Não que isto pudesse acontecer com qualquer leitor do blog, homem ou mulher, mas vá lá. Se, um dia, você for flagrado pelo cônjuge com a calça na mão, enquanto uma beldade espera nua na cama, não hesite um átimo, um segundo: ACUSE A IMPRENSA GOLPISTA DE ESTAR DIFAMANDO UMA PESSOA DE BEM!

É a moda! Depois da crise do mensalão, o PT nos ensinou que não existe mais pecado ao sul do Equador: só existe, como diria Odorico Paraguaçu, a “imprensa marronzista” — ou os “meios de comunicação dos judeus”, como diria um palhaço bem mais perigoso.

Brochou? Culpa da imprensa!

Borborigmos ruidosos o surpreendem no silêncio do elevador? Ataque o jornalismo!

Você abre o freezer de madrugada em busca de um agrado, dá de cara com aquele pote de Häagen-Dazs de chocolate belga, as papilas gustativas ficam logo assanhadas, os neurotransmissores entram num transe à espera daquela bomba de carboidrato, você começa a salivar, abre o troço e… pimba! É feijão congelado!, “amor, que eu ponho nesse pote porque feijão mancha os outros recipientes, e esse a gente pode jogar fora!”. Ah, bom! Para não quebrar a porta do freezer, você só tem uma saída: “Morra, imprensa golpista!”

Afinal, alguém tem de pagar!

Ao ponto
Eduardo Artur Rodrigues Silva, diretor de Operações dos Correios, pediu demissão hoje. É um dos que caem, o quarto!, à esteira das reportagens publicadas por VEJA sobre as lambanças na Casa Civil, que os petistas chamam de “mentirosas”, claro. Era o procurador da MTA, aquela que pagou propina para Israel Guerra, e depois foi feito diretor de Operações dos Correios por Mamãe Gansa, Erenice. Ninguém consegue saber onde fica a sede da MTA no Brasil. O Estadão descobriu que o homem é só um testa-de-ferro de um argentino de vida nebulosa. Não obstante, a MTA tem contratos com os Correios de R$ 60 milhões, e a turma de Erenice, com o apoio de Lula, queria que ela fosse o núcleo de uma grande empresa de logística.

Assim se fazem os negócios nessa “Nova era democrática”. Bem, o tal “pediu demissão”. Ele também acha que é tudo culpa da imprensa e está magoadíssimo. Leiam a carta. Volto para encerrar.

Brasília, 20 de setembro de 2010
Estimado Presidente David,
Vim para os Correios com a vibração e entusiasmo dos jovens recém-formados.
Aos 61 anos de idade esta seria a coroação e o encerramento da minha carreira profissional, honrado que fui pela indicação para a função por um senador da República, sabedor da minha capacidade técnica para exercê-la.
Aviador, consultor aeronáutico, especialista em logística e operação nos aeroportos, além do conhecimento e das dificuldades da Rede Postal Noturna, logo na chegada designamos grupos de trabalho para estudarem aperfeiçoamentos e modernizações, as quais beneficiariam a ECT no futuro.
Desde o início fui alvo de ataque pela imprensa. Minha atuação, bem como de minha filha, no mercado de consultoria aeronáutica, sempre foram de domínio público e, insinuações de propriedade ou controle de empresas do setor aéreo, são facilmente desmentidas.
No entanto, o mal que essas notícias provocaram é incalculável. Minha família está emocionalmente destroçada, minha vida está sendo revirada e meu nome sendo alvo de suspeitas absurdas e infundadas.
Estou pedindo demissão do cargo de diretor de operações da ECT, por iniciativa própria. Não sinto mais o prazer do trabalho e do desafio que a função exige, e não vou contaminar os excelentes profissionais com que convivi nestes 48 dias com o meu desencanto.
Tive muito prazer em conhecê-lo. Você tem a maturidade, sabedoria e competência necessárias para levar a empresa adiante. Por essa razão, só me resta desejar-lhe e a todos os 110.000 empregados, muita sorte e sucesso.
Um grande abraço,
Eduardo Artur Rodrigues Silva

Encerro
Qual é a moral da história! Simples! Se o Brasil tivesse uma imprensa decente, como querem os petistas, seria proibido congelar feijão em potes de Häagen-Dazs.

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