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Jango voltou a ser presidente. Então tá. Desta vez, não vai poder fomentar um golpe…

Continuemos a cuidar de assuntos que não têm importância. O Congresso devolveu, nesta quarta, simbolicamente, o mandato a João Goulart. A presidente Dilma estava presente. Também assistiram à cerimônia os chefes das Forças Armadas. Deixem-me ver: falta agora rever o golpe do Estado Novo e o que decretou a Proclamação da República, que também foi […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 04h46 - Publicado em 19 dez 2013, 05h50

Continuemos a cuidar de assuntos que não têm importância. O Congresso devolveu, nesta quarta, simbolicamente, o mandato a João Goulart. A presidente Dilma estava presente. Também assistiram à cerimônia os chefes das Forças Armadas. Deixem-me ver: falta agora rever o golpe do Estado Novo e o que decretou a Proclamação da República, que também foi uma quartelada.

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), como presidente do Congresso, pediu desculpas pelas “inverdades patrocinadas pelo estado brasileiro”. Jango foi chamado de um patriota. Como se sabe, os restos mortais do ex-presidente foram exumados para que se apure uma delirante hipótese de assassinato. O João Goulart que mergulhou o país no caos político desapareceu. Sobrou um suposto estadista, que teria sido derrotado pelas forças do mal. Aí, meus caros, eu tenho de remetê-los para um autor que vocês conhecem bem: Marco Antonio Villa, que escreveu o livro “Jango, um Perfil”. Precisa ser lido.

Villa não justifica o golpe — isso é tolice. Mas evidencia como, nos meses finais, não passou dia sem que o presidente desse a sua inestimável colaboração à quartelada. Seu último discurso foi redigido por Luiz Carlos Prestes, o líder comunista. Reproduzo abaixo trecho de uma entrevista de Villa concedida à Folha em 2004. Volto em seguida:

Folha – Em sua opinião, o Comício da Central precipitou o golpe?
Marco Antonio Villa – Criou-se uma mitologia sobre o comício, como se ele tivesse sido o elemento que levasse à queda de Jango. Não é verdade. Foi organizado como meio de o governo pressionar o Congresso a aprovar uma série de reformas, as quais o próprio governo ainda não havia enviado. Tanto que no dia seguinte, um sábado, não aconteceu absolutamente nada. Jango assina o decreto do congelamento de aluguéis e vai para Brasília, onde, no domingo, Darcy Ribeiro, então chefe da Casa Civil, leva a mensagem presidencial ao Congresso, que iniciava o ano legislativo. Ainda houve uma recepção no Palácio do Planalto naquela noite, em que Jango se encontra com Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara e na prática o vice-presidente, e Auro Moura Andrade, do Senado. O governo considerava a situação tão tranqüila que o ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, anuncia viagem de duas semanas para os EUA. Há outra lenda, de que o Congresso era contra as reformas, mas os deputados e os senadores só souberam do desejo e do teor das reformas por meio daquela mensagem presidencial lida no dia 15, portanto dois dias depois.

Folha – Mas o discurso de Jango não foi considerado incendiário?
Villa – Não, em termos políticos é absolutamente idêntico a uma série de discursos que ele vinha fazendo no mês de março, em visitas a universidades e guarnições militares. O radical naquela noite foi Leonel Brizola. Ali sim você tem alguém que quer fechar o Congresso Nacional.

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Folha – E a presença ostensiva do Exército no ato?
Villa – Primeiro, servia para mostrar o suposto apoio militar a Jango, reforçado pelo comparecimento dos três ministros militares no palanque. Segundo, naquela época não se dissociava muito o prestígio político das armas, político forte era o que tivesse votos mas também o apoio militar.

Folha – E a ameaça do golpe, já estava no ar?
Villa – Vários grupos lutam pela hegemonia política naquele período. De um lado a direita, contra qualquer tipo de reforma. Do outro lado, os brizolistas e os comunistas, aliados a Jango, mas todos com projeto próprio. Se você consultar o jornal “Panfleto” do começo de 1964, verá que o próprio Brizola dizia considerar Jango um indeciso. O Partidão era um aliado do presidente, mas havia também pequenos agrupamentos de extrema-esquerda, como o PC do B, criado dois anos antes, e a Polop. O que une ambos os lados é que todos querem chegar ao poder por golpe, seja os militares, seja Brizola e mesmo Jango, no caso para continuar no poder. Tanto é assim que o golpe veio.
(…)

Volto
Esse esforço para, literal e metaforicamente, desenterrar cadáveres só serve aos vivaldinos de hoje. O processo de heroicização de João Goulart busca transformar a história numa luta entre bons e maus — cada grupo, é evidente, com o seu devido viés ideológico. Assim, as esquerdas que estão no poder seriam as herdeiras daquele grande patriota, que só queria o bem do Brasil. Os adversários dos poderosos de agora, por óbvio, se alinhariam com aqueles que derrubaram Jango. Trata-se, obviamente, de uma farsa cretina.

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