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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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A petização e a peemedebização da Canção Nova – Presidente do PT-SP ganha programa na TV da comunidade; na estréia, Gilberto Carvalho e Chalita!

A “Canção Nova”, uma comunidade católica carismática, já chegou a ser confundida com uma corrente conservadora da Igreja Católica — coisa da qual sempre discordei, ou o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), tão “progressista” em muitos aspectos, não seria uma de suas estrelas. Sei que há pessoas lá que conservam a ortodoxia católica, às quais dirijo […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h10 - Publicado em 15 nov 2011, 19h04

A “Canção Nova”, uma comunidade católica carismática, já chegou a ser confundida com uma corrente conservadora da Igreja Católica — coisa da qual sempre discordei, ou o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), tão “progressista” em muitos aspectos, não seria uma de suas estrelas. Sei que há pessoas lá que conservam a ortodoxia católica, às quais dirijo meus melhores votos. Aliás, já houve padres que foram censurados pela direção por sustentar a palavra de Deus. Falando em tese, o desvirtuamento do comando de um grupo religioso não contamina necessariamente a comunidade. Por que isso?

Sabem quem ganhou há poucos dias um programa na TV Canção Nova? O “sociólogo”, como foi apresentando no site da comunidade, Edinho Silva, que também é deputado estadual e presidente do PT em São Paulo. Fiquei cá com a desconfiança de que Chalita está usando a Canção Nova para fazer política. Ele já transformou uma “irmã” notável dessa corrente em sua assessora: Lurian, a filha de Lula.

O programa se chama “Justiça e Paz”. O próprio Edinho explica o objetivo em SUA PÁGINA DE DEPUTADO: “O Justiça e Paz sempre mostrará que a fé acompanhada de uma ação transformadora é sinônimo de uma sociedade mais justa e igualitária; significa a vivência e a busca dos sonhos do Evangelho de construção da sociedade da fartura, ‘onde corre leite e mel’, da ‘vida plena’ (…). Entendi.

Bem, se o negócio é leite e mel, quem poderia lustrar e ilustrar melhor a estréia? Ora, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, e o próprio Gabriel Chalita. Era o PT e o PMDB celebrando o seu encontro! Aquilo era política, não religião. Ah, sim: Wellington Silva Jardim, conhecido como “Eto”, presidente da Canção Nova, também estava presente.

Edinho, homem de Deus?
Edinho é comprovadamente um homem de Deus, como os demais que estavam ali reunidos. Foi o sujeito que comandou o esforço em São Paulo para recolher os folhetos da Regional Sul 1 da CNBB, em 2010, que faziam, CONSOANTE COM OS PRINCÍPIOS DA IGREJA CATÓLICA, a pregação contra o aborto e convidava os cristãos a não votar em candidatos que defendessem a prática. Amplos setores da imprensa, então, se calaram diante do que era uma óbvia agressão à liberdade de expressão e à liberdade religiosa.

O político que acaba de ganhar um programa na Canção Nova recorreu à Justiça Eleitoral — e conseguiu o seu intento — para tirar de circulação o manifesto que segue abaixo. Reparem que o texto não cita nomes de candidatos nem fala de partidos. Trata-se apenas de uma censura ao aborto. Segue o manifesto para quem não o conhece. Volto depois.

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A Presidência e a Comissão Representativa dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, em sua Reunião ordinária, tendo já dado orientações e critérios claros para “VOTAR BEM”, acolhem e recomendam a ampla difusão do “APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS” elaborado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 que pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico www.cnbbsul1.org.br

São Paulo, 26 de Agosto de 2010.

Dom Nelson Westrupp, scj
Presidente do CONSER-SUL 1

Dom Benedito Beni dos Santos
Vice-presidente do CONSER-SUL 1

Dom Airton José dos Santos
Secretário Geral do CONSER SUL 1

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APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS

Nós, participantes do 2º Encontro das Comissões Diocesanas em Defesa da Vida (CDDVs), organizado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB e realizado em S. André no dia 03 de julho de 2010,

– considerando que, em abril de 2005, no IIº Relatório do Brasil sobre o Tratado de Direitos Civis e Políticos, apresentado ao Comitê de Direitos Humanos da ONU (nº 45) o atual governo comprometeu-se a legalizar o aborto,

– considerando que, em agosto de 2005, o atual governo entregou ao Comitê da ONU para a Eliminação de todas as Formas de Descriminalização contra a Mulher (CEDAW) documento no qual reconhece o aborto como Direito Humano da Mulher,

– considerando que, em setembro de 2005, através da Secretaria Especial de Política das Mulheres, o atual governo apresentou ao Congresso um substitutivo do PL 1135/91, como resultado do trabalho da Comissão Tripartite, no qual é proposta a descriminalização do aborto até o nono mês de gravidez e por qualquer motivo, pois com a eliminação de todos os artigos do Código Penal, que o criminalizam, o aborto, em todos os casos, deixaria de ser crime,

