A Fada Sininho bate as asinhas
Elio Gaspari é a prova de que o vinho nem sempre melhora; às vezes, azeda. Hoje. Seguindo os passos de seu guia, foi buscar no futebol uma ironia que deve ter considerado fina e sutil para retratar a vitória de Dilma, que dá como certa. Escreveu. “Dois filósofos do futebol podem socorrer tanto aqueles se […]
Elio Gaspari é a prova de que o vinho nem sempre melhora; às vezes, azeda. Hoje. Seguindo os passos de seu guia, foi buscar no futebol uma ironia que deve ter considerado fina e sutil para retratar a vitória de Dilma, que dá como certa. Escreveu.
“Dois filósofos do futebol podem socorrer tanto aqueles se julgarem vencedores como os que se sentirem derrotados.
Aos vencedores: “O melhor time sempre ganha. O resto é fofoca”. (Do técnico escocês Jimmy Sirrel.)
Aos perdedores: “O melhor time pode perder. O resto é fofoca, boa fofoca”. (Do professor norueguês Steffen Borge, da Universidade de Tromso, comentando a teoria de Sirrel.)”
Para não ser acusado de ter lado, agora que julga que o lado que escolheu faz tempo já ganhou, então oferece, faceiro, gracejos para os dois. Huuummm… Deixe-me prever: caso Dilma vença, Elio Começará a bater as asinhas lá pelas cercanias de Minas. Suas convicções me fascinam…
Mas esse democrata, radicalmente convertido à democracia depois da democratização (ele já escreveu o livro “A Ditadura Aplaudida”, com textos da própria lavra?), escreve ainda:
A pobreza da campanha durante o segundo turno criou terreno fértil para uma perigosa radicalização. De um lado e de outro surgiram vozes, ainda tímidas, discutindo a legitimidade do mandato. Em alguns casos, vocalizam um paradoxo: o resultado de hoje pode colocar em risco a democracia brasileira. Fica difícil entender como uma eleição pode ameaçar a democracia.
Gaspari usa um tática argumentativa vigarista que consiste em combater o que o adversário não afirmou para que ele possa, então, sustentar o que bem entende. Digam-me uma só pessoa da oposição que questiona a legitimidade do mandato de Dilma, caso eleita. A eventual eleição de Serra, essa, sim, é questionada. Lula a considera um retrocesso da democracia. Gaspari, o morno!
Quanto ao mérito da tese — e não estou comparando períodos, mas apenas demonstrando que ele está falando bobagem —, cabe perguntar a Hitler, Mussolini e Chávez se uma eleição pode ou não ameaçar a democracia.
Mas o mais interessante do seu texto está mesmo no primeiro parágrafo, que poderia ter sido escrito a quatro mãos com Luiz Gonzales, o marqueteiro da campanha tucana:
“HOJE À NOITE será conhecido o próximo presidente da República. Desde 1989 não se via uma campanha terminar de forma tão divisiva e oca. O estudo do mapa eleitoral permitirá que se chegue a explicações políticas e sociais para o resultado. De todas, a de alta toxicidade e baixa honestidade será aquela que atribuirá a derrota ao marqueteiro.
Nenhuma explicação superará a mais elementar constatação: o povo foi chamado, cada cidadão teve direito a um voto, eles foram contados, e foi eleito quem teve mais preferências.”
Como não ocorre a ninguém atribuir a João Santana uma eventual derrota de Dilma, é claro que o derrotado do seu texto é Serra e que o marqueteiro que ele quer blindar é Gonzales — a campanha do PSDB, com efeito, foi horrível, pouco importa o resultado das urnas. A Fada Sininho já correu para oferecer a sua proteção e para chamar de desonestos os que discordam dele. Todo honesto concorda com Gaspari, tá, pessoal?
Desonesto, meu senhor, é não chamar as coisas e as pessoas pelo nome e ficar plantando fofoca em coluna. Esse estilo oblíquo já era! Mais uma vez: pouco importa o que digam as urnas, o fato é que o PT sempre teve uma candidata muito pior do que a sua propaganda, e o PSDB, uma propaganda muito pior do que o seu candidato. Gaspari e seus protegidos se acalmem. Esse debate está só no começo, ainda que Serra ganhe, a despeito de sua campanha.
Ah, e concordo com Gaspari: é preciso ser honesto!