Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

Infelizes do Brasil, uni-vos!

Infelizes do Brasil, uni-vos! Há o risco de que vocês comecem a apanhar de vara na rua, mais ou menos como a polícia religiosa faz em certos países islâmicos com o nobre intuito de resguardar a fé. Por lá, levam varadas as mulheres desacompanhadas ou que não se comportam segundo o decoro… Por aqui, as […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 13h40 - Publicado em 10 nov 2010, 17h06

Infelizes do Brasil, uni-vos! Há o risco de que vocês comecem a apanhar de vara na rua, mais ou menos como a polícia religiosa faz em certos países islâmicos com o nobre intuito de resguardar a fé. Por lá, levam varadas as mulheres desacompanhadas ou que não se comportam segundo o decoro… Por aqui, as Milícias da Felicidade buscariam enquadrar aqueles que não conseguiram, sei lá, encontrar o ser que os protegesse “contra o não-ser universal, arcano impossível de ler”, como disse o poeta. Se preciso, o estado ministrará aos desafortunados doses do “Soma”, uma droga sem efeitos colaterais, que induz à imediata felicidade, como em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Nós somos assim: não há bobagem benigna que não estejamos dispostos a experimentar.

A PEC da Felicidade, como está sendo chamada, é de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que acaba de ser reeleito. Certamente ele não vislumbrou nada de mais urgente no país. Hoje, o Artigo 6º da Constituição está assim redigido: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” O senador achou que o paraíso não estava devidamente assegurado e resolveu explicitar a coisa. A redação ficaria assim: “São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”

Sabem o que é mais fabuloso nisso tudo? As falsas informações que vão circulando, tentando demonstrar que o Brasil estaria seguindo o passo de outros países. A Constituição da França traria assegurado esse direito. A íntegra está aqui. “Felicidade”, em artigo, não tem, não! No preâmbulo, o texto, de 1958, explicita sua adesão aos princípios gerais da Constituição anterior, de 1946, que, com efeito, fica a um passo de instituir o paraíso na terra, mas não chega a tocar na palavra “bonheur” (felicidade), que aparece, sim, no preâmbulo da “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, de 1789, que a Constituição diz ser também um de seus fundamentos.

Também se diz que a Constituição do Japão assegura a felicidade. A íntegra está aqui. Os mistificadores certamente se referem ao Artigo 13. É uma pilantragem intelectual. Ela estabelece que o direito “à vida, à liberdade e à busca da felicidade” deve ser o principal objetivo do legislador, mas atenção!, só na medida em que não agrida o “bem-estar público”. Eu diria que o sentido é contrário àquele alardeado.

Continua após a publicidade

O outro país de referência é a gloriosa monarquia do… Butão! Essa bobagem se espalhou depois que Pablo Guimón, do jornal espanhol El País, fez uma reportagem cantando as glórias daquele país, onde o monarca se saiu com a máxima de que, mais importante do que o PIB, é a FIB — ou seja, em vez de os países se notabilizarem pelo seu Produto Interno Bruto, devem ser conhecidos pela Felicidade Interna Bruta. Também no Butão, existem 3% de recalcitrantes: a reportagem do El País informa que 52% da população do país se declarou “feliz”; 45%, muito feliz, e só 3% teve a ousadia de se dizer “infeliz” (mesmo índice que acha Lula “ruim ou péssimo” no Brasil).

Mas eu entendo essa invejável taxa de felicidade bruta do Butão. Só 47% da população é alfabetizada (165º no ranking mundial), a mortalidade infantil é de 45/1000 (131º), e o IDH, 0,619 (132º). O Brasil mesmo é a prova de que a população não precisa nem de esgoto para ser feliz ou para “aprovar” o governo. Monteiro Lobato, que o governo Lula tentou censurar, é que achava que não se podia ser feliz de cócoras, no mato. É claro que sim!

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.