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COLLOR, O NOVO HERÓI DO PT

Há muito tempo, já escrevi aqui, ganho a vida com a minha escrita. Se há coisa que faço sem dificuldade ou sofrimento, essa coisa é escrever. Gostem ou não do resultado final, conheço um bom par de caminhos para atravessar o mar de letras e palavras. E, mesmo assim, há momentos em que mal sei […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 17h10 - Publicado em 3 ago 2009, 21h05

Há muito tempo, já escrevi aqui, ganho a vida com a minha escrita. Se há coisa que faço sem dificuldade ou sofrimento, essa coisa é escrever. Gostem ou não do resultado final, conheço um bom par de caminhos para atravessar o mar de letras e palavras. E, mesmo assim, há momentos em que mal sei por onde começar. Pelo lead, pelo mais importante? Como cronista ou como analista? Escolho a primeira vertente. Ânsia de vômito! É isto mesmo: o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), o defenestrado presidente da República, acaba de fazer um discurso no Senado, e duvido que qualquer pessoa de bem que o tenha visto e ouvido não tenha evitado um misto de nojo e revolta.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) ocupou a tribuna do Senado na volta do recesso para defender a renúncia de José Sarney (PMDB-AP) à Presidência da Casa. E o que se seguiu foi um espetáculo de grosserias, brutalidade, estupidez, ignorância, atraso, rancor, ódio… Tudo misturado. Os comandantes da tropa de choque em defesa de Sarney foram os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Fernando Collor, com o auxílio de Wellington Salgado (PMDB-MG), hoje com o cabelo aparentemente lavado, mas ainda sem um miserável voto. Ok. A lei lhe garante estar lá. Mas ele continua sem voto.

Calheiros aproveitou os seus apartes para atacar Simon de um modo grotesco, fazendo ilações sobre o seu passado, acusando supostas irregularidades que ele teria cometido quando ministro da Agricultura — sem, evidentemente, apresentar evidência ou prova. Ao mesmo tempo, acusava as injustiças de que ele próprio teria sido vítima quando foi obrigado a renunciar à Presidência do Senado. E dizia com a boca cheia: “Apresentei todas as explicações que me foram pedidas”. Alguém sabe, até hoje, por que era uma empreiteira que pagava a pensão de um filho que ele teve fora do casamento — só para lembrar o aspecto mais incomum de sua biografia?

Mas o grande momento foi mesmo de Collor. Os cabelos mudaram, estão mais brancos, mas a voz e a grosseria de que é capaz continuam rigorosamente as mesmas. Num aparte a Pedro Simon, lá se foi todo o cavalheirismo que tentava afetar desde seu retorno à política, e mandou o senador “engolir suas palavras”. Era o velho jovem Collor. Dêem-lhe um pouco de poder e visibilidade, e lá está ele tentando mostrar que tem “aquilo roxo”. Convidado amigavelmente por outros senadores a retirar a ofensa, tomou a palavra, disse que não retirava coisa nenhuma, evitando até mesmo falar o nome de Simon — chamava-o de “aquele que me precedeu”. E fez a mais enfática e absoluta defesa de José Sarney.

Não! Esperem! Não defendeu José Sarney, não! Defendeu a si mesmo! Assim como Lula diz hoje que o mensalão nunca existiu, Collor tomou a palavra para dizer que foi deposto em razão de uma trama urdida pela IMPRENSA. Sim, senhores! Ele também não fez nada! Segundo deu a entender ali, foi deposto pela revista VEJA — honra que, confesso, nunca vi a revista reivindicar. Mas teria sido um feito e tanto para a história do Brasil. E dizia, com orgulho, ter sido absolvido pelo STF. Foi, sim. Porque, afinal, não deixou ato de ofício sobre o seu modo heterodoxo de governar. Gente como ele nunca deixa ato de ofício.

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Quem quiser saber o que foi o governo Collor tem de começar pesquisando a trajetória do Paulo Cesar Farias, seu caixa de campanha. Vou lembrar aqui, de vez em quando, para as novas gerações, a trajetória e os sucessos desse grande moralista. E foi o próprio Collor quem revelou o espírito do nosso tempo. Lembrou que tinha sido adversário do agora presidente do Senado e do próprio Lula também. E chamou a atenção para o fato óbvio: hoje, os três estão juntos.

Imagino o que sente um petista que tenha sido convidado, no passado, a combater Sarney e depois Collor. Sarney mudou? Continua o mesmo! Collor mudou? Continua o mesmo. Lula mudou? Atenção: ele também continua o mesmo. A única diferença é que, antes, ele não estava no poder. Agora está. E seu critério para definir quem presta e quem não presta é a pessoa ser ou não sua aliada.

Por alguns segundos, vislumbrei aquele mesmo Collor que saía correndo com suas camisetas ridículas, expondo a sua melhor forma de pensamento: o suor. Era o truculento de sempre. Aproveitou para pedir desculpas à família de Sarney por tudo o que disse sobre ela em 1989, mas manteve as ofensas de agora ao senador Pedro Simon. Collor, como Lula, tem só um critério para ofender ou para afagar: ser a pessoa sua aliada ou não. Ele se desculpa de grosserias passadas com grosserias presentes.  Aquilo a que se chamou República de Alagoas deu as caras de novo. Com o charme e a elegância costumeiros.

Oligarquias tradicionais se juntavam ali, agora unidas e chefiadas por um oligarca do sindicalismo: Lula. São os protagonistas da vanguarda do retrocesso. Se estão todos do mesmo lado, alguém sobrou do lado de lá. Adivinhem quem é.

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Sarney, Collor, Renan, Lula e o PT têm um inimigo: a imprensa. Mas não uma imprensa qualquer, não é? Até porque os dois ex-presidentes da República são donos, em seus estados de origem, de jornais e canais de televisão. Da imprensa deles, evidentemente, eles gostam. Não suportam o que chamam “mídia”. Não suportam jornalistas que não possam demitir. Não suportam profissionais nos quais não possam mandar. Não suportam jornalismo que não tenha medo de coroné, rural ou urbano; do interior ou do “chão da fábrica”.

O sonho dourado de todos esses oligarcas, Lula incluído, é controlar a imprensa. E acreditem: eles tentam isso todos os dias do ano, todas as horas do dia.

PS: Será lindo ver os petralhas afirmando que Collor é um bom sujeito. Convenham: ele merece ser elogiados por eles; eles merecem ter de elogiá-lo.

Collor, o novo herói do PT!

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