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– considerando que, em setembro de 2006, no plano de governo do 2º mandato do atual Presidente, ele reafirma, embora com linguagem velada, o compromisso de legalizar o aborto,

– considerando que, em setembro de 2007, no seu IIIº Congreso, o PT assumiu a descriminalização do aborto e o atendimento de todos os casos no serviço público como programa de partido, sendo o primeiro partido no Brasil a assumir este programa,

– considerando que, em setembro de 2009, o PT puniu os dois deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso por serem contrários à legalização do aborto,

– considerando como, com todas estas decisões a favor do aborto, o PT e o atual governo tornaram-se ativos colaboradores do Imperialismo Demográfico que está sendo imposto em nível mundial por Fundações Internacionais, as quais, sob o falacioso pretexto da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher, e usando o falso rótulo de “aborto – problema de saúde pública”, estão implantando o controle demográfico mundial como moderna estratégia do capitalismo internacional,

– considerando que, em fevereiro de 2010, o IVº Congresso Nacional do PT manifestou apoio incondicional ao 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), decreto nª 7.037/09 de 21 de dezembro de 2009, assinado pelo atual Presidente e pela ministra da Casa Civil, no qual se reafirmou a descriminalização do aborto, dando assim continuidade e levando às últimas consequências esta política antinatalista de controle populacional, desumana, antisocial e contrária ao verdadeiro progresso do nosso País,

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– considerando que este mesmo Congresso aclamou a própria ministra da Casa Civil como candidata oficial do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República,

– considerando enfim que, em junho de 2010, para impedir a investigação das origens do financiamento por parte de organizações internacionais para a legalização e a promoção do aborto no Brasil, o PT e as lideranças partidárias da base aliada boicotaram a criação da CPI do aborto que investigaria o assunto,

RECOMENDAMOS encarecidamente a todos os cidadãos e cidadãs brasileiros e brasileiras, em consonância com o art. 5º da Constituição Federal, que defende a inviolabilidade da vida humana e, conforme o Pacto de S. José da Costa Rica, desde a concepção, independentemente de sua convicções ideológicas ou religiosas, que, nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalizacão do aborto.

Convidamos, outrossim, a todos para lerem o documento “Votar Bem” aprovado pela 73ª Assembléia dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, reunidos em Aparecida no dia 29 de junho de 2010 e verificarem as provas do que acima foi exposto no texto “A Contextualização da Defesa da Vida no Brasil” (https://www.cnbbsul1.org.br/arquivos/defesavidabrasil.pdf), elaborado pelas Comissões em Defesa da Vida das Dioceses de Guarulhos e Taubaté, ligadas à Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, ambos disponíveis no site desse mesmo Regional.

COMISSÃO EM DEFESA DA VIDA DO REGIONAL SUL 1 DA CNBB

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Voltando
Eu não tenho medo de correntes na Internet. Assim, os eventuais partidários de Chalita e Edinho — que são, a meu juízo, políticos usando o catolicismo, não católicos recorrendo à política (já explico a diferença) — podem se dispensar de fazer correntes etc. Não dou a mínima. Também os membros da Canção Nova pensem duas vezes antes de expressar o seu protesto. Não estou criticando a obra em si, mas aqueles que dela abusam para conquistar o poder no reino dos homens, em vez de honrar o Reino de Deus. Na verdade, estou é alertando muitos fiéis para a insinuação do mal numa obra do bem.

Quando políticos instrumentalizam a religião, estão apelando às coisas de Deus para conseguir votos. Eu tenho um profundo desprezo por essa prática, sejam evangélicos, católicos, protestantes tradicionais… Quando pessoas com convicções cristãs recorrem à política para tentar espalhar a sua mensagem, aí estamos diante do fortalecimento da democracia. Explico-me. Católicos podem e devem atuar no espaço da política para combater o aborto, por exemplo, um princípio de sua igreja, sempre sabendo que a decisão será tomada pelo Parlamento, que é oficialmente laico.

Mas o que dizer de um católico como Edinho, que apelou à Justiça Eleitoral — infelizmente com sucesso — para censurar um manifesto contra o aborto? O que dizer de Chalita, que, na prática, apoiou essa atitude? De novo: é inútil vir com gritaria e correntes de difamação. Não dou pelota! Até porque este é mesmo um site em que se fazem embates políticos. Se há coisa fora do lugar, é o eixo PT-PMDB na Canção Nova. Já critiquei muito aqui, como sabem, a excessiva politização de igrejas evangélicas. Sou católico. E reconheço quando a distorção atinge também correntes ligadas à minha igreja.

Eu duvido que essa peemedebização e petização da Canção Nova seja do agrado de todos os seus fiéis. Que eles reflitam bastante e se perguntem se o que está em curso é o triunfo da palavra de homens que querem poder ou o triunfo do poder da palavra de Deus.

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