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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Ensaio geral do Estado Policial

O PT ainda não criou a República dos seus sonhos — e do nosso pesadelo —, mas já se pode dizer que vivemos uma realidade com características de Estado policial. Peguemos este caso dos dossiês — se outras evidências nos faltassem. A cúpula do partido do poder, toda ela da cozinha presidencial, associa-se para praticar […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 23h10 - Publicado em 26 set 2006, 07h22
O PT ainda não criou a República dos seus sonhos — e do nosso pesadelo —, mas já se pode dizer que vivemos uma realidade com características de Estado policial. Peguemos este caso dos dossiês — se outras evidências nos faltassem. A cúpula do partido do poder, toda ela da cozinha presidencial, associa-se para praticar uma série de crimes, e a máquina estatal é posta tanto a serviço da execução da obra como, depois, do ocultamento das provas e da obstrução da investigação.

Um dos protagonistas da lambança é o tal Expedito Veloso. Contra ele, pesam evidências de que quebrou o sigilo bancário de adversários políticos e de Luiz Antonio Vedoin, um criminoso confesso, para produzir o dossiê fajuto contra os tucanos. Ele próprio andou garganteando seus feitos por aí, orgulhoso de sua façanha. Nem é a mais notável figura da República a recorrer a tal expediente. Antes, Antonio Palocci, então ministro da Fazenda, já havia praticado o malfeito — nesse caso, na Caixa Econômica Federal, com a conivência do então presidente, Jorge Mattoso.

Márcio Thomaz Bastos, sempre tão dedicado à tarefa de fazer da Polícia Federal uma vitrine do marketing do governo, desta feita, não permitiu fotografia do dinheiro. E revelou os motivos: poderia ter impacto eleitoral. Imaginem essa mesma polícia, subordinada a este mesmo Thomaz Bastos, prendendo tucanos com uma bolada de dinheiro para comprar um dossiê contra Lula… O ministro da Justiça não teve pejo, até agora, de meter algemas em acusados de corrupção e submetê-los à expiação pública — sem que tenham sido ao menos julgados. Em alguns casos, e a Daslu é um exemplo, nem mesmo o processo está formalizado. Mas seus donos tiveram a sua reputação enlameada. Ele achou tudo normal. Mais: o feito foi parar no horário eleitoral: “A PF agora prende também os ricos”.

Fotografia de dinheiro flagrado na mão de bandidos para fraudar as eleições, para dar um golpe? Não, isso não pode de jeito nenhum! Mais: o Coaf, tão eficiente para detectar movimentação irregular de caseiros, agora diz que tão cedo não chegará à origem do dinheiro. Afinal, argumenta-se, eram muitos saques abaixo de R$ 100 mil. De quanto era mesmo a movimentação bancária atípico de Francenildo?

A ditadura militar fez muita sujeira. Mas ela estava nos porões. Até para instaurar a tirania do AI-5, buscou-se um argumento legal, uma base jurídica. O petismo dispensa-se de todas essas formalidades. Sua “comunidade de informações” opera com desassombro inédito e encontra respaldo no centro do poder. Não é que ele tenha uma fachada legal e um braço ilegal. Os dois grupos se confundem e, de fato, são um só.

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Numa retórica desavergonhada, Lula, a um só tempo, chama de aloprados os que se meteram na operação, mas acusa a tentativa de “golpe” das oposições; diz que não dá endosso a essas práticas, mas declara, desafiador, que a “oncinha — ele próprio — está com sede”. É o grande sacerdote dessa missa macabra. Ainda que, de fato, ignorasse tudo — e do que mais ele não saberia? —, seu comportamento abrutalhado, seu óbvio despreparo e seu desrespeito às condutas comezinhas do Estado de Direito estimulariam a malta que o cerca a agir como agiu.

Como será?
Muitos me perguntam, e não foi diferente nesta segunda na Associação Comercial de São Paulo, se acredito que, num eventual segundo mandato, Lula agiria de forma diferente. Acho que sim: diferente porque ainda pior. Ricardo Berzoniev e sua turma sucederam, vejam vocês!, a antiga cúpula do partido, aquela que caiu no caso do mensalão. Não custa lembrar que o agora indiciado Humberto Costa, candidato do PT ao governo de Pernambuco, integrou esta chapa de “renovação”… É uma questão de natureza, entendem? O que vemos não é desvio, é método.

Expedito Veloso vem nos lembrar que ninguém está a salvo. E a imprensa? Está preparada para fazer frente à investida dos totalitários? Huuummm… Com alguma freqüência, lhes faz a vontade e lhes presta serviços, dando publicidade às ilegalidades que praticam, às óbvias transgressões aos direitos individuais. Tudo sob o pretexto de fazer justiça. Nessas horas, idiotas da objetividade argumentam: “Que importa se Expedito vasculhou ilegalmente a conta desse ou daquele? Se descobriu irregularidades, publiquemo-las”. Pobres coitados! Quanto tempo demorará para que a própria imprensa seja alvo de bisbilhotice?

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Diante disso, há duas posturas: a estúpida diria um “quem não deve não teme”. Quem sabe o que é uma democracia vislumbra de cara o horror. Escarafunchar a vida de alguém ou de alguma empresa, sem a devida autorização, é o passo anterior à produção de uma falsa prova. E é claro que os alvos serão apenas os “inimigos do regime”. Não! Se facultarmos a essa gente a licença de usar o Estado, à revelia da Justiça, para se informar sobre adversários políticos, estaremos todos nos oferecendo como reféns da canalha, como seus servos voluntários. Aliás, especial cuidado devem tomar os bancos privados, que não estão blindados contra as petralhices.

Eu, vocês sabem, nunca achei que essa gente daria em boa coisa. Ao contrário. Os estudos e biografias recentes indicam que o comunismo era muito pior do que qualquer imaginação ou romance da CIA. Por mais que se buscasse atacar aquele regime, havia na crítica uma certa solenidade, admitindo-se, de um modo ou de outro, que pudesse se tratar de gente séria, embora inimiga. Com o fim do regime, pudemos constatar que a estrovenga era ainda pior do que as fantasmagorias plantadas pelos serviços de Inteligência do Ocidente. Ou seja: não conseguimos imaginar contra eles nada parecido com o que eles próprios imaginaram a seu favor!

O mesmo vale para os petistas. Eles superam em muito as nossas expectativas. Por mais horríveis que possamos ter imaginado que fossem, ainda assim, eles se superaram. Um petista se defendendo consegue ser ainda mais horripilante do que a caricatura que dele faria um antipetista atacando-o.

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Hora da Resistência.

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