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FRANKLIN, O HOMEM DA PROPAGANDA, E TER OU NÃO LIMITES

Folha e Estadão publicaram ontem perfis do ministro Franklin Martins (Comunicação Social), o homem que cuida da propaganda do governo Lula. Nunca antes nestepaiz o homem encarregado do relacionamento do presidente com o que eles chamam “mídia” foi também o responsável por distribuir a verba publicitária (do governo e das estatais) entre os veículos de […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 18h23 - Publicado em 22 dez 2008, 07h35
Folha e Estadão publicaram ontem perfis do ministro Franklin Martins (Comunicação Social), o homem que cuida da propaganda do governo Lula. Nunca antes nestepaiz o homem encarregado do relacionamento do presidente com o que eles chamam “mídia” foi também o responsável por distribuir a verba publicitária (do governo e das estatais) entre os veículos de comunicação. E Franklin faz isso direitinho: revistas que só existem na ficção de seus pequenos napoleões de hospício são agraciadas com anúncios do governo e das estatais. Fazem jornalismo? Não! Só proselitismo e propaganda partidária. Como lembrei ontem, até o MR-8 já foi premiado. Adiante.

O texto da Folha revela a ficha de Franklin no artigo SNI. Tratei disso ontem. Quero agora comentar um trecho da fala do ministro. Lida sem muita atenção, não revela suas reais implicações. Vejam o que ele pensa sobre a sua atuação, que incluiu seqüestro e assalto.

“Estava lutando contra um regime que, de arma na mão, derrubou o presidente constitucional, fechou os sindicatos, instituiu a censura, acabou com os partidos políticos, prendeu gente até dizer chega, tirou um grande número de parlamentares do Congresso, prendeu, torturou, matou…. não sei por que eu teria uma relação de ‘eu só luto até certo ponto contra a ditadura’. Não.” “Felizmente”, acrescenta, ele diz que nunca teve de atirar em ninguém.

Sugiro que leiam de novo e voltem a este ponto. Leram? Então vamos lá.

Pouco importa o tamanho do nosso inimigo e o quão feroz ou delinqüente ele seja, creio que sempre lutamos “até um certo ponto”, não é?. E isso não quer dizer que se pare de lutar, mas que a ação obedece a limites que são éticos: “Isso eu não faço”. Ora, se Franklin admite que seu combate à ditadura não tinha limite e que seu inimigo representava o horror, em que eles se diferenciavam? Em nada! A fala do ministro, lamento dizer, traz a justificativa supostamente moral do terrorismo. E também da tortura. Um vagabundo torturador, pensando nos horrores do comunismo que dizia combater, poderia afirmar: “Não sei por que eu teria uma relação de ‘eu só luto até certo ponto contra a ditadura comunista’. Não.” Isso dá a medida do que teria acontecido ao Brasil se Franklin e seus aliados tivessem vencido.

Façam uma pesquisa para saber quem foi o psiquiatra antilhano Frantz Fanon, um dos líderes da Frente de Libertação Nacional da Argélia. Ele se transformou num teórico da violência como método de resistência ao inimigo — no caso, o colonialismo francês. E a prática dos “oprimidos” não deveu nada em brutalidade e horror ao Exército francês. Fanon é uma das raízes do severo desentendimento de Albert Camus (franco-argelino) com Sartre. E Camus estava certo: da violência praticada por Fanon e aliados, não resultaria civilização. E não resultou. Franklin foi um dos seqüestradores do embaixador americano Charles Elbrick. Se ele, com efeito, não era do tipo que lutava “até um certo ponto”, resta evidente que um inocente teria sido assassinado se o governo não tivesse cedido às exigências dos terroristas. Segundo essa lógica torta, por que não matar inocentes para combater a ditadura, não é mesmo?

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Mas isso não é tudo. Encanta-me, também, este trecho da reportagem: “’Felizmente’, acrescenta, ele diz que nunca teve de atirar em ninguém.” Huuummm… Notem que, se tivesse atirado, não teria sido uma escolha sua, mas uma imposição das circunstâncias. Eis aí a inocência básica de todos aqueles jovens idealistas que lutavam, de arma na mão, para implantar no país uma ditadura comunista. O Franklin, sem um “ponto” que o fizesse parar, seria, no entanto, inocente mesmo que admitisse ter matado alguém.

E há outro trecho revelador na reportagem. Franklin aproveita para fazer um pouco mais de lambança:

Ao ministro são atribuídos, num dos documentos, comentários desabonadores ao atual presidente da República.O texto, que constava dos arquivos do SNI, afirma que, num debate público sobre “o socialismo e a crise na Polônia”, Franklin se destacou pelas críticas ao sindicato Solidariedade. Ele teria expressado que, “a exemplo da Polônia, o líder Lula deve perder a máscara”, comentário do qual Franklin não reconhece a autoria. O ministro, à época, foi contra a criação do PT. “Eu nunca fui do PT, nem próximo. Ao contrário, tinha críticas, achava o PT muito esquerdista”, diz Franklin hoje.Nesse particular, não tenho dúvida de que o SNI fala a verdade. Na época de criação do PT — na Polônia, o sindicato Solidariedade desafiava a ditadura comunista —, Franklin continuava ligado ao MR-8, que era pró-Moscou. Tratava-se de um antro de stalinistas. E eles defendiam que o tal sindicato fosse esmagado. No Brasil, de fato, combatiam o PT. Quando o general Wojciech Jaruzelski decretou Lei Marcial na Polônia e fechou o Solidariedade, Franklin e sua turma aplaudiram. À época, eu era trotskista e andava com um adesivo do “Solidarnosk” na pasta de estudante. De fato, ele sempre esteve de um lado, e eu, de outro.

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E é preciso pôr em perspectiva histórica a afirmação do ministro de que achava o “PT muito esquerdista”. Ele está falando do início da década de 80. O que isso queria dizer em MR-oitês? Eu explico pra vocês. A turma pró-URSS, caso de Franklin, achava que o petismo “dividia” as esquerdas; que era muito “voluntarista”; que o socialismo chegaria no Brasil de modo mais paulatino, numa associação, num primeiro momento, com políticos da própria “burguesia”. O MR-8, por exemplo, tornou-se quercista: chamava Quércia de “Grande Timoneiro”.

Quando Franklin diz que considerava o PT muito esquerdista, isso não quer dizer que ele tivesse algum viés democrático ou mais à direita. Não! Quer dizer apenas que ele e sua turma achavam que o excesso de “esquerdismo”, então juvenil, do PT criava dificuldades para implementar no Brasil um regime de modelo soviético. Isso é história, não opinião.

Ah, sim. O ministro que não tinha limite no combate à ditadura aprendeu a ter limites na democracia. É inegável que o jornalismo para-estatal ficou mais assanhado depois que ele chegou ao poder. Publicidade não lhe falta.

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