Hora de fazer oposição??? Se não agora, quando?
Escrevi ontem alguns posts sobre a entrevista concedida por Lula, em que satanizou a oposição. O Jornal Nacional levou ao ar um pequeno trecho da fala, que nem de longe deu conta da virulência do ataque. Líderes oposicionistas, ao longo do dia, responderam com a dureza necessária às acusações absurdas. Aécio Neves, ex-governador de Minas […]
Escrevi ontem alguns posts sobre a entrevista concedida por Lula, em que satanizou a oposição. O Jornal Nacional levou ao ar um pequeno trecho da fala, que nem de longe deu conta da virulência do ataque. Líderes oposicionistas, ao longo do dia, responderam com a dureza necessária às acusações absurdas. Aécio Neves, ex-governador de Minas e senador eleito, foi escolhido pelo JN como “o” representante da oposição. Sua fala foi a seguinte:
“É importante que aqueles que venceram as eleições, e venceram de forma legítima, compreendam que, na democracia, muitas vezes o papel da oposição é tão relevante quanto o papel daqueles que venceram as eleições“.
Não sei quanto ele falou. Comento o que foi ao ar. Transcrita, a fala tem 177 caracteres. Mais de um terço, 67, é destinado a destacar a legitimidade do governo eleito, o que está fora de questão. O resto é ok, com uma pequena ressalva: não é “muitas vezes”, não, que o papel da oposição “é tão relevante quanto o papel” dos vitoriosos. É sempre! Sem oposição, não há governo. Se houver, é ditadura. Se não for ditadura, então estamos no céu, onde não há política.
Minha fala é clara; não faço jamais críticas oblíquas. Aécio, sem dúvida, é uma das figuras de destaque da oposição — já era em tese. Mas, no Brasil, chefes de Executivo nunca são considerados lideranças oposicionistas. Quando assumir seu posto no Senado, convém reservar todos os 177 toques para defender a legitimidade da oposição. Não serei eu a lhe ensinar o que fazer, é evidente – já que tenho senso de ridículo. O que sei é que a fala acomodatícia de boa parte da oposição, ao longo de oito anos, resultou em sucessivas derrotas. Quando menos, por amor aos fatos, cumpre destacar que a oposição jamais fez o jogo do “quanto pior, melhor” — tampouco no caso da CPMF.
Basta recuperar os embates de 2007 para perceber que o próprio governo não se mobilizou o suficiente para vencer a batalha — e tinha maioria. Queria, como vai querer no futuro, dividir o ônus com a oposição. Ficou cinco anos com a bufunfa, período em que a Saúde, em vez de melhorar, piorou. A tragédia na área não data do começo de 2008.
Não, eu não estou sugerindo que Aécio ou qualquer outro saia atirando a esmo e dando caneladas. Mas as respostas têm de estar à altura do agravo. É possível ser duro e civilizado a um só tempo. Lula, É TEXTUAL, acusou a oposição de torcer para que o Brasil dê errado, de prejudicar os mais pobres e de ser raivosa. Ok, pode-se dizer que ele é o presidente que sai e que o senador eleito é candidato a liderar a oposição à presidente que entra. Ocorre que foi escolhido pelo JN para comentar a fala de Lula. Os 43% de brasileiros, alguns milhões deles também eleitores de Aécio, foram igualmente ofendidos pelo petista. Aécio tem justificadas aspirações de liderança. Então vai ter de ajustar a melodia, como poderia lhe recomendar Paulo, o Apóstolo, na Primeira Epístola aos Coríntios:
Da mesma sorte, se as coisas inanimadas, que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara? Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? Assim também vós: se, com a língua, não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? Porque estareis como que falando ao ar.
(I Cor, 14, 7-9)
Flauta ou cítara? Ao longo de oito anos, boa parte da oposição não tocou nem apito. O próprio Aécio foi teórico de um certo pós-lulismo que pedia que se combinasse antes com o petismo… A continuar assim, servirá apenas de coadjuvante do continuísmo. “Ah, lá vai o Reinaldo pegar no pé do Aécio”… Não estou pegando no pé de ninguém, não! Só estou pedindo que se toque cítara quando é o caso de cítara e flauta quando é o caso de flauta. É Aécio que quer ser presidente da República. Eu não quero! Minha única pretensão é civilidade no jogo político e defender o direito legítimo que a oposição tem de se opor. Se esse direito é questionado, como foi por Lula, o corpo teórico que instrui a especulação é a ditadura, não a democracia. Eu duvido que Aécio ou qualquer outro consiga liderar uma oposição mais lhana do que aquela feita ao PT nesses oito anos. Se nem ela serve, que outra servirá? É preciso falar com mais clareza.
Quando é hora de fazer oposição? Na democracia, sempre! Se não agora, quando?