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DILMA E AS PALAVRAS DOCES AOS OUVIDOS DO DEMÔNIO

Alguns textos saem como Deus gosta. Acho que é o caso deste. Avaliem, opinem e vejam se é o caso de passar adiante o link. Vamos aqui bater um papinho, que eu chamaria de “Considerações sobre o mal”. Não quero, mesmo!, entrar na seara religiosa porque, neste momento, não é o caso. Não que eu […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h32 - Publicado em 29 out 2009, 17h36

Alguns textos saem como Deus gosta. Acho que é o caso deste. Avaliem, opinem e vejam se é o caso de passar adiante o link.

Vamos aqui bater um papinho, que eu chamaria de “Considerações sobre o mal”. Não quero, mesmo!, entrar na seara religiosa porque, neste momento, não é o caso. Não que eu integre a marcha dos tolos que dizem: “Religião não se discute”. É claro que se discute. O que me parece que não tem como virar assunto de acirrado debate é a fé — a não ser entre aqueles que partilham de uma mesma crença. Assim, as minhas considerações sobre o “mal” — sobre o, vou empregar a palavra mais comum para designá-lo  — “demônio” buscam ser, acima de qualquer outra categoria, puramente lógicas. A questão religiosa concorre apenas com uma informação básica que é preciso ter para acompanhar o pensamento. É com esta informação que encerro este parágrafo para dar seqüência ao tema no próximo. O demônio, na religião, é uma espécie de pedaço desprendido do próprio Deus; é a iluminação que se fez denegação do Bem. O demônio não é estranho à vida do homem e a seu espírito. Ao contrário: ele é seu íntimo; ele é familiar. Por isso mesmo, ele o confunde, com sua linguagem insinuante. E, a exemplo do Bem, é também imortal.

Você pode ser um desses ateus fanáticos, obcecado mesmo pela determinação de negar a existência de Deus; mais do que isso: de provar a sua inexistência, e nem por isso o demônio como metáfora deixará de tentá-lo. O demônio como metáfora é aquela idéia enfeitada como virtude, que, se aplicada, vai destruí-lo. Pode até ser, para me tornar o mais palpável possível, uma escolha profissional errada. Não, o demônio nunca é exótico, absurdo, irracional. Ao contrário. Ainda para ficar no exemplo profissional: ele não lhe vai acenar com a possibilidade de deixar de ser, sei lá, administrador de empresas para se tornar médico. Ele pode aconselhá-lo a simplesmente mudar de emprego na hora errada. O mal é insinuante e jamais escandaloso. Um religioso sente as duas forças em permanente disputa. Um ateu ou agnóstico (coisas distintas, sei bem) dá nomes outros aos impulsos contraditórios que nos assaltam vida afora. Mas a estrutura é sempre mesma: o erro enverga as vestes do acerto; o Mal, as do Bem; o vício, as da virtude.

Atenção: não é que Mal e Bem se diferenciem por linhas tênues, quase imperceptíveis. É que a natureza do Mal é justamente a sedução, o disfarce, a trapaça, a burla. A menos que alguém seja um seu sacerdote, quase sempre aquele que cai em sua teia é uma vítima involuntária. E há as doutrinas essencialmente malignas porque, desde a origem, negam ao homem o direito à sua própria consciência e ao discernimento. Se alguém pensou em comunismo, fez muito bem. Qualquer equação que faça do homem objeto de uma engenharia social é demoníaca — seja na perspectiva religiosa, seja na não-religiosa.  O desastre é certo.

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Feita esta longa introdução, peço que vocês leiam estas palavras da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) num programa de rádio chamado “Bom Dia, Ministro”. Ela fala sobre a violência nas favelas.
“O crime invadiu essas regiões porque o Estado simplesmente fugiu delas, porque no Brasil não se investia em favelas nem em bairros populares. É possível que a gente dispute com o tráfico e façamos essa disputa do bem que é de fato nossa presença efetiva, com a polícia também, mas também com obras e com serviços públicos de qualidade para essa população.”

São palavras, queira ou não a ministra, demoníacas, que admitem uma espécie de pacto com o Mal, ainda que, segundo seus termos, para combatê-lo. Não! Erro! Quase sou eu mesmo vítima da sedução do mal. Ela não quer combatê-lo, ela quer disputar com ele o que seria o “campeonato do bem”. E isso significa, então, que ela admite que o tráfico, no morro, também está empenhado em fazer o… bem! Governo e tráfico seriam forças que se justificariam no confronto.

Não há como: depreende-se, das palavras de Dilma, que a Polícia, a repressão ao tráfico é uma das ações do estado, mas não, leiam lá, a mais importante. Fundamental, entende a governante, é que o Estado dispute a alma dos viventes com o tráfico, legitimando-o. Para que sua receita dê certo, forçoso seria que o estado fornecesse mais benefícios ao smoradores da favela do que o próprio tráfico, de modo que eles pudessem escolher o que fosse mais vantajoso.

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Em vez de se estabelecer, então, um confronto entre avessos — o Bem e o Mal —, travar-se-ia uma disputa, em que o tráfico iria se tornando obsoleto porque o estado estaria cada vez mais presente por meio de benefícios. Lamento dizer: numa perspectiva religiosa ou não, quem fala aí é a voz do demônio; é o Mal assumindo as vestes do bem. É evidente que isso não dará certo. No mínimo, para infortúnio de todos, o narcotráfico acabará sendo o gerente da infra-estrutura que o estado eventualmente implementar no morro. Sem a tomada daquele território pelo estado, não há solução; sem que, lá vou nas metáforas, se exorcize o Mal, os reféns do demônio continuarão a fazer a sua cantilena macabra.

Ademais, já é esta a falsa solução que está hoje em curso no Complexo da Ideologia Alemã — como chamo o Complexo do Alemão. É o que está em curso em boa parte das favelas e áreas pobres das cidades brasileiras. As ONGs e, às vezes, o Estado já tentaram disputar  as almas com o narcotráfico. E, em todos os casos, terminaram como seus aliados objetivos, satanizando a polícia e a repressão. Infelizmente, o que Dilma está prometendo não é combate ao narcotráfico, mas um acordo com ele. Dilma acredita em acordo com o demônio. Neste enredo, Judas não se enforca. Ele se orgulha de sua obra.

Os não-religiosos devem reler, se for o caso, o texto sem preconceitos. Não é preciso acreditar em Deus (nem no diabo) para entendê-lo. Basta ter a convicção de que o Bem, qualquer que seja a sua natureza, não nasce do mal. As palavras de Dilma, se tornadas políticas públicas, vão, no máximo, oferecer ao narcotráfico mais condições objetivas para exercer a sua atividade, mantendo reféns milhões de brasileiros.

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E noto, para encerrar, que ela também vem com a história de que os governos passados nada fizeram etc. e tal. Seu partido está no poder há longos sete anos. Nesse período, o tráfico internacional de drogas e de armas, cujo combate cabe à Polícia Federal,  cresceu exponencialmente. E é ele quem dá as cartas nos morros do Rio. Isentar-se da responsabilidade é outra das artes do demônio, que sabe escarnecer da ignorância alheia.

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