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A conspirata tucana e a opção preferencial pelo desastre

Que coisa melancólica! As oposições não conseguem tirar a sua reputação do vermelho. Mesmo quando poderiam produzir notícias positivas — ou, ao menos, neutras —, atuam para se manter na espiral negativa. Ontem, a bancada federal do PSDB escolheu Duarte Nogueira (SP) seu líder. Era candidato único, com apoio de alckmistas, serristas, aecistas etc. Chegou […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 13h02 - Publicado em 27 jan 2011, 05h55

Que coisa melancólica!

As oposições não conseguem tirar a sua reputação do vermelho. Mesmo quando poderiam produzir notícias positivas — ou, ao menos, neutras —, atuam para se manter na espiral negativa. Ontem, a bancada federal do PSDB escolheu Duarte Nogueira (SP) seu líder. Era candidato único, com apoio de alckmistas, serristas, aecistas etc. Chegou a defender a necessidade de se fazer uma oposição firme, consistente, programática etc. Ainda que ganhasse só um cantinho no jornal, estaria de bom tamanho. Mas quê… Uma das manchetes de página interna da Folha, por exemplo, é esta:

Aécio e Alckmin isolam Serra em eleição no PSDB

Escrevem Catia Seabra e Maria Clara Cabral:
Aliados do senador eleito Aécio Neves (MG) e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, endossaram uma operação que fecha as portas do comando do PSDB para o ex-governador José Serra. Derrotado na corrida presidencial, Serra manifesta interesse pela direção da sigla para se manter em evidência. Numa articulação desenhada anteontem, alckmistas e aecistas lideraram abaixo-assinado pela recondução do senador Sérgio Guerra à presidência do partido. Consultado sobre a redação do abaixo-assinado, Aécio disse que o apoiaria desde que tivesse aval de Alckmin. Segundo a Folha apurou, Guerra ligou para Alckmin na manhã de ontem para falar sobre o documento. (…) A operação foi posta em prática na manhã de ontem, durante reunião da bancada do PSDB para eleição de Duarte Nogueira (SP) para a liderança do partido na Câmara, quando mais adesões à ideia foram obtidas. “Não sabia de nada”, disse o presidente do PSDB de São Paulo, Mendes Thame, que assinou o documento. O abaixo-assinado reuniu assinatura de 53 dos 55 deputados presentes à reunião.

Voltei
É possível que a versão que acusa a participação ativa de Alckmin nessa espécie de conspirata seja um tanto exagerada. De todo modo, os jornais e sites trazem a versão da “Operação Isola Serra”. Vamos lá. Importa pouco saber se este blogueiro é ou não “serrista” — não dou a menor pelota para as tentativas de me etiquetar. Isso é coisa de “policiais de consciência” da estirpe de Marcos Coimbra… A questão relevante é outra: uma reunião que tem o objetivo de escolher o líder na Câmara é a mais apropriada para uma definição dessa natureza? A resposta, obviamente, é “não”. Especialmente quando posta em prática sem nem mesmo disfarçar o objetivo: “Ah, parece que o Serra gostaria de presidir o partido; vamos dar um olé nele!” Beira o patético.

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A “unanimidade” que se tentou construir — com as tais 55 assinaturas de um bancada de 57 deputados (muito inocente caiu na conversa) — busca demonstrar que o ex-governador de São Paulo e ex-candidato à Presidência estaria isolado no partido. Ora, se é assim, por que fazer pela via do golpismo mixuruca o que podia seguir todos os rigores da democracia interna? Correntes do partido antes defensoras da prévia escolheram agora o caminho da exclusão, do isolamento e do fato consumado?

Aloysio Nunes Ferreira (SP), senador mais votado da história do partido, reagiu, ainda segundo a reportagem da Folha: “É um aviltamento à democracia interna do PSDB tentar reeleger o presidente em reunião para escolha do líder. Houve um rolo compressor. Eles assinaram sob constrangimento”.

Ainda na reportagem da Folha, pode-se ler:
“Aliados de Aécio e tucanos de Pernambuco deram início à campanha para nomeação do senador Tasso Jereissati (CE) na presidência do Instituto Teotonio Vilela -outro destino cogitado por Serra.”
E mais:
“Aecistas também atribuíram a Serra o vazamento da informação de que o publicitário indicado pelo ex-governador para produção do programa do PSDB é réu no processo do mensalão mineiro.”

O clima criado, parece, é para tentar silenciar uma das vozes da oposição, que acaba de disputar uma eleição presidencial, com 44 milhões de votos. Quanto à acusação dos aecistas, sugiro aos leitores uma operação simples. Entrem no Google e coloquem lá as palavras “Eduardo Guedes mensalão”. Vocês verão se Serra precisaria ter vazado alguma coisa para que a imprensa se lembrasse do nome do publicitário. Mais: atentem para a data dos arquivos. Como na fábula do lobo que come o cordeiro que bebe rio abaixo, acusando-o de turvar a água,  há quem busque apenas um pretexto para exercer a sua natureza, não um motivo.

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Guerra precoce e estúpida
Não se trata desse modo uma das figuras mais expressivas do partido — e não por questão moral ou ética apenas; por pragmatismo mesmo. Ganhe ele ou perca eleições, sou, sim, um admirador de Serra — e isso não é segredo pra ninguém. Como não tenho de ficar fazendo “fontismo”,  não corro para saçaricar entre “vencedores” para ter o que escrever. Sou, como diria o poeta, “rei absoluto das minhas simpatias”. Mas elas contam menos agora. Se eu considerasse que o PSDB está fazendo a coisa certa, faria a devida distinção: “O jogo foi bruto, mas o caminho é virtuoso”. Mas não está.

Ontem, comentei um texto do tal Marcos Coimbra que atacava Serra e pedia o banimento dos serristas do PSDB. Sua vocação de exterminador é mais ampla: quer também excluir Fernando Henrique Cardoso do debate. Assim, depreende-se de seu texto, Aécio Neves conseguiria construir a unidade. Estamos no 27º dia do terceiro mandato petista. Motivos para a oposição cumprir o seu papel — e recebe generoso financiamento público para isso — não faltam. Mas está “construindo” a unidade excluindo lideranças.

Em vez de tentar buscar alguma coesão interna e definir um eixo de atuação, alguns “líderes” decidiram que é preciso antes esmagar os inimigos “de dentro”. A história ensina que esses processos funcionam nas tiranias, não nas democracias.

A verdade dramática é a seguinte: trata-se de uma luta de amadores assoberbados contra profissionais metódicos. O PT deve rezar para que o destino não lhe pregue nenhuma peça. Dada a qualidade dos adversários, só pode ser vencido pelo inesperado. Esse tipo de oposicionista não representa risco nenhum! Como na outra fábula, a do sapo que carrega o escorpião nas costas, o aracnídeo ferroa o batráquio porque, mesmo sabendo que também vai morrer, não consegue conter a sua natureza.

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