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DATAFOLHA 1 – Pergunta sobre impeachment de Temer está errada e obtém resposta igualmente errada

Será mesmo que o impeachment de Dilma, agenda que levou no dia 13 de março mais de 3 milhões às ruas, tem uma taxa de adesão praticamente igual à do impeachment de Temer, que nunca mobilizou ninguém? Com a devida vênia, a resposta é “não!” Essa é uma realidade criada apenas pela pesquisa

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 23h03 - Publicado em 10 abr 2016, 05h34

A Folha deste domingo traz números de uma pesquisa Datafolha sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff e de deu vice, Michel Temer, e sobre as preferências dos brasileiros numa eleição presidencial. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

Petralhas os mais variados estão relinchando de satisfação de orelha a orelha, embora não haja razão para isso. Mas a gente aprende uma lição ao longo da vida: relinchar é um dado da natureza. Não peça a um burro que cante uma ária de “A Flauta Mágica”. Não vai acontecer.

O instituto fez a 2.779 eleitores, nos dias 7 e 8 de abril, a seguinte pergunta:
“Os deputados deveriam votar a favor ou contra o afastamento da presidente?”

Disseram que deveriam votar a favor 61% dos entrevistados. Há menos de um mês (17 e 18 de março), eram 68%. Afirmaram ser contra 33% — 27% no levantamento anterior. A diferença, hoje, é de gigantescos 28 pontos, mas era de 41 há três semanas, caindo 13.

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Considerando que nada de muito espetacular aconteceu nessas três semanas, exceção feita ao conteúdo da delação da Andrade Gutierrez, que torna a situação de Dilma um pouco mais difícil, tendo a achar que o Datafolha errou antes ou agora. O percentual dos que acham que ela deveria renunciar caiu, em três semanas, de 65% para 60%.

Querem saber? Não tenho muita paciência para ficar brigando com números. Sempre fica parecendo chororô de quem não gostou do resultado. E este está a indicar que que os que cobram o afastamento de Dilma são quase o dobro dos que não o querem. Minha restrição à pesquisa não está aí. Parto do princípio de que a aferição de números é honesta — até porque uma ligeira queda nos pró-impeachment seria até explicável (ainda falarei a respeito). O busílis é outro.

Não faz sentido
Não faz sentido, a meu ver, o Datafolha indagar se as pessoas são favoráveis ao impeachment de Michel Temer. Trata-se de um erro brutal cometido pelo instituto, ao qual a Folha dá enorme destaque porque, suponho, encomendou o levantamento.

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A propósito: disseram “sim” ao impeachment de Temer 58% dos entrevistados, e não, 28%. Dados esses números, a situação seria pior para ele do que para ela: o saldo negativo de Temer seria de 30 pontos; o de Dilma, de 28. Os mesmos 60% dizem que ele deveria renunciar.

Problemas os mais distintos se combinam. E trato deles:
1: impeachment de Temer por quê? O que há contra ele até agora, além de uma liminar destrambelhada, concedida por Marco Aurélio, obrigando a instalação da Comissão Especial, decisão que será certamente derrubada? Resposta: nada!

2: É quase certo que 100% dos brasileiros saibam quem é Dilma. Mas quantas pessoas, vocês avaliam, realmente sabem quem é Michel Temer? Sou capaz de apostar que seu índice de desconhecimento está bem acima de 50%. Logo, dizer-se a favor do seu impeachment nada mais traduz do que fastio à política e aos políticos, vistos como farinha do mesmo saco.

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3: Há perguntas que não devem ser feitas porque o resultado está dado, e é bem possível que a gente, por bons motivos, não queira saber. Indague se a população é contra ou a favor a castração — a física mesmo, não a química — de molestadores. E quanto a cortar o braço de assassinos e traficantes? Na civilização, a gente evita fazer as perguntas erradas para não obter as respostas que serão, necessariamente, erradas.

4: Não estou comparado o vice a essas figuras execradas pela população, é claro! Só me parece que, dado o ambiente político, falar na “saída de todos” soa como uma posição simpática, embora irresponsável. Emprego exemplos extremos apenas para chamar atenção para o fato de que o “impeachment de Temer” — ou sua renúncia — é uma agenda cujas implicações só uma extrema minoria conhece. Ela só surge como maioria em pesquisa em razão do compreensível ódio à política.

5: “Ah, mas se você mesmo admite que a maioria desconhece Temer, como ele será presidente?” Porque é o que preconiza a Constituição. Vices costumam ser desconhecidos por natureza.

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6: Vamos ver, então: praticamente 100% dos brasileiros conhecem Dilma. As lambanças em curso foram comandadas, obviamente, por seu partido. Temer não tem nada com isso. Delações premiadas ou a põem no centro do escândalo ou evidenciam que é relapsa. O vice, sabidamente, não participa da administração. Não há delações premiadas contra ele, mas há contra Dilma.

O vice também não pedalou, mas ela foi uma exímia bicicletista. A brutal incompetência do governo não deve nada a Temer e deve tudo a Dilma, Lula e aos petistas. Fica a pergunta: faz sentido que praticamente o mesmo número de pessoas peça o impeachment da presidente e do vice? Resposta: é claro que não!

Será mesmo que o impeachment de Dilma, agenda que levou no dia 13 de março mais de 3 milhões às ruas, tem uma taxa de adesão praticamente igual à do impeachment de Temer, que nunca mobilizou ninguém? Com a devida vênia, a resposta é “não!” Essa é uma realidade criada apenas pela pesquisa.

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Também a avaliação do governo teria melhorado um pouquinho: há três semanas, 69% o achavam ruim ou péssimo; agora, 63%. Apenas 10% o viam como ótimo ou bom; agora, 13%. Os que dizem ser regular oscilaram de 21% para 24%.

Faz sentido
Faz sentido certa melhora dos índices do governo, ainda que os números sejam vexaminosos? Faz. Lula está em campanha eleitoral aberta, o governo partiu para a guerra, seus aparelhos estão assanhados, os militantes estão com sangue nos olhos…

O que realmente não faz sentido é a indagação sobre o impeachment ou renúncia de Michel Temer. A menos que seja para fortalecer uma tese ou uma agenda: a da realização de eleições.

Nota final
O Datafolha pergunta se o entrevistado é contra ou a favor da realização de novas eleições caso Dilma e Temer saiam. Dizem-se favoráveis 79%, e 16%, contrários. Também essa pergunta não procede, né? Não é questão de gosto. Se o duplo impedimento se der até 31 de dezembro de 2016, haverá eleições diretas. Se ele ocorrer em qualquer dia a partir de 1º de janeiro de 2017, seria o Congresso a escolher o comando.

No fim das contas, a pergunta real aí é outra, injustificável: “Você é a favor ou contra a que se cumpra o que está na Constituição?”.

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