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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Foro de São Paulo 1 – O meu artigo de janeiro na VEJA

Vivemos os últimos dias de 2007 e os primeiros de 2008 sob o signo do terror. Setores da imprensa do Brasil e do mundo se deixaram seduzir pela pauta dos bandidos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Co-estrelaram a farsa protagonizada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que “libertou” duas reféns (há oitocentos!), os […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 19h48 - Publicado em 4 mar 2008, 06h34
Vivemos os últimos dias de 2007 e os primeiros de 2008 sob o signo do terror. Setores da imprensa do Brasil e do mundo se deixaram seduzir pela pauta dos bandidos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Co-estrelaram a farsa protagonizada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que “libertou” duas reféns (há oitocentos!), os governos do conservador Nicolas Sarkozy, presidente da França, e do “progressista” Luiz Inácio Lula da Silva. Os maus herdeiros de Tocqueville (1805-1859), autor de Democracia na América, querem apenas resgatar do coração das trevas Ingrid Betancourt, uma cidadã que também tem nacionalidade francesa – e depois esquecer aquele canto amaldiçoado das… Américas. Já Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula e representante brasileiro na “negociação”, estava lá como um utopista. Ele é fundador de uma entidade internacional chamada Foro de São Paulo, que tem como sócios tanto o PT como as Farc. Existe, portanto, uma entidade em que essas duas organizações são parceiras, companheiras e partilham objetivos comuns.

O tal Foro foi criado em 1990 por Lula e pelo ditador Fidel Castro. Reúne partidos e grupos de esquerda e extrema esquerda da América Latina. Era a resposta local ao fim do comunismo – a URSS seria oficialmente extinta no ano seguinte. Há dois anos e meio, no aniversário de quinze anos da entidade, a reunião dos “companheiros” se deu no Brasil. E Lula discursou para a turma. Não acredite em mim, mas nele. A íntegra de sua fala está no endereço oficial

www.info.planalto.gov.br. Clique no terceiro item da coluna à esquerda, “Discursos e entrevistas”, e depois faça a procura por data: está lá, no dia 2 de julho de 2005.

Em sua fala, o presidente brasileiro:

– exalta a atuação de Marco Aurélio Garcia no Foro:

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“O companheiro Marco Aurélio tem exercido uma função extraordinária nesse trabalho de consolidação daquilo que começamos em 1990″;

– explicita as vinculações da organização com Chávez:

“O Chávez participou de um dos foros que fizemos em Havana. E graças a essa relação foi possível construirmos (…) a consolidação do que aconteceu na Venezuela, com o referendo que consagrou o Chávez como presidente da Venezuela”;

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– canta as conquistas internacionais da patota:

“E eu quero dizer para vocês que muito mais feliz eu fico quando tomo a informação, pelo Marco Aurélio ou pela imprensa, de que um companheiro do Foro de São Paulo foi eleito presidente da Assembléia, foi eleito prefeito de uma cidade, foi eleito deputado federal, senador (…)”;

– expõe os tentáculos internos de que o Foro se serve:

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“Vejam que os companheiros do Movimento Sem-Terra fizeram uma grande passeata em Brasília. (…) A passeata do Movimento Sem-Terra terminou em festa, porque nós fizemos um acordo entre o governo e o Movimento Sem-Terra”;

– e reafirma a marcha rumo ao poder no continente e, se der, fora dele:

“Por isso, meus companheiros, minhas companheiras, saio daqui para Brasília com a consciência tranqüila de que esse filho nosso, de quinze anos de idade, chamado Foro de São Paulo, já adquiriu maturidade, já se transformou num adulto sábio. (…) Logo, logo, vamos ter que trazer os companheiros de países africanos para participarem do nosso movimento (…).”

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Os petistas, como se vê, falam do Foro sem receio. Fizeram-no, por exemplo, no vídeo preparado para o 3º Congresso do partido, no fim de agosto e início de setembro do ano passado. Procure no YouTube. Parte do jornalismo brasileiro, no entanto, pretende que tratar do assunto é dar asas a uma fantasia paranóica. Eis uma prática antiga da esquerda. Ela sempre foi craque em ridicularizar a verdade, transformando-a numa caricatura, de modo que seus adversários intelectuais ou ideológicos não encontrem senão a solidão e o desamparo. Se você é do tipo que prefere anuir com o crime a ficar sozinho, acaba se comportando como um vapor barato do tráfico ideológico.

