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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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José Eduardo Cardozo se enrola ainda mais; caso é muito mais grave do que o dos aloprados porque, desta feita, órgãos do estado podem estar servindo à lambança

No sábado, escrevi aqui que José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, tinha de se demitir ou ser demitido. Algumas almas bondosas acharam que eu estava exagerando. Pois é… Eu não estava. Infelizmente para o Brasil, o ministro da Justiça se meteu numa operação escandalosa, própria de um estado policial, não de um regime democrático. Vamos ver. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 04h55 - Publicado em 27 nov 2013, 06h42

No sábado, escrevi aqui que José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, tinha de se demitir ou ser demitido. Algumas almas bondosas acharam que eu estava exagerando. Pois é… Eu não estava. Infelizmente para o Brasil, o ministro da Justiça se meteu numa operação escandalosa, própria de um estado policial, não de um regime democrático. Vamos ver.

Vocês já conhecem este jogo: o PT acusa a imprensa de ser tucana, e boa parte dos veículos de comunicação se encarrega, então, de provar que isso não é verdade. Como? Dando destaque máximo a toda e qualquer denúncia que tenha o PSDB como alvo. A prática vale por um “Vejam como somos isentos”. Desde o primeiro momento, as evidências de que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), sob o comando do petista Vinicius Carvalho, estava a serviço da guerra político-partidária eram gritantes. Não vou aqui recuperar detalhes do caso, que vocês já conhecem. Sintetizo: os termos do acordo de leniência assinado pela Siemens e seus diretores eram desconhecidos, e a apuração feita pelo conselho era dita “sigilosa”, mas informações eram cuidadosamente pinçadas e vazadas para comprometer o governo de São Paulo. Nesta segunda, veio à luz o dado escandaloso Atenção! Apontar a tramoia não quer dizer necessariamente que não tenha havido formação de cartel; que se apure tudo. O ponto é outro.

O PSDB demonstrou, nesta segunda, que a tal “carta-denúncia” em que Everton Rheinheimer, ex-diretor da Siemens, aponta a formação de cartel em São Paulo tem duas versões: uma em inglês e outra em português. Informa o Globo:
Um dos trechos do documento, em inglês, diz que autoridades brasileiras estão investigando o envolvimento da Alstom no pagamento de suborno a autoridades governamentais em vários projetos no Brasil, entre eles o da Linha G da CPTM (Metrô de São Paulo). Na versão para o português, segundo o documento divulgado pelo PSDB, aparece que “durante muitos anos a Siemens vem subornando políticos (na sua maioria) do PSDB e diretores da CPTM, Metrô de São Paulo e Metrô de Brasília”. O documento traduzido também cita o nome de lobistas envolvidos no caso do Metrô paulista que não constariam do original.

É o fim da picada! O texto original não faz menção ao PSDB nem cita nomes de políticos. Já a versão em português é pródiga em acusações. Mas quem, afinal de contas, entregou as duas à polícia? Não há uma só alma, mesmo a mais pia, que não tenha a certeza de que foi mesmo o Cade, conforme, aliás, havia informado em memorando a própria PF. Ocorre que, no texto, Rheinheimer confessa que manteve encontros prévios com Carvalho, que espera ser protegido pelo partido (PT) e que conta com um emprego na Vale. Mais: ele se dispõe a indicar quem deve ser investigado e onde realizar mandados de busca e apreensão. É claro que isso vai muito além de um acordo de leniência. Já se trata de uma operação de caráter partidário, e o Cade não pode manter esse tipo de relação. Torna ilegal o acordo. Logo, urgia desmentir a PF e criar uma nova versão.

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Eis, então que  Cardozo diz ter sido ele próprio a entregar o material para a PF — material esse que lhe teria sido repassado pelo deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT-SP), atualmente secretário de Serviços de Fernando Haddad. NOTA: Simão Pedro é ex-chefe de Carvalho e autor da denúncia original de formação de cartel. O que dez entre dez pessoas que conhecem o caso dão como certo é que o ministro criou essa versão para proteger o Cade — transformado, àquela altura, num instrumento de luta partidária.

Nem uma versão nem outra trazem a assinatura do ex-diretor da Siemens,  que tentou desmentir a autoria. Bem, autor da versão em português, tudo indica, ele não é mesmo. Resta concluir que o provável tradutor é… Simão Pedro! Ou, então, ele diga quem é, já que, para todos os efeitos, foi quem repassou o material Cardozo…

O caso é enrolado, como quase tudo em que essa gente se mete, e de uma gravidade estupefaciente. Se foi o Cade que passou adiante a vigarice, péssimo. Se foi o ministro da Justiça, ainda pior. Se foi o Cade, e se Cardozo está se oferecendo apenas para lavar a origem da tramoia, aí é mesmo o fim da picada! Com que então alguém na sua posição recebe uma denúncia em inglês, uma versão ampliada em português, com conteúdo distinto do original, e passa o troço para a PF, sem nem fazer um cotejo entre os textos? É assim que age sempre? 

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Houve cartel? Puna-se — depois da devida investigação e do devido processo legal. Só que estamos diante de coisa distinta. Na prática, Cardozo participou de uma máquina de difamação de políticos da oposição. O Garboso insiste que apenas cumpriu a sua obrigação. Não cumpriu, não! Tendo em mãos o original de uma denúncia e sua versão adulterada por interesses escancaradamente eleitorais, deveria ter acionado, sim, a PF, mas para saber quem era o adulterador. Em vez disso, como de hábito, começaram novos vazamentos…

Não exagerei, não! Um ministro da Justiça flagrado numa operação como essa tem de se demitir ou ser demitido. Ou o que se tem é o aceno do governo para um regime policial.

Só para arrematar: os tucanos falaram que o episódio remete ao escândalo dos aloprados. Discordo! É muito pior. Naquele caso, a tramoia existia, sim, mas a quadrilha foi desbaratada pela ação de um policial federal. Desta feita, tudo indica, órgãos do estado exercem o papel contrário. A permanência de Cardozo na Justiça e de Carvalho no Cade, a esta altura, agride o estado democrático e de direito. É simples assim. É complexo assim.

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