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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Imprensa 1 – Pluralidade e sectarismo: a revistona e a revistinha

Naquele debate a que fui, na São Francisco — já escrevi alguns posts a respeito —, os 13 alunos extremistas esqueceram “Cuba e as perspectivas da esquerda na América Latina” para me indagar sobre a linha editorial de VEJA, estimulados, é verdade, pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP). Segundo o político, a revista “nunca dá o […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 19h47 - Publicado em 11 mar 2008, 08h13
Naquele debate a que fui, na São Francisco — já escrevi alguns posts a respeito —, os 13 alunos extremistas esqueceram “Cuba e as perspectivas da esquerda na América Latina” para me indagar sobre a linha editorial de VEJA, estimulados, é verdade, pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP). Segundo o político, a revista “nunca dá o outro lado”. Na resposta, tive de conter o veio, vamos dizer, galhofeiro do meu temperamento… Estendeu a acusação, na verdade, como constataram os presentes, a toda a chamada “mídia burguesa”. Quase tenho coceira ao debater isso em 2008. Ou, então, sinto vontade de espirrar, como quem abre um baú cheio de ácaros ideológicos. Valente diz que a grande imprensa não lhe dá espaço porque não é democrática, monopolizada por algumas famílias. De fato, é uma injustiça. Acho que a mídia precisa ouvir o que ele tem a dizer sobre o socialismo e a extinção da propriedade privada…

Na minha resposta, perguntei ao deputado e aos presentes o que impedia as esquerdas de fazerem, então, a sua própria “VEJA”. Por que não se esforçam para criar uma revista de 1.200.000 exemplares que reproduza o seu ponto de vista? É possível que lhes faltem anunciantes, mas certamente não lhes faltará grana, já que são muito serelepes em meter a mão no dinheiro público. Veja-se a milionária operação da Lula News. Quem assiste ou vai assistir àquele troço? Também indaguei, indagação meramente retórica, se a imprensa nanica dá o tal “outro lado”. Seria esta uma obrigação da VEJA, mas não, por exemplo, da Carta Capital?

Pois é. Confesso que cometi um gesto tresloucado. Desci ontem à tarde à banca de jornal para comprar cigarros — o que não recomendo — e acabei comprando a Carta Capital, o que também não recomendo, embora o risco de viciar seja inferior a zero. Mino Carta, de fato, vai tornando as revistas que ele já fez, as do passado, cada vez melhores, se é que vocês me entendem…

Olho a Carta: 68 páginas, apenas seis de anúncio, um deles do Banco do Brasil. A revista informa que a tiragem é de 73.200 exemplares. É mesmo? Sendo assim, quem paga a operação? A menos que a redação tenha optado pelo trabalho escravo ou que seus anúncios sejam os mais caros do Brasil, esse troço dá um prejuízo gigantesco. Ou, então, a tiragem é muito menor — eu chutaria um quinto do alardeado. Mas isso é literalmente o de menos agora.

Fui ler o que Carta Capital — afinal, uma revista nanica, “de esquerda” — escreveu sobre a crise colombiana. Na capa, a foto do presidente colombiano, Álvaro Uribe, com o fantasma do presidente americano atrás. E o título: “Só Bush está com ele”. No “olho” (jargão revisteiro para subtítulo), a seguinte formulação: “O continente rejeita o ‘ataque preventivo’ do colombiano Uribe”. Ah, isso é que é isenção, não a da VEJA!!! Reparem quanta ponderação! Observem o apreço pela verdade! A Colômbia sofre o ataque das Farc há 40 anos; do Equador, partiram nada menos de 40 ações terroristas desde 2004, e a objetividade jornalística de Carta Capital, cantada em prosa e verso por Mino Carta, com aquele seu texto sempre cheio de fricotes e brocados cafonas, assegura que se tratou de um “ataque preventivo”.

