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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Fernando Haddad sabe ser cruel com os desgraçados e, ainda assim, contar com o apoio dos descolados do miolo mole. Ou: O que disse Dilma mesmo?

“Pô, Reinaldo, precisa fazer um título como esse? É por isso que muita gente acaba ficando irritada com você!” Paciência. Há quem perca a razão — e invada um laboratório que trabalha de acordo com a lei e ajuda a salvar vidas de pessoas — para resgatar cachorros. Eu me zango que seres humanos recebam […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h09 - Publicado em 21 out 2013, 06h17

“Pô, Reinaldo, precisa fazer um título como esse? É por isso que muita gente acaba ficando irritada com você!” Paciência. Há quem perca a razão — e invada um laboratório que trabalha de acordo com a lei e ajuda a salvar vidas de pessoas — para resgatar cachorros. Eu me zango que seres humanos recebam um tratamento inferior ao que se dispensaria a um cão sarnento. É o caso do petista Fernando Haddad, com aquele seu jeitinho gugu-dadá. É o caso do prefeito de São Paulo, que decidiu, atenção!, fechar 100 leitos que eram destinados a dependentes químicos — leia-se: viciados em crack.

A reportagem de Giba Bergamin está na Folha desta segunda. Reproduzo um trecho. Volto em seguida.

“A gestão Fernando Haddad (PT) encerrou contratos com três comunidades terapêuticas —clínicas para tratar dependentes químicos–, fechando ao menos cem leitos de internação. Assinados na administração anterior, de Gilberto Kassab (PSD), os convênios venceram e não foram renovados. Com essa medida, a Prefeitura de São Paulo vai priorizar um modelo de atendimento que reduz internações prolongadas e mantém usuários de drogas nas chamadas unidades de acolhimento, onde é permitido que eles passem por tratamento sem ficarem isolados. As vagas de internação fechadas, diz o município, foram ‘reabertas’ nesses locais.”

Lobby
Isso é consequência, meus caros leitores, do lobby da turma favorável à descriminação das drogas, à qual se juntam os herdeiros da dita antipsiquiatria. E, é evidente, da falta de um programa de combate ao crack. Todos se opõem às internações em nome da tal política de redução de danos, que, para todos os efeitos, acredita que possa haver níveis seguros do consumo de determinadas substâncias ou que uma mais nociva possa ser substituída por outra menos. “Não seja reducionista! Não é só isso…” Na prática, eles sabem que falo a verdade. É disso que se trata. Os resultados são pífios. Quando se verificam, se dão em comunidades extremamente pequenas, em grupos rigidamente controlados. Não servem como parâmetro de política pública.

Ocorre que essa gente dá o tom do debate. É o que quer, por exemplo, a tal Comissão Brasileira Sobre Drogas e Democracia, integrada por algumas cabeças coroadas. Até na novela das 21h, da Globo, se fez merchandising contra a internação de dependentes. A clínica que recebia pacientes pertencia a uma pistoleira, a uma venal. E a pobre Paloma estava submetida a maus-tratos. Nota: na novela, Paloma não é viciada em nada, a não ser em chatice. Os que agora ficarão sem internação são dependentes de crack.

No modelo de Haddad, que é, obviamente, mais barato, os viciados que estão sendo tratados poderão sair para trabalhar (???) e fazer outras coisas. Adivinhem o que vai acontecer… A reportagem relata um caso. Leiam:

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Usuário de crack desde os 26 anos, A., 49, desempregado, teria o tratamento interrompido numa das clínicas cujo convênio acabou. Ele se recusou a sair e pediu à direção que o mantivesse. Conseguiu. Morador do Itaim Paulista (zona leste), A. está há cinco meses internado. “O pessoal da prefeitura queria me levar para essa unidade de acolhimento. Eu iria voltar a usar [droga], certamente. Ninguém passa o dia na rua sem usar. A recaída é muito mais fácil.”

Retomo
A fala do dependente é bastante eloquente, não é mesmo? Haddad, então candidato, prometeu ampliar o tratamento aos dependentes porque, disse, contaria com a ajuda da presidente Dilma. No vídeo abaixo, a então candidata, em debate na Band, fala sobre o apoio às comunidades terapêuticas, com as quais Haddad rompeu o convênio.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=3ndnpmYH6ms%5D

No governo do PT, houve uma dramática redução na taxa de leitos hospitalares por mil habitantes: 15% em 11 anos. Entre 2005 e 2012, o SUS perdeu mais de 41 mil leitos. Isso quer dizer que os hospitais privados pediram seu descredenciamento porque não conseguem conviver com a tabela ridícula paga pelo SUS.

No caso dos leitos psiquiátricos, a questão é ainda mais grave, como já demonstrei aqui.

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Atenção! Há apenas 0,15 leito psiquiátrico por mil habitantes no país. É a metade do que havia quando o PT chegou ao poder. E já era pouco. Nos países civilizados, a média é de um leito psiquiátrico por 1.000. Isso quer dizer que o Brasil tem menos de um sexto do necessário. Esses poucos leitos, de resto, estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Nunca houve, reitere-se, um número adequado, e eles sempre foram, com raras exceções, de péssima qualidade. A turma da reforma psiquiátrica aproveitou a incompetência do governo para impor a sua agenda: “Feche-se tudo! Internar é desumano!” Em vez de cobrar a humanização do tratamento e recursos para que se fizesse o trabalho adequado, os iluminados decidiram deixar os doentes a vagar por aí, entregues à própria sorte. E acham isso muito progressista.

E por que isso não aparece? Porque ninguém dá bola para loucos de tão pobres e pobres de tão loucos (sim, parafraseio Caetano, quando pensa direito), não é mesmo? Eles não têm voz. Quando a questão é debatida, não há como chamar os pacientes para participar. Eles não têm representantes. Homens e mulheres pobres continuam a acorrentar em casa seus doentes — correndo o risco de ser presos, acusados de tratamento desumano e cárcere privado.

De volta a Haddad
É nesse cenário que Fernando Haddad fecha, na prática, 100 leitos que podem, sim, ser considerados psiquiátricos. É um acinte! Não pensem que ele vai apanhar dos bacanas, não! Ao contrário. Será elogiado. Também receberá tratamento simpático de importantes setores da imprensa, onde a internação é vista com maus olhos… O “malvado”, nesses ambientes, é o governo de São Paulo, é Geraldo Alckmin, que defende, em casos extremos, a internação compulsória. Bom mesmo, como se sabe, é deixar o drogado nas ruas, entregue à própria sorte. E, como aqui se diz tudo, então lá vai. Nesse particular, o competente FHC aderiu ao obscurantismo desses falsos iluministas. Nesse caso, ele está mais para o petista Haddad, com sua política irresponsável, do que para o tucano Alckmin.

A irresponsabilidade do governo Dilma e do petismo, nessa área, também deveria merecer uma resposta política daqueles que querem tomar o seu lugar. Mas quê… Entre pragmáticos, sonháticos e administrativistas de pouca imaginação, os petistas podem ser ruins, incompetentes e até perversos à vontade. No que concerne à questão local, essa seria a hora de Gilberto Kassab vir a púbico para defender a sua gestão, para evidenciar que foi, nesse caso ao menos, injustamente demonizado pelos petistas. Bobagem! Kassab é da base aliada federal e da base aliada municipal. Está ocupado em fazer oposição ao governo Alckmin, na esfera estadual.

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