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Discurso de Dilma na ONU, no que respeita a Israel, é, para dizer pouco, irresponsável!

A presidente Dilma Rousseff faz o discurso de abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas na quarta-feira, como os líderes brasileiros têm feito desde 1947, quando Oswaldo Aranha respondeu pela fala inaugural. Deve abordar a crise internacional, dar conselhos, exaltar a solidez econômica do Brasil, fazer advertências como expressão daquela parte do mundo que está […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h44 - Publicado em 19 set 2011, 07h55

A presidente Dilma Rousseff faz o discurso de abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas na quarta-feira, como os líderes brasileiros têm feito desde 1947, quando Oswaldo Aranha respondeu pela fala inaugural. Deve abordar a crise internacional, dar conselhos, exaltar a solidez econômica do Brasil, fazer advertências como expressão daquela parte do mundo que está fora do centro da crise, criticar as assimetrias etc e tal, tudo o que é de rigor nesses caos. Mas vai também dar o endosso do Brasil a uma irresponsabilidade, a uma temeridade: o pedido de reconhecimento do estado palestino, que será levado à Assembléia por Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Nacional Palestina.

A Palestina não pode existir como estado soberano? Pode, sim! Mais do que isso: deve. Mas sob quais condições? Ao endossar o pedido de reconhecimento como estado independente com representação plena da ONU, as lideranças palestinas apostam que o principal interlocutor deixou de ser aquele com quem tem litígio: Israel. É uma insanidade que se apele à solidariedade internacional em busca do reconhecimento num péssimo momento da relação entre os dois lados.

Que “estado” os palestinos querem ver reconhecido pela ONU? Aquele que devolve Israel às fronteira de 1967? Não vai acontecer! Que divide Jerusalém? Não vai acontecer)!  Que permita a volta dos chamadas “refugiados”, com seus milhões de descendentes? Não vai acontecer! Que acate os terroristas do Hamas como uma força que luta com métodos aceitáveis? Não vai acontecer! Que elimine todas as colônias judaicas da Cisjordânia?  Isso também não vai acontecer! Já não aconteceria se a região vivesse o mesmo  status de há seis, sete meses. Agora então…

A iniciativa do governo palestino — e o acordo entre os arquiinimigos Hamas e Fattah assume a sua verdadeira face — é uma aposta na guerra, não na paz. Israel, de fato, raramente enfrentou uma situação tão hostil na região, mas é bom lembrar que viveu dias muito piores, E sobreviveu. Só ocupa hoje os territórios dos quais querem expulsá-lo porque venceu duas guerras que tinham o objetivo de aniquilá-lo — reagiu, não atacou. E é assim porque assim se deram os fatos, não porque eu quero.

Isso quer dizer que não deva jamais negociar? Não! Isso quer dizer que não dá — porque é assim com qualquer país; porque deveria ser diferente com Israel? — para fazer de conta que as guerras de 1967, a dos Seis Dias, e a de 1973, do Yon Kippur não aconteceram. Aconteceram! Tiveram conseqüências. Israel deixou Gaza, e Gaza foi tomada por terroristas que  passaram a atacar sistematicamente o país. Israel deixou o Sul do Líbano, e o Sul do Líbano foi tomado por terroristas que passaram a atacar sistematicamente o país. E é assim porque assim se deram os fatos, não porque eu quero.

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O anti-israelismo — com freqüência, não sempre, é anti-semitismo mesmo! — faz juízos curiosos. Cansei de ler textos, da imprensa brasileira e estrangeira, chamando a atenção para o fato de que raramente Israel esteve tão isolado, razão por que deveria negociar. Heeeinnn? Chamam a atenção para a mudança de status do Egito, hoje assombrado pelo fundamentalismo — aguardem e verão que “maravilha” se vai fazer por lá… Chamam a atenção para o transe vivido pela Síria; de fato, se Bashar Al Assad cair, a chance de os extremistas ganharem espaço no governo, a exemplo do que já acontece no Egito e está para acontecer na Líbia, é gigantesca! O Irã, como sempre, está por ali, prometendo “varrer o inimigo do mapa”. A “democrática” Turquia — sempre que alguém vibra com a “democracia turca”, eu reluto para não ficar muito comovido — decidiu exercer a diplomacia que consiste em apagar incêndio com gasolina…

