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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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É fácil defender o direito que tem o “Charlie Hebdo” de fazer o seu humor indefensável. Ou: Católicos e judeus publicam charges contra… católicos e judeus. Entenderam a diferença que civiliza o mundo?

É fácil defender o humor do “Charlie Hebdo”? A resposta é esta: seu humor é indefensável. Mas é fácil defender o direito que tem o jornal de fazer as suas charges. Não! Eu não sou fã da publicação. Acho que a turma, para usar uma expressão francesa, atua “pour épater le bourgeois”, com o propósito […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 02h21 - Publicado em 13 jan 2015, 03h11

É fácil defender o humor do “Charlie Hebdo”? A resposta é esta: seu humor é indefensável. Mas é fácil defender o direito que tem o jornal de fazer as suas charges. Não! Eu não sou fã da publicação. Acho que a turma, para usar uma expressão francesa, atua “pour épater le bourgeois”, com o propósito de escandalizar e chocar o homem médio, aquele que certa intelectualidade classifica, cheia de desprezo, de “pequeno-burguês”. Já há pessoas e grupos que fazem algo similar no Brasil. Não me agradam. Não é o que me faz rir. Mas, reconheço, a ofensa pura e simples tem admiradores — especialmente quando inteligente. E isso o jornal é, ainda que possa ser também detestável. E daí? Deve-se matar por isso?

Escrevo este post para louvar a postura de duas publicações: a revista católica francesa Étude e o site de cultura judaica Jewpop. Ambos publicaram charges extremamente críticas — algumas delas verdadeiramente horríveis — contra, respectivamente, o catolicismo e o judaísmo. Entenderam o ponto? Em vez de se sentirem ofendidos e sair matando, um e outro grupos resolveram expor os desenhos. E não que as peças sejam exatamente de bom gosto — algumas delas não passam de agressões gratuitas.

Vejam as imagens publicadas pela revista católica.

Charlie Bento 16 gay

Charlie Cristo conclave

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Charlie papa Carnaval

Uma das capas reproduzidas no site católico trata da renúncia de Bento 16. O papa emérito, conhecido por sua rigidez em matéria de doutrina, aparece como um gay que sai do armário, “enfim, livre”, como está escrito lá, para se agarrar com um membro da Guarda Suíça. Uma segunda capa alude ao conclave que vai escolher o novo chefe da Igreja Católica. O título não deixa dúvida: “Outra eleição fraudada”. Na cruz, o próprio Cristo pede para votar. Um dos cardeais lhe faz sinal de silêncio; os outros olham o filho de Deus com enfado. Uma terceira, desenhada por Charb — um dos cartunistas mortos no ataque terrorista —, mostra o papa Francisco no Rio, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, pronto para um desfile de Carnaval: está seminu, com uma tanguinha, algumas lantejoulas e uma sandália estilo Globeleza. E diz: “Tudo para conseguir clientes”.

As charges publicadas no site judeu sobre judeus conseguem ser ainda mais desagradáveis.

Charlie antijudeu 1

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Charlie antijudeu 2

charlie antijudeu 3

Numa delas, Hitler aparece saltitante: “Olá, judeus, e aí?”. Numa outra, um soldado israelense, pisoteando palestinos, enfia a baioneta na goela de um deles e grita: “Parem! Deus não existe!”. Uma terceira, de 1977, ultrapassa os limites mais elásticos. Anuar Sadat, presidente do Egito, fez a visita histórica a Israel na celebração da paz entre os dois países. Na capa do “Charlie”, lia-se o seguinte título, com o desenho correspondente: “Um cabrito lambe o traseiro de um judeu”. O primeiro pergunta: “Agora a gente faz a paz?”. Ao que responde o outro: “Continua. A gente vê depois”. A Liga Internacional Contra o Racismo e o Antissemitismo emitiu uma justa nota de protesto. Não matou ninguém.

Vocês entenderam o ponto? Ninguém precisa gostar do humor, do mau humor ou da grosseria. Mais: as pessoas e grupos atingidos têm, nas democracias, o direito de se zangar, de protestar, de expressar o seu ponto de vista, de recorrer à Justiça. A questão é saber se é aceitável que se mate por isso.

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Reitero: eu não sou “Charlie Hebdo” caso isso queira dizer endosso a esse tipo de humor. Eu o considero fácil, oportunista, grosseiro e ofensivo. Mas eu sou “Charlie Hebdo” caso se entenda por isso a escolha de instrumentos civilizados para o confronto de ideias — que dispensam bombas, fuzis e degolas. Ademais, como resta demonstrado, é mentira que o jornal se dedicasse especialmente ao ataque aos muçulmanos. Só existe essa percepção distorcida da realidade porque judeus e católicos não prometeram matar ninguém — e, efetivamente, não mataram. Já os extremistas islâmicos…

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