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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Carta Capital X Fora do Eixo 3 – A estupefaciente entrevista do Fora do Eixo. Ele explica como e por que se apropria dos bens de seus “internos”

O leitor certamente estranhou o título acima. “Desde quando uma entidade ou grupo concede entrevista, Reinaldo?” Ora, desde nunca! Mas assim é no Fora do Eixo — afinal, sabem como é, começo a desconfiar que Pablo Capilé não seja coisa deste mundo… Alguma qualidade secreta ele deve ter para que tantos caiam na sua conversa. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h35 - Publicado em 16 ago 2013, 22h06

O leitor certamente estranhou o título acima. “Desde quando uma entidade ou grupo concede entrevista, Reinaldo?” Ora, desde nunca! Mas assim é no Fora do Eixo — afinal, sabem como é, começo a desconfiar que Pablo Capilé não seja coisa deste mundo… Alguma qualidade secreta ele deve ter para que tantos caiam na sua conversa. Adiante. Parece que, depois da publicação da reportagem, a revista decidiu enviar algumas questões a Capilé. Dando curso à fantasia que caracteriza o grupo, foram supostamente respondidas pelo “coletivo”, embora as pessoas do discurso se misturem, ora a primeira do singular, “eu” (quem será?), ora um “nós”, que também pode ser plural majestático. A íntegra está aqui. Transcrevo trechos. Digo uma palavra, umazinha só, que pode até ser favorável a Capilé: nesta entrevista ao menos, ele não esconde o que faz. Não nega — talvez tema o cotejo com as provas — que o Fora do Eixo se aproprie dos bens de seus internos. Ele explica como isso se dá, segundo a lógica do coletivismo. Nega ainda que pessoas sejam usadas como iscas sexuais e classifica isso de “ofensa” às mulheres das casas. O problema é que, na reportagem da Carta, quem confessa ter sido convidado a desempenhar esse papel é um rapaz. Leiam trechos da entrevista. Volto para encerrar.
*
Carta Capital: Dos oito ex-integrantes do Fora do Eixo que a CartaCapital ouviu, quatro aceitaram ser identificados. Os demais se sentiram intimidados e têm medo de retaliações por parte de membros do Fora do Eixo. A que vocês atribuem o medo que essas pessoas sentem? O que vocês diriam para esses e outros ex-integrantes?
Fora do Eixo: Diríamos que ninguém precisa ter medo de nada, e que muito nos espanta este tipo de declaração. Inclusive, chega a ser estranho esta reação sendo que todas as pessoas que passaram pela rede sempre puderam colocar estas angústias quando estavam dentro dela. A rede não pratica intimidação, até mesmo porque, o que poderíamos fazer? São 10 anos de trabalho sem nenhum histórico de violência ou perseguição para que as pessoas não se identifiquem. Isso é muito sensacionalismo. (…) Para mim, levantar estas questões de forma difamatória, sem citar as pessoas e os casos de perseguição não é a melhor forma de se abordar a questão.
(…)

CC: Além da bilheteria e dos editais, há diversas pessoas que tiveram os bens apropriados pelo Fora do Eixo. Segundo ex-integrantes, o uso do cartão de crédito e a apropriação de bens como computadores ou automóveis são práticas usuais. Isso é uma prática sistemática da organização e apoiada por vocês?
FdE: Não, isso não é uma prática nossa. Muito nos impressiona que todas as perguntas e questionamentos que têm chegado não exploram a nossa forma de se organizar, mas buscam enquadrá-la e criminalizá-la como se fosse um modelo convencional de empresa. Primeiro, como é um processo coletivo, esta pessoa que chega já tem acesso a uma série de coisas que já existem. A destinação de seus bens para o uso do processo é um ato livre. Se você tem um carro e vem para uma casa, é natural que este carro seja usado, até porque já tem muita gente emprestando coisas para que o processo exista e se realize. Se você tem um cartão de crédito e quer disponibiliza-lo pra ações da rede, a mesma coisa. Não tem uma prática de apropriação, tem um processo que gera consensos e consentimentos livres e esclarecidos. Da mesma forma que muita gente chega sem ter nada e, a partir da construção coletiva e colaborativa, bens materiais são disponibilizados para esta pessoa desempenhar suas atividades. É importante ficar claro, o Fora do Eixo trabalha com a perspectiva de propriedade coletiva e compartilhada, com definições claras para o acesso pessoal. A chave para entender isso não está numa leitura maniqueísta ou na abordagem que tenta ver o Fora do Eixo como uma empresa capitalista. É muito desonesto, principalmente para pessoas que participaram deste processo e fizeram suas escolhas, partirem pra uma criminalização depois que se desapontam com uma experiência. Não existe sequestro compulsório de bens e é um absurdo a Carta Capital afirmar em uma pergunta que “há diversas pessoas que tiveram os bens apropriados pelo Fora do Eixo”. Não existe apropriação nenhuma desses itens. Obviamente, as pessoas que saem do FdE levam o que é de sua propriedade: sejam cartões, computadores ou automóveis. Se nos apropriássemos estaríamos com estes itens até hoje.

