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A minha ética é a do moleiro. E o bobo da corte de Frederico 2º

Ricardo Noblat escreveu ontem ou anteontem que não é um blogueiro “azedo”. Para demonstrá-lo, decidiu ser engraçado. Leitores me mandam um post seu em que diz que Kennedy Alencar previu a decisão do Supremo em favor da instalação da CPI do Apagão Aéreo na Câmara. É uma tentativa de tornar regular um procedimento que o […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h31 - Publicado em 25 abr 2007, 18h24
Ricardo Noblat escreveu ontem ou anteontem que não é um blogueiro “azedo”. Para demonstrá-lo, decidiu ser engraçado. Leitores me mandam um post seu em que diz que Kennedy Alencar previu a decisão do Supremo em favor da instalação da CPI do Apagão Aéreo na Câmara. É uma tentativa de tornar regular um procedimento que o próprio juiz Sérgio Wajzenberg admite ter sido “idealizado” por ele próprio, como se fosse esse o seu papel. Sobre o fato de Kennedy confessar ter tido acesso à explicação do juiz antes mesmo dos advogados da Abril e de Diogo (outra vez!), nenhuma palavra. Sobre o juiz ter confessado os seus erros, silêncio também. Sobre um assessor da Presidência do Tribunal de Justiça (não é um assessor de Imprensa) conceder uma entrevista a um site, desqualificando a argumentação de uma das partes, nada também.

Essa gente prefere brincar com fogo: se o alvo são seus adversários (reais ou imaginários), tanto faz, pra eles, se os procedimentos do estado de direito são ou não seguidos. Não se vêem eles próprios como potenciais vítimas de futuras irregularidades; não entendem que a questão está em não transgredir um princípio. A explicação do juiz Sérgio Vajzenberg é uma longa crônica de admissão de erros. Qualquer advogado saberia reconhecer o óbvio. E, mesmo com todos esses erros admitidos, ele não assume que a sentença é do dia 3, “rigorosamente igual à do dia 17”, como diz o jornalista da Folha.

Não chego a ter, assim, o meu lado Zorra Total, mas também sei ser engraçado quando acho que é o caso. Não é o caso por enquanto. Diogo tem outros processos. Eu mesmo tenho os meus. Jamais os trouxe para o blog. Por iniciativa minha, ninguém conhece um linha dos quatro a que respondo. Acho que sou inocente. Mas cabe à Justiça decidir. E ficarei em silêncio enquanto achar que os ritos jurídicos estão sendo seguidos. Se, no cumprimento da lei, os juízes decidirem que sou culpado, recorrei até quando for possível. Se perder, paciência. Mas este caso é diferente. Estamos lidando com um modelo “idealizado” por Wajzenberg, que ele admite não ser bom.

Alguns leitores até reclamam de boa-fé: “Chega dessa história”. Não chega, não. Sim, como tenho feito todos os dias desde que o caso estourou, tratarei de outros assuntos no blog. Mas não vou deixar prosperar a confusão. Tenta-se criar uma grande mentira feita de meias-verdades, omissões e confusão de datas. Eu acho que ainda “há juizes em Berlim.”

Para quem não sabe, a frase remete a um caso que se tornou famoso. Estamos em 1745, na Prússia. Um moleiro tinha o seu moinho nas cercanias do palácio do rei Frederico 2º, déspota esclarecido, amigo dos intelectuais. Um dos puxa-sacos do soberano tentou removê-lo dali, porque julgava que aquilo maculava a paisagem. Ele se negava a sair. Frederico o chamou para saber a que se devia a sua resistência. E ele, então, teria dito a célebre frase: “Ainda há juízes em Berlim”. Para o moleiro, a Justiça, aquela com a qual contava, não haveria de distingui-lo do rei. É isso aí. A história parece verdadeira. A frase é coisa de escritor. É de autoria de François Andrieux, que escreveu, em versos, o conto O Moleiro de Sans-Souci.

Hora dessas, posso contar aqui a última do papagaio. Por enquanto, prefiro pensar que, a despeito do furacão que varre o Judiciário, ainda há juízes no Brasil. A minha é a ética do moleiro. Mas há quem prefira ser o bobo da corte de Frederico 2º.

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