Assim não, Marina! Cadê a honestidade intelectual? Ou: Há o que diz Marina, e há o que dizem os fatos!
Lembram-se quando Marina Silva e o Greenpeace afirmaram que o simples debate sobre o novo código florestal havia aumentado o ritmo do desmatamento? Eu negava, dizia que aquilo era absurdo, que qualquer ação ilegal posterior a julho de 2008 não contaria nem com a possibilidade da compensação ambiental: era multa e pronto. Mas não adiantava. […]
Lembram-se quando Marina Silva e o Greenpeace afirmaram que o simples debate sobre o novo código florestal havia aumentado o ritmo do desmatamento? Eu negava, dizia que aquilo era absurdo, que qualquer ação ilegal posterior a julho de 2008 não contaria nem com a possibilidade da compensação ambiental: era multa e pronto. Mas não adiantava. A imprensa comprou a versão dela. Costuma ser assim: Marina fala, os jornalistas que cobrem a área vão atrás. Saíram quilômetros e quiloos de reportagens vocalizando aquela mentira. Só para dar alguns exemplos:
No Estadão, aqui;
Na Folha, aqui;
No Portal G1, aqui.
São só três exemplos entre centenas, talvez milhares de reportagens do gênero. As fontes eram sempre as mesmas: Marina e seus derivados — ou suas versões genéricas — e os patriotas do Greenpeace. No caso, patriotas holandeses, claro!
Se vocês clicarem aqui, lerão a própria Marina a sustentar a tese mentirosa. Ela até reuniu meia-dúzia de gatos pingados no Ibirapuera sustentando a tese.
Muito bem! Então ficamos assim: a expectativa de votação do novo código, diziam, estava aumentando o desmatamento. Não fazia sentido! Não era lógico! Mas e daí? Elas são pessoas boas, né? E eu sou uma pessoa má, que não gosta de mato. Ora…
Desmatamento caiu
Na segunda-feira, todos os veículos de comunicação do Brasil foram obrigados a noticiar um fato realmente interessante. O título de uma reportagem do Estadão Online foi o mais completo:
Desmatamento na Amazônia cai 11% e atinge menor taxa em 24 anos
– Então Marina estava errada, e eu, que não sou ecologista nem vivo disso, estava certo.
– Então o Greenpeace estava errado, e eu, que não sou ongueiro nem vivo disso, estava certo.
– Então os que acreditam em Marina estavam errados, e eu, que acredito nos fatos, estava certo.
No Estadão desta quinta, para escândalo da lógica e da memória, eis que surge Marina. Leiam:
“Ela [Marina] lembrou que os 11% de redução no desmatamento da Amazônia neste ano, comparado ao período anterior, foram obtidos com a atual legislação. ‘Com sua remoção, as coisas podem ficar bem diferentes’”.
É inacreditável!
– Marina afirmava que o desmatamento estava subindo; ele estava caindo;
– Marina afirmava que o debate no novo Código aumentava o desmatamento; ele diminuía;
– Marina afirmava que a expectativa do novo código, na vigência do anterior, acelerava o desmatamento; mas este estava em desaceleração.
Assim, por uma questão de lógica elementar, de honestidade intelectual — sim, Dona Marina, de honestidade intelectual — e de decoro, ela deveria ter vindo a público para dizer: “Eu estava enganada. Se é que o debate do novo código teve alguma influência nessa questão, ela foi favorável à preservação da floresta”.
Encerro
Eu sei. Alguns não gostam de mim, entre outros motivos, porque faço coisas como esta aqui: confrontar as pessoas com aquilo que elas próprias disseram, pondo a memória dos fatos a serviço da verdade.