Já lembrei no blog a viagem que o escritor francês André Gide (1869-1951) fez à URSS em 1934, para participar do Primeiro Congresso dos Escritores. O evento era organizado por Jdanov, o poderoso ministro da Cultura. Intelectuais de todo o mundo estiveram lá. Só Gide denunciou o regime do ditador soviético Stalin (1879-1953), o que fez no livro Retour de l’URSS. Isso lhe valeu o ódio da esquerda internacional e uma espécie de ostracismo. André Malraux (1901-1976) foi um dos que silenciaram. Fez pior do que isso: afirmou que os Processos de Moscou, farsas jurídicas a que Stalin recorria para eliminar seus adversários (e até aliados), não maculavam a essência humanista do socialismo. De fato, o autor de A Condição Humana era um espião soviético. As esquerdas têm muitos heróis nascidos no solo fertilizado pelos cadáveres de seus adversários. Posso ficar só, mas repudio o crime.

Malograda a primeira expedição de Chávez e dos “observadores” para resgatar os reféns das Farc, o Itamaraty divulgou uma nota no dia 1º de janeiro lamentando o desfecho e concluía: “O governo brasileiro reitera seu apoio ao processo de paz na Colômbia, assim como a disposição de aprofundar sua contribuição a iniciativas de fortalecimento do diálogo interno naquele país”. Traduzindo a linguagem diplomática: o Brasil reconhecia as Farc como “força beligerante” – uma reivindicação de Chávez –, e não como grupo terrorista. No dia 14 de janeiro, em seu programa de rádio, foi a vez de o próprio Lula afirmar: “Na medida em que as Farc se dispõem a libertar dois reféns, ela está dando (sic) um sinal de que é possível libertar mais. Portanto, o apelo que eu faço é que o governo colombiano e o meu amigo, o presidente (Álvaro) Uribe, mais os dirigentes das Farc se coloquem de acordo para que se possa (sic) libertar mais pessoas que estão seqüestradas”. Os terroristas, que recorrem a assassinatos e seqüestros e vivem da proteção que oferecem ao narcotráfico, eram, assim, reconhecidos como expressão política legítima – agora não apenas no Foro de São Paulo, mas no âmbito da diplomacia e do governo brasileiros.

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Isso tudo é irrelevante? Não é, não. Já publiquei no blog a lista dos partidos e organizações que integram o Foro: além do PT, do PC do B e das Farc, estão, entre outros, o também colombiano Exército de Libertação Nacional, o Partido Comunista de Cuba, o Partido Comunista do Chile, o Partido Comunista da Bolívia (aliado de Evo Morales), o Partido Comunista da Venezuela (engolido por Chávez), a Frente Sandinista de Libertação Nacional e o PRD mexicano (Partido da Revolução Democrática), do arruaceiro López Obrador, aquele que não aceita perder eleições.

A recusa em condenar as Farc, a defesa incondicional do governo de Hugo Chávez na Venezuela, o apoio às pantomimas de Evo Morales na Bolívia – mesmo e especialmente quando ele contraria interesses brasileiros – e de Rafael Correa no Equador e as relações sempre especiais com a tirania cubana fazem parte do alinhamento do governo do PT com este “Comintern” (Internacional Comunista) cucaracho, o Foro de São Paulo.

Ah, não. Não haverá uma revolução comunista liderada pelos petistas. É mais lucrativo operar uma “revolução” na telefonia, não é mesmo? Condescender com a hipótese do levante é uma forma de fazer uma caricatura do que vai acima. O que estou afirmando, e isto é inconteste, é que existe uma organização na América Latina, chamada Foro de São Paulo, a que pertencem o PT e as Farc, que coonesta grupos e governos que optaram pelo terror, pela ditadura ou por ambos. O que essa gente faz é chantagear a democracia, cobrando muito caro por aquilo a que temos direito de graça. E isso se dá, como sempre, sob o silêncio cúmplice e medroso dos democratas.

E que se note: por motivos óbvios, os petistas são mais decentes quando silenciam sobre os crimes das Farc do que quando fingem indignação em entrevistas.

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