Esse blog fica satisfeito; papa Francisco diz: “A Igreja não é uma ONG”. Vocês já leram isso!
A minha maior conquista na área religiosa até hoje, talvez os novos leitores ignorem, foi ter levado o Vaticano a mudar a tradução oficial para o português da exortação Sacramentum Caritatis. Em viagem ao Brasil, Bento XVI disse, em italiano, no dia 13 de março de 2007 (exatos seis anos ontem), que o divórcio era […]
A minha maior conquista na área religiosa até hoje, talvez os novos leitores ignorem, foi ter levado o Vaticano a mudar a tradução oficial para o português da exortação Sacramentum Caritatis.
Em viagem ao Brasil, Bento XVI disse, em italiano, no dia 13 de março de 2007 (exatos seis anos ontem), que o divórcio era “una vera piaga”. Em italiano, “piaga” significa “praga” e “chaga”. Naquele mesmo dia, ainda brinquei: “Xiii, os jornais vão traduzir por ‘verdadeira praga’”. O post está aqui. Não deu outra! No dia seguinte, lá estava estampado em letras garrafais: “Papa diz que o divórcio é uma praga”. E, claro!, houve uma penca de protestos: “Papa reacionário, papa conservador, papa sem-noção, papa velho…”
E eu insistia: “Não disse, não! Ele disse que o divórcio é uma “chaga”. Podem ver o original e o contexto”. Em latim, a língua oficial da Igreja, o papa escrevera “plaga” — sim, “praga ou chaga”. Como, em seguida, ele citava o padecimento de Cristo, restava evidente que quisera dizer “chaga, ferida”. Ou alguém já ouvir falar das “pragas de Cristo” em razão do flagelo pelo qual passou? E foi esse o entendimento nas demais línguas. No dia 14 de março de 2007, fazendo aniversário hoje, publiquei o segundo post, destacando a tradução oficial em outras línguas. Em inglês, “plaga” virara “scourge”, no sentido de “flagelo” — que provoca a chaga. Em francês, “plaie”— que quer dizer “chaga, machucado, ferida”…
Mas quê… Virei alvo da ironia de alguns tontos: “Aquele lá quer corrigir até o papa”. No extremo da imbecilidade, pontificou alguém: “Que diferença faz? O papa está errado dos dois jeitos…” Ou seja: para esse cretino, era irrelevante se o papa estava expedindo uma condenação moral ou admitindo um sofrimento no corpo da Igreja. Depois de eu apanhar um bocado, a Igreja admitiu que a tradução em português estava errada. Foi corrigida: o divórcio, também na nossa língua, passou a ser uma “chaga”. Pois bem.
Procurem no arquivo ou no Google o número de vezes que escrevi que a Igreja não é uma ONG ou um partido político. No primeiro caso, ainda destaquei, se fosse, seria a maior do mundo, assim como poderia ser a maior rede hospitalar do mundo, a maior rede educacional do mundo… Só que a Igreja, sendo tudo isso, não e nada disso.
Na homilia desta quinta, afirmou o papa Francisco: “ (…) não adianta nada sermos bispos, cardeais ou papa se não formos discípulos do Senhor (…). Se nós não professarmos Jesus Cristo, nos converteremos em uma ONG piedosa, não em uma esposa do Senhor”. É isso aí. O papa está a dizer que a igreja não é uma… ONG, coisa que os ditos “teólogos da libertação” jamais entenderam — ou fingem não entender.
Acham-me alguns doido o bastante para sustentar que o papa andou me lendo. Embora este blog conte com muitos leitores na Argentina, não tenho essa pretensão. Não sou o Lula, que acredita ser copiado por Obama, nem sou o Chávez visto por Maduro, que influenciaria o próprio Jesus Cristo. Sou apenas uma pessoa lógica e pergunto desde sempre o que faz a Igreja Católica ser a Igreja Católica. Sem o Cristo como referência central, então pra quê?