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Juan Carlos I, da Espanha, renuncia; o fato, em si, é desimportante, mas o rei deixa a marca da moderação

O rei Juan Carlos, da Espanha, renunciou ao trono em favor de Felipe, príncipe das Astúrias, seu filho. Sabem o que isso quer dizer? Nada! Numa monarquia constitucional, como a espanhola, o soberano (ou soberana) é um chefe de estado, mas não desempenha papel nenhum no governo. Quando, na Inglaterra, Margaret Thatcher decidiu ir à […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 03h45 - Publicado em 2 jun 2014, 16h14

O rei Juan Carlos, da Espanha, renunciou ao trono em favor de Felipe, príncipe das Astúrias, seu filho. Sabem o que isso quer dizer? Nada!

Numa monarquia constitucional, como a espanhola, o soberano (ou soberana) é um chefe de estado, mas não desempenha papel nenhum no governo. Quando, na Inglaterra, Margaret Thatcher decidiu ir à guerra contra a Argentina por causa das Malvinas, Elizabeth II recebeu apenas um aviso. Abençoou, digamos assim, a esquadra e pronto. Nada mais lhe restava a fazer. Também o poder de Juan Carlos I é simbólico, como será o de Felipe 6º quando for coroado.

Não deixa de ser curiosa a forma como, na prática, foi recriada a monarquia espanhola. Em 1969, por um ato de vontade — as leis, imaginem vocês, lhe conferiam tal direito —, o ditador Francisco Franco declarou que Juan Carlos era rei e o sucessor da Coroa. Quatro anos depois, em junho de 1973, já doente, o ditador transfere a função executiva de governo para Luis Carrero Blanco, assassinado em dezembro do mesmo ano pelo ETA, num atentado espetacular. O grupo cavou um túnel até as imediações do lugar em que sabia que passaria o carro do então chefe de governo e explodiu 100 quilos de uma substância chamada Goma-2, à base de nitroglicerina. A explosão foi tão violenta que o veículo foi alçado a mais de 20 metros, voando sobre o teto de um edifício e caindo do outro lado, num pátio. O ETA  apostava que o atentado levaria a um recrudescimento do regime e à eclosão revolucionária. Aconteceu o contrário.

O franquismo não tinha sucessores, e o regime já caía de podre. Franco passa por uma longa enfermidade e morre no dia 20 de novembro de 1975. Juan Carlos nomeia, então, um governo de transição e se realizam, em junho de 1977, as primeiras eleições democráticas no país desde 1936. Elege-se o conservador Adolfo Suárez, que já vinha exercendo o governo do país por delegação do rei.

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Foi um ano vital para a história da democracia espanhola. Em outubro daquele ano, celebram-se os chamados “Pactos de Moncloa”, numa referência ao Palácio de la Moncloa, que abrigou os mais diversos representantes da sociedade espanhola — ficando de fora apenas algumas correntes de extrema esquerda — para encaminhar algumas soluções de compromisso na economia e na política.

Juan Carlos foi importante porque se transformou no fiador do acordo que uniu a direita, os liberais e a esquerda moderada. O PSOE, o Partido Socialista Espanhol, foi aquele que mais rapidamente operou uma guinada para o centro. Em setembro de 1979, o partido renuncia definitivamente ao marxismo e chega ao poder em 1982 com Felipe González, que fica à frente do governo do país por longos 14 anos.

Entre 1977 e 1996, Suárez e González transformaram a acabrunhada Espanha franquista numa das mais dinâmicas economias da Europa. Nos anos recentes, esteve entre os países que mais sofreram com a crise europeia — mas já era um sofrimento de país desenvolvido. No período, Juan Carlos soube encarnar a estabilidade e a moderação, ainda que seu poder fosse apenas simbólico. O poder, em suma, do rei da Espanha — e das monarquias constitucionais europeias — está justamente em não ter poder nenhum, o que lhe confere autoridade moral para representar o país.

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