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Cineasta petista e antipaulista tenta se explicar, mas chafurda de novo na impostura

A Lei Rouanet não cessa de expor pessoas ao ridículo. Jorge Furtado, o diretor de cinema  que se dá muito bem com empresas públicas, resolveu se explicar num novo texto. Desmoralizei o seu primeiro artigo em defesa do capilé oficial para Maria Bethania, aquele em que ele acusa a direita branca de São Paulo. Demonstrei […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h31 - Publicado em 20 mar 2011, 07h51

A Lei Rouanet não cessa de expor pessoas ao ridículo. Jorge Furtado, o diretor de cinema  que se dá muito bem com empresas públicas, resolveu se explicar num novo texto. Desmoralizei o seu primeiro artigo em defesa do capilé oficial para Maria Bethania, aquele em que ele acusa a direita branca de São Paulo. Demonstrei que este petista, mas arenista de pai e mãe, teve seus dois primeiros empregos em órgãos públicos do Rio Grande do Sul ao tempo em que um governador, da Arena, era biônico, e o outro, já eleito, era do PDS, o então partido de Sarney. É um cara que sabe na pele e no estômago o que é direita branca! Furtado lida bem com a Fortuna. Os país, arenistas, eram íntimos do poder. O filho, petista, é íntimo do poder. Os bobos ficam na oposição; a família Furtado, no governo.

Pois bem, ele teve a ousadia de tentar responder, mas esgueirando-se na covardia: “Não foi bem isso o que eu disse”. Deve estar preocupado com um eventual boicote do público paulista à sua próxima obra seminal. Artistas brasileiros adoram fazer obras seminais com dinheiro público. De minha parte, jamais me furtarei a lembrar, a cada filme seu ou especial na TV Globo, o que ele pensa da detestável gente de São Paulo, com seus ombros sempre largos para arcar com os impostos que paga e as culpas que não tem. Aguardo o dia em que gente como Furtado tentará nos expulsar, os paulistas, da federação! Pobre São Paulo! O que será de ti sem o Brasil, não é?!?!?!

Depois de algum teretetê tentando amenizar a boçalidade inicial, ele escreve este incrível parágrafo:
Muitos reclamam de minha comparação do custo do projeto com os valores que a corrupção suga no erário público, como se eu tivesse afirmado que “já que todos roubam”, este dinheiro não faz nenhuma diferença. Um erro não justifica o outro, é claro. Minha comparação com os valores da corrupção serve apenas de parâmetro monetário: se é possível surrupiar 380 milhões das verbas de informática do Distrito Federal, sinal que existe dinheiro disponível para atividades mais nobres. Cultura, por exemplo. Outros reclamam que só citei casos de corrupção em governos demo-tucanos, esquecendo de citar maracutaias de governos petistas (o suposto “mensalão” e os supostos desvios do “caso Erenice” foram os mais citados, fica aqui o registro).

Imaginem se todas as áreas da administração pública decidirem enfiar o pé na jaca porque existe corrupção no país… É um raciocínio pedestre! A Lei Rouanet é renúncia fiscal — logo, lida com dinheiro público, que deixa de entrar no caixa. Não é um saco sem fundo. Se Bethania conseguisse R$ 10 mil para declamar “Hoje é domingo, pede cachimbo”, com aquela sua entonação particular que premia indistintamente Fernando Pessoa ou Zezé Di Camargo, com a dramaticidade de um carcará do bico volteado prestes a alçar vôo,  seria dinheiro demais para o produto a ser entregue ao público. Qual é? Bethania pediu R$ 600 mil para dirigir… Bethania! Quer R$ 50 mil por mês para dizer a si mesma como deve se comportar na leitura de poemas. Não é só perda de parâmetro. Também perdeu o senso de ridículo.

A vigarice intelectual do texto de Jorge Furtado atinge o estado da arte quando ele se refere ao “suposto mensalão” e aos “supostos desvios do caso Erenice”. As provas de um caso e de outro não lhe bastam. Ele não precisa de evidência nenhuma para atacar a direita branca de São Paulo, mas todas as evidências que existem contra os petistas ainda não o convenceram: são crimes “supostos”. Essa gente, com essa moralidade, está no poder e ainda acredita que pode sair por aí distribuindo pitos. Adiante.

