Mercadante é pré-candidato do partido à sucessão de Geraldo Alckmin. Mas dividia o palanque com um potencial adversário interno: Alexandre Padilha, ministro da Saúde. “Ao lado do verde, está o governador das catracas”, atacou Padilha. Os petistas acusam o governo do Estado de ter acabado a integração entre o transporte coletivo local e o sistema de transportes metropolitano. É uma besteira! Imaginem vocês: estes senhores, em nome do governo, do estado brasileiro, estarão negociado amanhã ou depois com o governo de São Paulo, com o seu governador… São falas descabidas.

Perguntem se os ministros — que lá são “secretários” — de Obama saem por lá a deitar proselitismo. Se o presidente pode, ele próprio, fazer campanha porque, afinal, depende de uma espécie de referendo dos eleitores para continuar (ou sair), uma República repudia que homens da administração propriamente, que governam para todo o povo — também para quem vota na oposição —, o façam. O que não dizer então de o primeiro escalão se metendo em eleições locais? Trata-se de uma questão que nem se coloca numa democracia organizada.

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Essa história de que estão num dia de folga e podem falar como militantes é uma piada. Por acaso, os respectivos assessores dos senhores ministros, pagos com dinheiro público, não foram mobilizados? Nao se deslocaram de Brasília para São Paulo? Aliás, quem paga a conta?  Mais: ainda que se admita que possam expressar seu ponto de vista, é evidente que há modos e modos de fazê-lo. Dilma havia dito que seus ministros ficariam fora das campanhas. Como a gente vê, nem eles nem ela.

Mercadante, Mercadante… Não é aquele rapaz cujo assessor foi pego carregando uma mala preta com R$ 1,7 milhão para pagar a bandidagem que faria um dossiê contra Serra em 2006 (os tais aloprados)? É ele, sim! Não é aquele rapaz que, naquele mesmo ano, se dizia “doutor” em economia sem nunca ter sido? É ele, sim! Não é aquele rapaz que, durante o escândalo dos atos secretos de José Sarney, anunciou no Twitter que renunciava à liderança do PT no Senado em caráter “irrevogável”, revogando em seguida a decisão? É ele, sim!

Quanto a Padilha… A saúde no Brasil vive uma tal crise que chega a ser uma acinte que este senhor saia fazendo campanha eleitoral por aí. Mas esses são eles. Estamos falando de uma estirpe moral.

Texto publicado originalmente às 4h40
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