CC: O FdE começou a receber dinheiro público durante a gestão do tucano Wilson Santos, em Cuiabá. O que mudou para o coletivo hoje em dia descartar o apoio do PSDB?
FdE: As politicas públicas não são partidárias. Não acreditamos em política de governo, acreditamos em políticas de Estado. A pergunta está muito mal feita e descontextualizada. O Estado não é o PT e muito menos o PSDB! Alguns partidos estão abertos ao diálogo e outros não, mas as políticas publicas independem deles.

CC: CartaCapital colheu diversos relatos do uso sexual de mulheres para atrair novos integrantes ou parceiros para o FdE. E, em menor número, de homens. Seria proibido pela direção não apenas namorar pessoas de fora da casa, mas também namorar alguém “de dentro” de forma espontânea, já que seriam relações que “não trazem ativos” para a rede –sempre de acordo com relatos de ex-integrantes. A cúpula do FdE decide quem deve namorar quem, como parte de uma estratégia de crescimento interno? A prática, que teria até nome (“catar e cooptar”), faz parte da estratégia da rede?
FdE: Estas acusações são gravíssimas e quem as coloca tem que estar preparado para provar. Temos plena convicção que isso, além de ser uma grande mentira, é um ato gravíssimo de calúnia e difamação, e muito nos espanta uma revista como a CartaCapital, que inclusive tem jornalistas que já estiveram muito próximos à rede, trazer a tona uma calúnia, sem provas.
(…)

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CC: MPL, DAR, MH2O, Mães de Maio, moradores da Favela do Moinho, o Cordão da Mentira e outros movimentos sociais já fizeram críticas ao FdE. Recentemente, um integrante da Mídia Ninja foi expulso da favela do Moinho e outros já haviam sido hostilizados em protestos. Ao que vocês atribuem a hostilidade de diversos movimentos sociais ao FdE e suas iniciativas, como a Mídia Ninja?
FdE: Ao mesmo tempo somos parceiros e temos recebido diversas moções de apoio e solidariedade de vários outros movimentos como o MST, a CUFA, o Afroreggae, a Agencia de Redes pra Juventude, o Movimento Nacional dos Direitos Humanos, o Movimento Ação Griô, o Movimento de Povos de terreiro, a UJS, e vários movimentos ambientais, sociais e culturais. Existe algum ponto de consenso nos movimentos sociais? O que existe, no nosso entendimento, é um espaço enorme de diversidade e de disputa de narrativas e alinhamentos a partir dos valores e interesses dos movimentos.
(…)

CC: Ao que vocês acham que se deve a proliferação de depoimentos contra o FdE na última semana?
FdE: Vivemos num momento de grandes mudanças. As jornadas de junho no Brasil, alinhadas a diversos movimentos que correm o mundo todo hoje, mais as mudanças tecnológicas vividas recentemente nos colocam no olho do furacão, neste processo de mudanças sociais dramáticas, trazidas pelo digital. Somos um laboratório de experiência de rede digital único no Brasil e talvez único em todo o mundo. Trabalhamos fortemente nos últimos 10 anos dentro do circuito cultural e a pelo menos três anos estamos num diálogo constante com diversos setores da sociedade brasileira. Fazemos tudo isso de forma aberta e transparente entendendo que somos Beta, e que estamos em processo permanente de atualização. E pra completar tivemos uma enorme visibilidade nos últimos dias com o sucesso e quantidade de questionamentos que a Mídia Ninja teve e trouxe. Como movimento fortemente enraizado nas redes sociais, também recebemos os ônus e bônus de tudo que acontece ali. Ou seja, natural que um movimento que questiona sistemas de representatividade na rede, receba primeiramente os resultados disso.
(…)

Voltei
Sou tentado a contestar Capilé resposta a resposta, chegando a minúcias. Mas ele não vale tudo isso. Alguns aspectos bem pontuais relativos à entrevista que ele deu — ooops!, ele não! O coletivo. Capilé, pelo visto, também é uma legião.

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1: O medo dos que não querem aparecer não é de agressão física (ou não é só esse). É que se trata de gente que pertence a essa tal circuito alternativo de produção cultural, onde Capilé dá as cartas — inclusive no que concerne a financiamento público. É ele quem manda na Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo — Juca Ferreira é seu chapa — e é um tubarão no Ministério da Cultura. Agora fica mais claro como Ana de Hollanda caiu (fica para outro post).

2: Releiam a resposta do “coletivo” Capilé. Ela não difere em nada do que dizem alguns chefes de seitas picaretas que se apropriam dos bens dos fiéis. A desculpa é sempre a mesma: “A doação foi espontânea”. Capilé reveste a sua cascata com um verniz coletivista, mas está tudo dito ali. Testemunho do ex-membro Rafael Rolim:
“Solicitaram um cartão de crédito que eu tinha em conjunto com meus pais para comprar passagens. Como a confiança era total, fui induzido a compartilhar a senha. Em um mês e meio gastaram 21 mil reais no meu cartão. Compraram um Macbook Pro novo para o Capilé, o que só soube quando a fatura chegou”.

3: A que ele atribui as denúncias? Ah, gente, é coisa da nova era, do alinhamento dos astros, sabe-se lá… Uma coisa do outro mundo mesmo!

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