Deixem-me ver se entendi direito: pedem ao país que quase foi destruído duas vezes por seus inimigos, que voltaram a ficar assanhadíssimos, que ceda à pressão (e à chantagem) da Autoridade Nacional Palestina, MOMENTANEAMENTE RECONCILIADA, e aceite o “estado palestino” fora do âmbito de uma negociação bilateral? E o fazem no momento em que as novas forças que governam o Egito colaboram descaradamente com o terror e o extremismo?

É evidente, a esta altura, que os terroristas que saíram de Gaza e passaram pelo Sinai para atacar o sul de Israel contaram com a colaboração dos egípcios. A embaixada israelense no Cairo ficou horas sob ataque, sem que as forças de segurança movessem uma palha para conter os extremistas. Depois do ataque, o “odiado” (pela imprensa política e islamicamente correta) Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, afirmou: “Vamos continuar atados ao acordo de paz com o Egito”. Essam Sharaf, primeiro-ministro egípcio, disse algo um pouquinho diferente: “O acordo de Camp David (de 1979) não é sagrado e está sempre aberto a discussão com aquilo que poderia beneficiar a região e a defesa de uma paz justa. Nós poderíamos fazer uma mudança se fosse necessário”. Paz justa??? A paz lhes foi até benevolente, não é? Israel devolveu o Sinai ao agressor…

A “Primavera egípcia”, diga-se, faz-se com a perseguição a judeus e a cristãos, cujas casas e igrejas estão sendo sistematicamente incendiadas pelos “heróis” da nova ordem… Que dias estes! Na Líbia, a trinca Obama-Cameron-Sarkozy entrega o poder aos jihadistas… O mundo anda de tal sorte de cabeça pra baixo que os cristãos e drusos, minorias na Síria, apóiam o asqueroso Bahar Al Assad porque sabem que, se ele cair, elas serão impiedosamente perseguidas. É uma “Primavera” que se faz com o sangue dos “que não pensam como nós [eles]”. Huuummm… É mais ou menos assim desde, deixem-me ver, o século VII…

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Sabe-se lá por qual desvão da lógica se cobra, então, que Israel se dê conta do seu “isolamento”, do assanhamento dos inimigos, e ceda à pressão! Mas esperem: não deveria ser justamente o contrário? Não é num momento como esse que o país mais deve se preocupar com a sua segurança e exigir garantias adicionais? É o que diz o bom senso. Pedem ao país que caminhe contra a lógica mais elementar. Não vai acontecer. Israel não existe porque tenha se ajoelhado.

O Brasil não está inovando — só está indo mais longe na impostura quando o assunto é Israel. Nos nove anos de governo petista, tem votado sistematicamente contra o país. Ainda que os EUA tenham poder de veto e possam impedir a entrada da Autoridade Nacional Palestina como membro efetivo da ONU, o eventual endosso de dois terços dos países ao pleito tem potencial para incendiar a região. Isso colocaria Israel na posição de quem só está obrigado a ceder, como se, na negociação com terroristas, intransigente fosse o outro lado…

“Pô, Dilma é capa da Newsweek, e esse Reinaldo Azevedo está falando mal da política externa brasileira e do discurso da mulher na ONU!?”. Grande coisa! Eu sou assim mesmo! Queriam que eu falasse mal de quem é capa da Carta Capital ou da Caros Amigos?

A posição brasileira na ONU, de resto, é um vilipêndio à memória de Oswaldo Aranha! A tal guinada na política externa era só uma piscadela à razão. Passou depressa! O Brasil, por força de sua economia — não de seu governo! — exerce papel crescente no mundo. Mas, por enquanto, seus dirigentes o fazem parecer mais arrogante do que propriamente grande.

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Dilma talvez não se dê conta porque, em política externa, não é menos apedeuta do que Lula: o discurso que ela fará na quarta-feira, no que diz respeito ao Oriente Médio, alimenta-se com o sangue de inocentes e faz tabula rasa da história.

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