A negativa de Temporão
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, negou, em princípio, que haja qualquer irregularidade na compra do Tamiflu, aquela que rendeu a dinheirama — “Caraca! Que dinheiro é esse?” A VEJA já havia publicado a negativa na reportagem. Mesmo assim, o ministro pediu para a Polícia Federal investigar a denúncia. Pois é… Às vezes, a […]
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, negou, em princípio, que haja qualquer irregularidade na compra do Tamiflu, aquela que rendeu a dinheirama — “Caraca! Que dinheiro é esse?” A VEJA já havia publicado a negativa na reportagem. Mesmo assim, o ministro pediu para a Polícia Federal investigar a denúncia.
Pois é… Às vezes, a investigação da Polícia Federal anda; às vezes, não anda. Falarei a respeito mais tarde. A VEJA desta semana traz uma reportagem muito reveladora sobre esse assunto também. Aliás, as três edições recentes, que chamo “A Trilogia do Polvo”, têm de ser guardadas e protegidas como documento histórico. O Brasil, com freqüência, terá de voltar a essas revistas.
Voltemos a Temporão. Em primeiro lugar, é evidente que cabe ao ministro fazer o óbvio: negar as irregularidades. Com efeito, o Ministério é quem decide. Mais: as circunstâncias justificam a compra sem licitação. No melhor dos mundos, onde as leis funcionam e onde os governos seguem o padrão da moralidade, da impessoalidade e da eficiência, as coisas se dão assim mesmo.
Ocorre que a ministra Erenice Guerra não caiu por causa dessas virtudes, não é mesmo? Temporão sabe que a Casa Civil tem seus, como posso chamar?, “braços” no Ministério da Saúde — e em todos os outros. Na Anvisa, por exemplo, aboletam-se mil e poucos petistas. Temporão sabe que é verdade.
Como se explica a “interferência” da Casa Civil nos Correios? Ou na Anac? Ou nas empresas sob o controle do Ministério das Minas e Energia? Ou no Ministério das Comunicações? Então vamos ficar assim:
– A dinheirama “Caraca!” circulou na Casa Civil;
– entrou como prêmio pela operação Tamiflu;
– Temporão nega a interferência da Casa Civil na compra, mas pede investigação da PF.
Recomendo prudência ao ministro — a sua entrevista até que foi moderada. A razão é simples, não é, doutor Temporão? A matéria da VEJA, segundo o governo, era “factóide”; a da Folha era “coisa de bandido”. Faz uma semana hoje que a revista revelou o esquema que operava na Casa Civil. Erenice acordou naquele sábado como um dos indivíduos mais poderosos da República e hoje é uma ex-ministra que tem de explicar o inexplicável.