Dona Ruth ou “No país da civilidade perdida”
A Folha deste domingo publica uma entrevista com a antropóloga Ruth Cardoso, mulher de FHC. Tenho grande admiração por “Dona Ruth”, embora discorde dela em muitos aspectos, a começar dessa história de ONGs. Ela liderou o Comunidade Solidária e, hoje, está à frente de uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) chamada Comunitas, […]
Eu não gosto de ONGs, como vocês sabem. Sou um ortodoxo. O estado tem de atuar onde falta estado. Não confio muito em gente que se dedica demais aos outros. Dona Ruth e outros poucos são exceções que considero dotados de honestidade excepcional. No mais das vezes, ONG ou é oportunismo vil ou problema psicanalítico. Com raríssimas exceções, quase santas, o homem normal se ocupa mesmo é de si mesmo e de sua família. É o correto. A civilização se forma assim. O egoísmo é o mais altruísta dos sentimentos.
Adiante. Catia Seabra entrevistou Dona Ruth. A quem já dei uma capa na antiga revista República. Ela é inteligente, sagaz, articulada e, com efeito, uma social-democrata. Estou muito à direita da mulher do ex-presidente. Tenho uma atração quase irresistível pelo capitalismo que chamam “selvagem”. Defendo todas essas coisas horríveis, como a exploração do “homem pelo homem!”. Se gerar riquezas, e gera, invariavelmente, um dia, “o homem” vai querer escola, estrada, saúde… O que não pode é, em nome da estrada, escola e saúde, impedir a acumulação. Aí é a aposta na caverna — ou, se quiserem, a aposta no Brasil que temos. Isso choca as nossas “freiras” morais.
Mas volto. Sei que Dona Ruth até me acha interessante, mas muito conservador, radical — talvez ela diga “reacionário”. Não tem problema. Gosto de algumas pessoas que não gostam tanto assim de mim. O mais comum, admito, é o contrário. Mais comum e mais sofrido. Ser desgostado é muito mais confortável do que desgostar. Adiante de novo. Vale a pena ler a entrevista de Dona Ruth. Ela é a voz de um país que poderia ter sido… Acadêmica respeitada, é de uma humildade exemplar. Mesmo quando faz a defesa dos ONGs (coisa de que discordo), a delicadeza é a marca. Não há um só vitupério contra o governo de turno.
Além dessa questão de ONGs, Dona Ruth representa um país em que as instituições democráticas só avançaram.