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(…) Confesso minha ignorância a respeito dos detalhes da lei Rouanet (nunca a utilizei para fazer meus filmes, embora muitas mensagens no twitter me acusem de ter “enriquecido” com ela) e não tenho opinião formada sobre suas necessidades de reformulação.
De fato, a Lei Rouanet não financia cinema porque quem o faz é a Lei do Audiovisual: é outra, com características parecidas, mas voltada para o cinema.  Furtado sabe disso. Não é que ele esteja mentindo a seus leitores. Eles apenas está deixando de dizer a verdade. Segue ele na arte de desdizer:

Alguns paulistas se sentiram ofendidos, alegando que eu afirmei que todos os críticos ao blog vinham da direita paulista. Não é verdade, não foi o que eu escrevi, leia o texto. O que disse foi que “nas críticas sobram piadas contra os baianos, quase todas vindas do mesmo gueto branco direitista no enclave paulista”. Me referia claramente, portanto, a quase todas as críticas aos baianos, não a todas as críticas ao blog da Bethânia. Eu certamente exagerei ao atribuir aos eleitores de Serra a maioria das críticas ao projeto, muitas são de governistas.

Como se nota, o próprio Furtado deixa claro que a sua afirmação é ainda mais grave. Para ele, São Paulo é um “enclave”, onde existe um “gueto branco direitista”. Ora, o que fazer com “enclave” onde existe um “gueto”? Pergunte a um nazista. Ele tem a resposta! Tentando se corrigir, Furtado consegue ser ainda mais asqueroso.

Enrolando-se mais um pouco, avança o tolerante Jorge Furtado:
“O que eu não aceito, de maneira alguma, é o achincalhe da turba de palpiteiros sobre o trabalho ou o talento de uma artista como a Maria Bethânia ou de intelectuais como o Hermano Vianna. Os covardes que, no anonimato, repetem mensagens que nem leram sobre projetos que desconhecem são o que a internet trouxe de pior. O melhor a fazer é ignorá-los. Infelizmente, nem sempre é possível.”

O que Furtado não tolera é a liberdade de expressão daqueles que não pensam como ele. Na quarta-feira, participei de um seminário do Instituto Millenium sobre liberdade de expressão. Escrevi aqui um texto com as idéias que defendi lá. Afirmei:
“Da mesma forma que o teste de resistência da democracia é feito por aqueles que discordam de consensos – sejam estes legítimos ou não, embasados ou não em verdades científicas -, o teste de resistência dos democratas se dá quando confrontados com idéias que consideram absurdas, irrealistas, detestáveis até. Aceitar que o outro exponha a sua “verdade”, por mais estúpida que nos pareça, testa a nossa capacidade de conviver com a diferença. Isso não significa, e meu trabalho espelha essa minha postura, que não devamos, nós também, ser, então, “detestáveis” à nossa maneira aos olhos de quem discorda de nós. É preciso dizer com clareza e destemor o que se pensa, e não com o intuito de destruir o outro, de “eliminar a contradição”, de “extirpar” o adversário, como poderia sugerir certo Luiz Inácio Lula da Silva.”

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Não é o que pensa Furtado, é claro! Os que não estão com ele são as pessoas do “gueto branco direitista”, do “enclave”, como corpos estranhos que precisam ser eliminados, numa limpeza ideológica.

Da Arena ao PT, Furtado mudou de pêlo, mas não de vício. Continua a odiar a liberdade! Eu, como “branco direitista do enclave paulista”, direi a este senhor o quê? Quando ele estava abrigado no regaço arenista, eu pertencia a uma minoria que tentava derrubar o governo. Hoje ele está no regaço petista, e eu continuo crítico ao governo. Ele odiava a liberdade antes como agora. Eu a prezo agora como antes.

Não, não! Gente que teve o toddynho e as fraldas financiados pela ditadura não vai dar lições de moral democrática sem receber o devido troco. Taí um debate que farei com gosto!

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