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Aí migrei para a reportagem, cujo título é “Selva, sangue e mentiras”. Os terroristas das Farc, que seqüestram civis (há perto de 700 em seus campos de concentração), torturam, matam e traficam droga são chamados de “guerrilheiros”, como quer Marco Aurélio Garcia. Não há uma só voz dissonante no texto, nada. Trata-se de uma peça escrita para demonizar Álvaro Uribe, tratado como mero capacho de Bush — ignora-se que tem o apoio da esmagadora maioria dos colombianos e que quase 90% da população apoiou suas atitudes. Já o presidente do Equador, Rafael Correa, é tratado como um herói da resistência. Aponta-se até a sua sagacidade por ter oferecido à China, a partir de 2009, a base Manta, hoje com os americanos. Vocês entenderam: para Mino Carta — uma espécie de Hugo Chávez da Carta Capital —, uma base chinesa na América do Sul parece ser uma idéia bacana…

A revista achou que ainda não era o bastante: num rasgo de imaginação, provocando a inteligência do seu leitor com uma questão transcendental, indaga o que aconteceria se o México invadisse os Estados Unidos para caçar terroristas. Huuummm… Pergunta: existem terroristas mexicanos abrigados nos Estados Unidos?

Que vai?
Quem vai cobrar “pluralidade” da Carta Capital? Ninguém! Em primeiro lugar, porque lhe faltam leitores para formar, vá lá, alguma massa crítica. Em segundo lugar, porque os gatos-pingados que a lêem são, antes de tudo, militantes. E lhes conforta o espírito a leitura daquilo que acham que já sabem; vale dizer: a revista vive da pura reiteração de ladainhas. A pluralidade seria uma obrigação da VEJA, da Globo, do Globo, da Folha, do Estadão, da chamada grande imprensa. E mais interessante: por “pluralidade”, as esquerdas entendem o seu ponto de vista, este de Carta Capital.

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Estou, então, afirmando que VEJA e Carta Capital são realidades opostas, mas combinadas? A Carta seria a anti-VEJA? Bem, em primeiro lugar, ela precisaria vender, calculo, umas 90 (NOVENTA!!!) vezes mais para ser uma rival. E, ainda que fosse assim, fazendo como faz Mino Carta, continuaria a ser uma antítese do jornalismo.

O que é possível encontrar no vasto material que VEJA publicou a respeito do caso Colômbia-Equador?
– O relato objetivo do que é fato;
– as Farc tratadas como “terroristas”, não como “guerrilheiras”. Não é uma vontade da revista apenas: é a designação universalmente consagrada para forças que usam inocentes civis para tentar impor a sua vontade e/ou a sua agenda;
– a afirmação de que a Colômbia violou, sim, a soberania territorial equatoriana;
– as evidências de que Equador e Venezuela atuam em cooperação com os guerrilheiros;
– a avaliação — com o que, em particular, não concordo (mas VEJA é uma das maiores revistas do mundo, não uma seita) — de que o Brasil agiu com correção na crise;
– a constatação de que a diplomacia brasileira tem um Lado B — no caso da América Latina, há as vinculações do PT com o Foro de São Paulo;
– no caso do Foro, diga-se, a revista lembrou alguns casos em que o Brasil segue as diretrizes do grupo, mas também outros em que não segue;
– a revista demonstra o papel hoje desempenhado por Hugo Chávez no continente, o que Carta Capital ignorou solenemente;
– informa que ex-guerrilheiros e ex-milicianos invadiram a Venezuela e submetem a população da fronteira às suas leis.

A cobertura, em suma, é muito mais ampla, com mais páginas e mais profissionais dedicados ao assunto, o que é, vá lá, compreensível, já que se trata de um grande revista comparada a uma nanica. O fundamental é constatar que VEJA expressa, sim, o seu ponto de vista no material publicado — contra o terrorismo; contra a guerra; a favor da legalidade —, mas conserva, ela sim, a tal pluralidade, sem permitir que isso se confunda com pusilanimidade.

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Mas que fique claro: não é o gigantismo da VEJA que a faz ser o que é. Não é o naniquismo de Carta que a faz ser o que é. Podemos estar diante uma relação causal, sim, mas outra: as duas revistas fazem escolhas éticas. As de VEJA lhe conferem a posição que ocupa hoje. As de Mino Carta também.

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