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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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A internação involuntária e o jornalismo no manicômio ideológico. Ou: Mais jornalismo e “menas” militância, por favor!

O lobby moral — acabo de inventar essa designação — dos que se consideram só consumidores recreativos de drogas (eu também sou consumidor recreativo de Hollywood) é, acredito, o mais forte do país, especialmente na imprensa. É impressionante o esforço que se vem fazendo, em quase todos os veículos, para atacar o programa de internação […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h01 - Publicado em 23 jan 2013, 05h55

O lobby moral — acabo de inventar essa designação — dos que se consideram só consumidores recreativos de drogas (eu também sou consumidor recreativo de Hollywood) é, acredito, o mais forte do país, especialmente na imprensa. É impressionante o esforço que se vem fazendo, em quase todos os veículos, para atacar o programa de internação forçada ou involuntária de dependentes químicos em São Paulo. A abordagem perdeu qualquer senso de responsabilidade e noção de objetividade.

Hora dessas publico algumas pérolas que andei colecionando dos coleguinhas solidários com a desgraça, mas não com os desgraçados. É asqueroso! Ontem, em vários sites noticiosos e até na TV, reclamava-se, ora vejam!, da demora para a internação. Em alguns casos, “quase 24 horas…” Imaginem se fosse esse o tempo do SUS, Brasil afora, para internar pacientes em estado grave em leitos especializados. Talvez o Brasil fosse a Suécia! Mas quem liga para os miseráveis que definham nas filas do Sistema Único de Saúde? Os cancerosos, os tuberculosos, os diabéticos, os cardíacos, essa gente toda é doente de segunda categoria. Com um drogado, é diferente! Ele é visto como alguém numa área cinzenta entre a vítima, o mártir e o herói.

Alertava-se ainda para o risco da eventual falta de vagas, uma vez que, informava-se, a procura foi maior do que se esperava. Embora o programa se destine à internação involuntária, também os que desejam se tratar buscaram o serviço. Familiares foram buscar ajuda para encontrar parentes desaparecidos. Ao longo dos dias, dos meses, dos anos, é evidente que o benefício terá de ir se ajustando. Até pelo pioneirismo, não se conhece exatamente o tamanho do problema. É patético perceber jornalistas que visivelmente se opõem à internação a acusar a suposta demora no atendimento…

A origem do mal-estar
Por que esse mal-estar contido — às vezes, explícito mesmo — e a má-vontade com o programa? Fatores diversos se somam. Em primeiro lugar, há a questão que se poderia chamar ideológica, ainda que essa palavra precise ser rebaixada para se encaixar ao caso em espécie. Estivessem no comando da ação os “petistas progressistas”, os não menos petistas e não menos progressistas do jornalismo dispensariam ao caso outro tratamento. Como vem de um governo tucano e como parece que as chefias de redação decidiram deixar a moçada à vontade para a militância, as delinquências intelectuais vão se acumulando.

Em segundo lugar, mas não menos importante, note-se: há uma discordância de fundo com o programa. Defender a legalização das drogas é parte do “kit do bom progressista”, assim como ser favorável à legalização do aborto, pregar a proibição da venda legal de armas, apoiar a invasão de propriedades rurais e urbanas pelos sem-isso e sem-aquilo, exigir ciclovias até nos morros de Perdizes e da Vila Madalena etc. Se o sujeito não adere a essa pauta, acaba sendo tratado como um reacionário “jeca de Oklahoma” (cá estou eu provocando o meu amigo Caio Blinder).

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Ora, é evidente que a internação involuntária de viciados vai na contramão, no que concerne ao debate de valores, do lobby em favor da legalização ou descriminação das drogas, a exemplo daquela absurda campanha É Preciso Mudar, orientada por Pedro Abromovay, ex-secretário de Justiça do governo petista, que já defendeu que “pequenos traficantes” não sejam presos. Também está claro que a internação involuntária reforça o repúdio que a esmagadora maioria dos brasileiros têm das drogas, chamando a atenção para seu caráter deletério, para seu potencial destrutivo. E parcela expressiva dos “coleguinhas” não pode aceitar isso. Basta ver como foram tratados os maconheiros marchadores: parecia que Schopenhauer, Kant e Bertrand Russel gritavam em coro: “Ei, polícia, maconha é uma delícia”.

Como essa gente não perdeu inteiramente o senso de ridículo e como há leitores do outro lado, muitos deles capazes de pensar de modo lógico, fica difícil agredir na essência um programa que, se bem aplicado, salva vidas e tem o concurso de médicos, juízes, promotores e advogados. Assim, para manter a veia crítica, ignora-se o principal para tentar desmoralizar o programa em razão de aspectos periféricos: “a internação está demorado, é possível que faltem leitos, a filha dopou o pai para interná-lo…”. Um programa de redução de danos que ministrasse doses controladas de droga a viciados seria certamente mais bem recebido pelos “progressistas”.

Chegou a hora de alguns diretores de redação cobrarem mais jornalismo e “menas” (para ficar no espírito da era…) militância.

Texto publicado originalmente às 4h02
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