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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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A primeira coisa que morreu no caso das supostas eutanásias de Curitiba foi o bom procedimento da polícia; a segunda, o bom jornalismo. Ou: O risco de uma nova Escola Base

Eu virei o católico de plantão da imprensa, não é? Eu virei o cobre de plantão para os que ainda se lembram da tabela periódica. Quando alguém quiser acusar os católicos de sempre, os cristãos de sempre, os reacionários de sempre, podem me acusar. Eu sou contra tudo aquilo que faz uma pessoa ser aceita […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h44 - Publicado em 6 mar 2013, 07h13

Eu virei o católico de plantão da imprensa, não é? Eu virei o cobre de plantão para os que ainda se lembram da tabela periódica. Quando alguém quiser acusar os católicos de sempre, os cristãos de sempre, os reacionários de sempre, podem me acusar. Eu sou contra tudo aquilo que faz uma pessoa ser aceita nas festinhas como gente de bem. Eu sou contra o aborto. Eu sou contra a eutanásia. Eu sou contra experiências com embriões humanos na forma como vêm sendo feitas. Na verdade, eu me envergonho de viver num mundo de pessoas tão boas sendo uma pessoa tão má. Querem matar os fetos, e eu digo: “Não matem!”. Eu me desculpo por ser esse lixo execrável. Querem matar as pessoas já sem esperança, e eu digo: “Não matem”. Eu me desculpo por ser esse lixo execrável. Querem eliminar os embriões para, dizem, “salvar vidas”, e eu digo: “Não eliminem”. Eu continuo a me desculpar por ser esse lixo execrável.

Pois bem… Eu, que abomino eutanásia, obrigo-me a perguntar: estará mesmo bem contada a história da médica Virgínia Helena Soares de Souza, ex-chefe da UTI do Hospital Evangélico de Curitiba, acusada de comandar um verdadeiro pelotão de extermínio no hospital? 

O que acho mais curioso é que esse suposto procedimento de Virgínia contaria com o apoio de pelo menos quatro outros médicos, de uma enfermeira e de dezenas de outros funcionários. Ou por outra: pessoa má, verdadeiramente nefasta, ela nem procuraria esconder os seus crimes;  ao contrário, terceirizaria responsabilidades, tão certa estaria da impunidade. Virgínia pode até ser culpada, mas a história, como está contada, não faz sentido.

Taxa de mortalidade
Não vi até agora — e a imprensa brasileira não se ocupou disto — uma comparação entre as taxas de mortalidade da UTI do Hospital Evangélico de Curitiba e dos demais hospitais com o mesmo perfil. Atenção! Bastaria que estivesse na média para que a acusação fosse desmoralizada.

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É claro que existe a possibilidade de ela ser culpada; é claro que estou aqui expondo a cara ao tapa, embora eu não esteja assegurando a sua inocência. Nada disso me importa. O que acho insuportável é que a médica e seus auxiliares sejam linchados sem ter nem mesmo assegurado o direito de defesa. Ex-funcionários, zelosos ou ressentidos, não são as melhores fontes para decidir o que se fazia no hospital.

A transcrição de uma das conversas da médica transformou a palavra “raciocinar” em “assassinar”. Virgínia comenta com um interlocutor: “Nós estamos com a cabeça bem tranquila pra raciocinar, pra tudo, né?”. E se transcreveu no inquérito, depois corrigido: “Nós estamos com a cabeça bem tranquila pra assassinar, pra tudo, né?”. Que tipo de gente comentaria, como quem diz “hoje é quarta-feira”, que está com a “consciência tranquila para assassinar”??? Eu respondo: uma assassina forjada pela imaginação, pela escalada dos boatos, pelo fuzilamento moral sumário. Ora, se era isso o que se achava de Virgínia desde o princípio, não haveria prova no mundo capaz de inocentá-la.

De novo: Virgínia até pode ser culpada — e, para que se chegue a tal conclusão, existe o devido processo legal. Mas a delegada Paula Brisola, do Núcleo de Repressão de Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), foi muito além de suas sandálias. Assistimos, reitero, a um processo de linchamento. Podemos estar diante de uma nova “Escola Base”, lembram-se? Pessoas tiveram suas respectivas vidas destruídas, acusadas pela polícia de molestamento sexual de crianças, e tudo se provou, depois, uma equívoco gigantesco, alimentado por pais delirantes, policiais irresponsáveis e chegados a holofotes e boataria.

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A menos que operasse no Hospital Evangélico de Curitiba uma verdadeira seita da morte, liderada por Virgínia, parece-me inverossímil que cinco médicos e uma enfermeira decidissem matar pessoas de forma industrial, sem o receio de que tal prática acabasse sendo denunciada.  Na VEJA.com, li, nesta terça, o que segue (em vermelho):
De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Michelotto, em entrevista dada à imprensa nesta terça-feira, a polícia não deve mais comentar o assunto nos próximos dias. Segundo ele, as provas conseguidas pela polícia podem causar comoção e até revolta contra o Hospital Evangélico.
Quebra de sigilo — Segundo Michelotto, o pedido do afastamento da delegada do Núcleo de Repressão de Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), Paula Brisola, feito pelo hospital, foi “lamentável”. “Em um momento de crise como esse, uma direção responsável teria procurado se unir à Polícia Civil e ao Ministério Público para sanear os problemas que existem dentro do hospital”, disse. De acordo com o delegado, o Hospital Evangélico terceiriza praticamente toda a estrutura do seu prédio e “não tem condições de controlar nem as suas dependências.

Lamento! Mas também o senhor Michelotto perdeu o eixo. Que a delegada Brisola exorbitou, isso é uma evidência dos fatos, ainda que a médica Virgínia e os demais acusados sejam culpados. Se ela quer ser juíza,  seu lugar não é a polícia. Quanto ao pedido de afastamento, destaco: é parte do jogo. Não cabe a Michelotto ficar ofendido e atacar o hospital por isso. Ademais, o que a eventual terceirização dos serviços tem a ver com a acusação??? Michelotto pode não gostar de terceirizações, mas isso não torna assassinas pessoas e instituições.

Espero que Virgínia e os demais acusados sejam inocentes. Custo a acreditar na formação de uma quadrilha de médicos destinada obsessivamente a matar. De todo modo, ainda que se venha a provar que são culpados, uma coisa é certa nesse caso, e não há controvérsia possível a respeito: o bom procedimento da polícia e o bom jornalismo foram assassinados.

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