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Celibato na Igreja Católica tem se mostrado um desastre; chegou a hora de revê-lo

O papa Francisco afirmou o óbvio (leia post): o celibato não é um dogma da Igreja. Não é novidade. A questão pode ser debatida sem que se abalem as estruturas da igreja. Já escrevi bastante a respeito. Os dias em curso e suas circunstâncias indicam que o celibato é uma escolha desastrada. Vamos lá, arrumar mais um […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 03h47 - Publicado em 27 Maio 2014, 14h54

O papa Francisco afirmou o óbvio (leia post): o celibato não é um dogma da Igreja. Não é novidade. A questão pode ser debatida sem que se abalem as estruturas da igreja. Já escrevi bastante a respeito. Os dias em curso e suas circunstâncias indicam que o celibato é uma escolha desastrada. Vamos lá, arrumar mais um pouco de confusão…

Boa parte do que se chama “escândalo de pedofilia” na Igreja, vamos deixar claro, pedofilia não é porque faltam aos eventos as características próprias a esse tipo de perversão: misturam-se questões de natureza puramente legal com o que, creio, seja uma patologia. Sem querer ser abusado, noto: quando um padre se enrosca com um rapaz de 15, 16 anos na sacristia, isso não é pedofilia, mas só homossexualidade.

Os casos da chamada “pedofilia” na Igreja — seja a dita-cuja propriamente, seja a homossexualidade — são muito menos frequentes do que se alardeia. Deve haver algo em torno de 450 mil sacerdotes católicos espalhados pelo mundo. Se 1% sair por aí fazendo besteira, são 4.500. Imaginem o efeito que isso tem. Toma-se a parte mínima pelo todo. Não tenho dados, mas suponho que, separadas por categorias profissionais, não é improvável que haja 1% de pedófilos — da fato! — até entre os… especialistas em pedofilia…

A Igreja Católica não pode ser um armário. A imposição do celibato leva para o sacerdócio, infelizmente, pessoas que tentam esconder sua sexualidade — que, não obstante, aflora em razão de circunstâncias particulares da vida religiosa. Certamente, a esmagadora maioria dos padres é fiel a uma escolha. Mas basta uma minoria para fazer um estrago danado. Acabar — e vai demorar — com o celibato corresponde a cercar as possibilidades de erro.

Decisão humana
O celibato sacerdotal na Igreja Católica foi instituído no ano 390 — portanto, a Igreja viveu quase quatro séculos sem ele. Sei que estou entrando numa pinima danada. Já me bastaria o ódio dos que chamo partidários da “escatologia da libertação” (que, de teologia, não tem nada). Talvez vire alvo, também, dos conservadores. Ok. Como diria Padre Vieira, “pelo costume, quase se não sente”. Adiante: o celibato é matéria apenas de interpretação, nada mais. Torná-lo uma questão de princípio, como é a defesa da vida — e, pois, a rejeição ao aborto —, é superestimar uma (o celibato) e rebaixar outra (a defesa da vida).

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Na minha Bíblia — e na sua também, leitor amigo —, São Pedro tem sogra. Sei que sou aborrecidamente lógico às vezes, mas é de supor que tinha ou teve uma mulher: “E Jesus, entrando em casa de Pedro, viu a sogra deste acamada, e com febre. E tocou-lhe na mäo, e a febre a deixou; e levantou-se, e serviu-os”. Está em Mateus, 8:14-15.

Na Primeira Epístola a Timóteo, ninguém menos que São Paulo recomenda:

“Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar. Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento” (I Tim, 3:1-3).

Os defensores radicais do celibato pretendem dar a estas palavras um sentido diverso. Desculpem. Trata-se de forçar a barra. Na sequência, São Paulo não deixa a menor dúvida: “Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia. Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?)” (I Tim, 3:4-5). Não quero ser ligeiro. Sei bem que há outras passagens que endossam o celibato. Mas fica claro que se trata de uma questão de escolha, sim, não de fundamento; trata-se de uma questão puramente histórica, não de revelação.

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O celibato pode ter sido útil em tempos bem mais difíceis da Igreja. A dedicação exclusiva à vida eclesiástica pode ter feito um grande bem à instituição. Mas é evidente que se tornou um malefício, um perigo mesmo, fonte permanente de desmoralização. A razão é mais do que óbvia. A maioria dos padres, é possível, vive o celibato e leva a sério o seu compromisso. Mas é claro que o sacerdócio também se tornou abrigo de sexualidades alternativas, que não têm a mesma aceitação social do padrão heterossexual. E que se note: também existem desvios de conduta de padres heterossexuais.

Poderá perguntar alguém: pudesse o padre casar, a Igreja estaria absolutamente protegida de um adúltero, por exemplo? É claro que não. Mas não tenho dúvida de que estaria muito menos cercada de escândalos. Talvez demore mais um século até que isso venha a ser debatido, sempre no tempo da Igreja Católica, que não é este nosso, da vida civil. Mas é importante que os católicos, em especial aqueles que não aderiram a heresias marxistas, comecem a pensar que o celibato não compõe o núcleo da doutrina cristã ou um fundamento do catolicismo. Foi, num dado momento, a escolha de uma forma de organização. Que, hoje, traz mais malefícios do que benefícios.

Sou o primeiro a considerar que a Igreja não tem de ceder a todos os apelos da, vá lá, modernidade, abrindo mão de seus princípios. Só que falta provar que o celibato é um princípio. Não é.

De fato, a obrigação de um sacerdote deveria ser outra, como queria São Paulo: “Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar”. A obrigação deveria ser o casamento, não o contrário.

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