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A denúncia contra Lula, Hegel, Engels e citações infelizes

Promotores trocam Engels por Hegel na denúncia contra Lula; ainda não o tivessem feito, a referência não seria abonadora

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 23h18 - Publicado em 11 mar 2016, 21h33

Ah, também vou meter a minha colher de pau na polêmica, né?

Na denúncia oferecida contra Lula, com pedido de prisão preventiva, os promotores foram fazer uma citação e se atrapalharam um pouco. Num dado trecho da petição, assinada por José Carlos Blat, Cassio Conserino e Fernando Henrique Araújo, lê-se:
“As atuais condutas do denunciado Luiz Inácio Lula da Silva, que outrora chegou a emocionar o país ao tomar posse como Presidente da República em janeiro de 2003 (‘o primeiro torneiro mecânico’ a fazê-lo de forma honrosa e democrática), certamente deixariam Marx e Hegel envergonhados.”

É claro que o trio escreveu “Hegel” (Georg Wilhelm Friedrich Hegel, 1770-1831) em lugar de Engels (Friedrich Engels, 1820-1895). A confusão tem lá as suas graças. Engels foi um parceiro intelectual e mecenas de Karl Marx. Juntos, escreveram “O Manifesto Comunista”. E Hegel? Era uma das referências intelectuais de Marx. Até hoje, nos ambientes mais requintados da esquerda, se debate se a “dialética marxista” é uma construção independente, criada pelo “pai do comunismo”, ou se é uma derivação da dialética hegeliana.

“Hegel”, diga-se, é a primeira palavra daquele que considero o mais agradável dos livros de Marx: “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”. É justamente ao avançar além do que dissera Hegel que Marx escreve um dos trechos mais citados de sua obra. Aquele dissera que os eventos e personagens históricos importantes acontecem duas vezes. Ao que Marx emenda: “Esquece-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. A frase é central no livro porque é ela que orienta a desconstrução da figura de Luís Bonaparte, aquele que tentou, pateticamente, vestir o manto do tio, Napoleão Bonaparte.

Repercussão
É claro que o erro fez o maior barulho nas redes sociais. Os petralhas acham que a troca de “Engels” por “Hegel” evidencia a falta de preparo dos promotores e é um símbolo do seu descuidado. Bobagem, claro!

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Os adversários do petismo avaliam que isso tudo é diversionismo e que o erro não tem a menor importância. Também não é assim.

Blat, indagado sobre a troca, deu de ombros com uma agressividade desnecessária:
“Vão caçar o que fazer. Vão catar coquinho. Isso é uma tolice, é um erro material que já foi verificado e será retificado. Tudo continua como está, não há qualquer gravidade nisso.”

De fato, para esclarecer os crimes cometidos e coisa e tal, realmente não é coisa importante. Mas tenho duas observações a fazer, uma de princípio e outra de pensamento aplicado.

A de princípio: se é para citar nomes e apelar a referências, que se faça a coisa direito. Ou que não se faça, certo? O que não pode é errar num caso assim. Não é todo dia que se encaminha uma petição à Justiça pedindo a prisão de um ex-presidente da República.

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A segunda
A segunda questão, de pensamento aplicado, já é um pouco mais complexa. Ainda que os promotores não tivessem trocado os nomes, eu repudiaria o conteúdo do mesmo jeito.

Afirmar que as más condutas de Lula deixariam Marx e Engels envergonhados faz supor que estes dois se envergonhassem com facilidade. E, definitivamente, não era o caso.

Se Lula tivesse executado uma obra que provocasse orgulho na dupla, certamente estaríamos mergulhados num banho de sangue.

Vamos combinar assim, então? Não se deve trocar Engels por Hegel. Em não se trocando, não se deve crer que Marx e Engels servissem de referências morais.

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