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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Campos na TV: discurso pega carona no mote de Serra em 2010, mas fazendo discurso de situação. Ou: Campos seria o futuro de um passado que tem FHC, Lula e… Dilma! Será?

“O Brasil pode mais.” Era esse o mote da campanha do tucano José Serra à Presidência em 2010. Em 2014, caso confirme a sua candidatura, o governador Eduardo Campos (PSB) pretende emplacar o “é possível fazer mais“. Sai “o Brasil” como sujeito; entra Campos como a personagem oculta do que seria possível. Em 2010, Serra […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h23 - Publicado em 26 abr 2013, 07h55

“O Brasil pode mais.” Era esse o mote da campanha do tucano José Serra à Presidência em 2010. Em 2014, caso confirme a sua candidatura, o governador Eduardo Campos (PSB) pretende emplacar o “é possível fazer mais“. Sai “o Brasil” como sujeito; entra Campos como a personagem oculta do que seria possível. Em 2010, Serra conduziu uma campanha de oposição, sim, mas sem bater de frente com o Lula. Se candidato, Campos, está claro, vai se apresentar como uma “situação” mais competente do que Dilma Rousseff.

É uma equação sustentável? Acho que é suficiente para popularizar o seu nome para 2018.

Antes que faça algumas considerações sobre a linha adotada, cumpre notar que o PSB levou ao ar um programa de excelente qualidade técnica, profissional mesmo! Se o governador vai ou não disputar a eleição, não dá para saber ainda — já está ficando tarde para recuar; corre o risco de passar por faroleiro se voltar atrás —, mas é possível afirmar uma coisa: não está de brincadeira. Cercou-se de gente que entende do riscado.

A vez de Campos
O PSB voltou no tempo. Foi lá atrás buscar a campanha das Diretas, que teria sido tocada por homens que souberam vencer as divergências em benefício do Brasil. E apareceram, então, as figuras de Tancredo Neves, Leonel Brizola, FHC, Lula e, não poderia faltar, Miguel Arraes, avô do governador. A mensagem nada sutil: também hoje o país precisa de união; de pessoas que não estejam preocupadas em dividir, mas em somar. A mensagem menos sutil ainda: a personagem que encarna essa união é… Campos!

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O programa diz que o Brasil mudou muito nos últimos anos, com a eleição de um intelectual (FHC), de um operário (Lula) e de uma mulher (Dilma). Assim, essas personagens, até mesmo Dilma, que vai disputar a reeleição, entram para a galeria da história. Todos merecem o seu quinhão de reconhecimento; todos fizeram bem ao B Brasil, mas já são passado. O futuro que surge , com uma luz difusa ao fundo, com o acento nordestino da fala muito menos carregado do que de hábito, é Campos.

Assim, o líder do PSB aparece como um homem sem adversários, só com aliados. Seus inimigos são os problemas do Brasil, que não são atribuídos a ninguém. Mas o telespectador é capaz de fazer sinapses, não? Se “é possível fazer mais”, se os problemas estão aí e se esse “mais” não está sendo feito, então é hora de trocar Dilma por Campos.

O governador está cercado de profissionais. Pesquisas já identificaram que os petistas carregam certa imagem de arrogância — Dilma também. Daí o convite: “É preciso ter a humildade de admitir e a coragem de enfrentar os problemas que estão aí batendo à nossa porta”. Quais problemas? Reproduzo uma síntese feita por Daiane Cardoso, no Estadão Online: “O governador observou que o Brasil tem o pré-sal, mas ainda gasta US$ 3 bilhões por ano para importar gasolina; que o País é considerado um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas que falta infraestrutura para estocar e transportar a produção; que a matriz energética brasileira é a mais limpa do mundo, porém gasta R$ 400 milhões por mês para ‘manter termelétricas poluidoras’; e que, apesar de se abrirem as portas das universidades aos brasileiros que nunca tiveram essa oportunidade, ainda faltam creches, e o Ensino Fundamental precisa melhorar. ‘Temos um país que nos estimula. E, dentro dele, um país que nos pede para fazer mais.’”

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Essas questões não ficariam bem no programa de um partido de oposição? Certamente! Mas Campos não é oposição; é situação. Apenas se considera uma situação mais competente do que a que está na guarda. O governador, em suma, prega a continuidade sem continuísmo. Se o Brasil fosse uma democracia um pouco mais convencional, Dilma e Campos seriam alas de um mesmo partido e estariam disputando prévias.

O programa sabe o que faz. Campos jamais acusaria seus aliados petistas de corrupção ou empreguismo, mas tem consciência de que precisa falar também ao eleitorado de oposição se quiser ter alguma chance. Afirmou: “Cargo público tem de ser ocupado por quem tem capacidade, mérito, sobretudo espírito de liderança. E não por um incompetente que é nomeado somente porque tem um padrinho político forte”. Devemos entender que esses problemas foram banidos do governo de Pernambuco.

Em franca campanha para se cacifar como candidato à Presidência, o governador condenou os políticos que ficam se preocupando apenas com eleições e deixam de lado os problemas do Brasil. E sentenciou: “Não é hora de montar palanques”. Campos falou ainda da necessidade de um novo pacto federativo, reclamou da concentração de verbas nas mãos da União, em detrimento de estados e municípios — e devemos entender que, se ele for presidente, isso muda.

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O discurso funciona?
Esse discurso que não é de oposição, mas de uma “posição crítica”, como diria Marina Silva, cola? Por mais bem feito que tenha sido o programa, e foi; por mais que Campos tenha tocado em problemas que estão por aí, aos olhos de todos, é difícil! Não é uma construção corriqueira em nenhuma democracia do mundo. Havendo a disputa, Campos terá de dizer o que Dilma deveria ter feito e não fez — e por que não “fez mais” se isso era, afinal de contas, possível. E, nessa hora, estará disputando o eleitorado da oposição, que não é o seu mercado ideológico principal. Talvez Aécio deva se preocupar, então, mais do que Dilma.

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