Haddad, um pensador do socialismo!Ou: O homem que quase salvou a União Soviética!!!
Um bobalhão aí, que conseguiu meu e-mail sei lá como, me manda uma mensagem longuíssima — não li até o fim, não, viu? — afirmando que decidi “pegar Fernando Haddad para Cristo” e que meu problema com ele é “ideológico”. Huuummm… Comecemos pelo básico. Haddad e Cristo não combinam numa mesma frase, ainda que seja […]
Um bobalhão aí, que conseguiu meu e-mail sei lá como, me manda uma mensagem longuíssima — não li até o fim, não, viu? — afirmando que decidi “pegar Fernando Haddad para Cristo” e que meu problema com ele é “ideológico”. Huuummm… Comecemos pelo básico. Haddad e Cristo não combinam numa mesma frase, ainda que seja só uma metáfora hiperbólica. E há a minha máxima aqui tantas vezes enunciada: sempre que alguém se compara, de algum modo, a Cristo, sugiro primeiro a crucificação; depois a gente avalia o resto. Qual é, Mané?
Peguei “pra Cristo” nada! É um absurdo sugerir que decidi criticar Haddad agora. Eu faço isso há muito tempo. Desde que ele foi nomeado! Já o caracterizei há muito neste blog — “o típico esquerdista de fala mansa, com ar ideologicamente asseado”. Embora ela possa escrever numa linguagem herbívora, as suas intenções são carnívoras. Num livro publicado em 2004 – Trabalho e Linguagem – Para a Renovação do Socialismo – é capaz de afirmar coisas como: “O sistema soviético nada tinha de reacionário. Trata-se de uma manifestação absolutamente moderna frente à expansão do império do capital“. Fazendo um pastiche vagabundo de Marx, sentencia sobre o passado, o presente e o futuro numa linguagem que parece profunda e sábia, mas que não passa de uma espantosa coleção de bobagens: “Sob o capital, os vermes do passado, por vezes prenhes de falsas promessas, e os germes de um futuro que não vinga concorrem para convalidar o presente, enredado numa eterna reprodução ampliada de si mesmo, e que, ao se tornar finalmente onipresente, pretende arrogantemente anular a própria história. Esse é o desafio que se põe aos socialistas. A tarefa, 150 anos atrás, parecia bem mais fácil”.
Já tive cargo de chefia em redação e já tive revista. Hoje, só mando em mim mesmo, hehe — só a Pipoca me obedece, mas nem sempre. Se, naqueles tempos, um redator qualquer me apresentasse o que vai acima, eu botaria o bruto pra correr, debaixo de chicote. O que significa aquilo, além da tentativa de parafrasear Marx com a habilidade com que Tiririca tentaria se mostrar um ator dramático?
É pouco? Sabem o MST, este que está aí, ameaçando a produção com táticas terroristas? Haddad também pensa algo a respeito da turma: “Trata-se de um movimento que mudou completamente a pauta clássica de reivindicações: ele não reclama maior remuneração ou menor jornada, nem tampouco favores do Estado. (…) Revolucionariamente, o MST quer crédito, apoio técnico e autonomia. (…) São iniciativas dessa natureza, progressivas em todas as dimensões da vida social, que devem sempre chamar a atenção dos socialistas e lhes servir de inspiração para sua conduta política”.
Haddad é formado em direito e se tornou mestre em economia em 1990. O nome de sua monografia? Atenção: “O caráter sócio-econômico do sistema soviético”. Ele exalta os camaradas, é claro, e vê grandes virtudes naquele modelo. Menos de dois anos depois, a União Soviética acabou, o que dá conta da atualidade do pensamento deste rapaz e expõe as suas qualidades de visionário.
O doutorado, ele já foi fazer na filosofia: “O Materialismo Histórico e Seu Paradigma Adequado”. Ele gosta de temas complexos, como a gente nota. O que isso tem a ver com o Enem? Ora, só estou mostrando qual era a experiência intelectual de Haddad e demonstrando como ele costumava lidar com temas terrenos antes de ser levado ao Ministério da Educação para desmoralizar o provão, desmoralizar o Enem e criar a fantasia da multiplicação de universidades federais.
Imaginem se um homem com tais e tantas preocupações intelectuais, com essa cabeça sempre fervilhante, viria a público para falar sobre essa bobagem que é deixar no escuro milhões de estudantes brasileiros.
Qual é, gente? Haddad é um pensador do socialismo. Não tem tempo a perder com o povo!