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A coluna abjeta e mentirosa de um professor da USP, colunista da Folha e partidário de Haddad

Vladimir Safatle é professor de filosofia da USP. Isso não quer dizer grande coisa. Há gente ainda mais ignorante do que ele, o que não é fácil, que também é. E escrevo isso em respeito a grandes mestres que lá estão, alguns meus queridos amigos. Esse rapaz tem algumas notáveis contribuições ao pensamento. É aquele […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h10 - Publicado em 16 nov 2011, 06h09

Vladimir Safatle é professor de filosofia da USP. Isso não quer dizer grande coisa. Há gente ainda mais ignorante do que ele, o que não é fácil, que também é. E escrevo isso em respeito a grandes mestres que lá estão, alguns meus queridos amigos. Esse rapaz tem algumas notáveis contribuições ao pensamento. É aquele cara que, quando articulista do Estadão, escreveu um texto justificando o terrorismo, nas pegadas de um delinqüente internacional chamado Slavoj Zizek. Num texto arrevesado, Safatle sustentou que “Zizek quer mostrar como os fatos decisivos da história política mundial desde a Revolução Francesa foram animados pelo advento de uma noção de subjetividade que não podia mais ser definida através da substancialização de atributos do ‘humano’ e cujos interesses não permitiam ser compreendidos através da lógica utilitarista da maximização do prazer e do afastamento do desprazer.” É quase incompreensível, mas eu traduzo. Safatle está endossando a tese de Zizek segundo a qual o repúdio que temos ao terrorismo decorre de nossa pobre lógica utilitarista de maximização do prazer e do afastamento do desprazer. Os terroristas pensam de modo diferente, entenderam? É asqueroso!

Com essas credenciais, ele se tornou articulista da Folha durante o processo eleitoral do ano passado. Até outro dia, era comentarista político, imaginem, da TV Cultura de São Paulo. Se ainda é, não sei. Pois bem! Há muito tempo ele apóia movimentos de invasão disso e daquilo. Sua preocupação com a legalidade é zero. Estava ao lado de Marilena Chaui num ato em defesa da candidatura de Dilma Rousseff e contra José Serra no dia 26 de outubro de 2010 — e ele já era colunista da Folha, é bom destacar. Isentíssimo! Foi mais um ato ilegal. Um prédio público não pode ser usado para manifestações político-partidárias, como determina a Lei Eleitoral. E ele lá dá bola para a lei?

Muito bem! Safatle escreve hoje na Folha sobre a USP. Suas tolices, simplificações e mistificações seguem em vermelho. Eu o desmoralizo de novo em azul.

As reações ao que ocorreu na USP demonstram como, muitas vezes, é difícil ter uma discussão honesta e sem ressentimentos a respeito do destino de nossa maior universidade. Se quisermos pensar o que está acontecendo, teremos que abandonar certas explicações simplesmente falsas.
Entendi. Quem discorda de Safatle é desonesto e ressentido. Quem concorda é bacana. Quem está com ele está com a verdade, quem não, com a falsidade. Então vamos ver agora quem mente. Eu me constranjo um pouco de chutar o traseiro intelectual deste senhor porque ele é muito ruim, mas fazer o quê?

Primeiro, que o epicentro da revolta dos estudantes seja a FFLCH, isto não se explica pelo fato de a referida faculdade estar pretensamente “em decadência”. Os que escreveram isso são os mesmos que gostam de avaliar universidades por rankings internacionais.
É uma falsa clivagem. Quem é “que gosta de avaliar universidades” por rankings? Como Safatle vai defender que a USP é um território autônomo e vai mimar maconheiro com o objetivo de atacar, mais uma vez, a polícia, o governo do Estado e a ordem,  então ele precisa ficar criando divisões na universidade.

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Mas, vejam que engraçado, segundo a QS World University Ranking, os Departamentos de Filosofia e de Sociologia da USP estão entre os cem melhores do mundo, isso enquanto a própria universidade ocupa o 169º lugar. Ou seja, se a USP fosse como dois dos principais departamentos da FFLCH, ela seria muito mais bem avaliada.
Safatle, diga aí: é gostoso ser um vigarista intelectual? Deve ser, né? Essa sua clivagem só seria verossímil, ainda que continuasse falsa, se houvesse qualquer relação de causa e efeito entre a suposta repulsa da FFLCH à polícia e sua qualidade e entre o apoio à polícia das outras unidades e sua suposta falta de qualidade. Mais: forçoso seria que repulsa e apoio nesses dois grupos fossem unânimes. Sejam lá quais forem as qualidades do Departamento de Filosofia, elas não decorrem desse tipo de pilantragem argumentativa.

Segundo, não foram alunos “ricos, mimados e sem limites” que provocaram os atos. Entre as faculdades da USP, a FFLCH tem o maior percentual de alunos vindos de escola pública e de classes desfavorecidas. Isso explica muita coisa.
Isso não explica coisa nenhuma! Como a maioria da USP é favorável à presença da PM e como a ação da polícia contou com o apoio de mais de 70% dos paulistas, Safatle está tentando agora brincar de luta de classes dentro do campus. Mas isso é o de menos. Ele está querendo esconder o óbvio. Clique aqui mais tarde e leia reportagem do Globo evidenciando quem são alguns  dos invasores. Um é filho de empresário, outro de engenheiro, três outros de professores que ocupam cargos de direção em outras universidades…

Para alunos que vieram de Higienópolis, a PM pode até significar segurança, mas aqueles que vieram da base da pirâmide social têm uma visão menos edulcorada.
Eles conhecem bem a violência policial de uma instituição corroída por milícias e moralmente deteriorada por ser a única polícia na América Latina que tortura mais do que na época da ditadura militar.
Não há nada estranho no fato de eles rirem daqueles que gritam que a PM é o esteio do Estado de Direito. Não é isso o que eles percebem nos bairros periféricos de onde vieram.
“Polícia corroída por milícias”? Ele está se referindo à PM do Rio? O TEXTO DE SAFATLE me dá nojo. Literalmente! Felipe de Ramos Paiva, o estudante assassinado na USP, era aluno da FEA (que Safatle deve considerar faculdade dos ricos) e morava em Pirituba, na periferia. Era filho de gente pobre. Mais: tivesse um mínimo de amor pela ciência, forçoso seria o professor ter em mãos  uma pesquisa que cruzasse renda e origem social com opinião sobre a PM na USP. Mas ele não tem. Recorre a um truque de uma picaretagem  intelectual e conceitual que assusta: alunos da FFLCH seriam pobres, da periferia e da escola pública — e, por isso, contra a presença da PM. Já os das demais unidades seriam ricos, das áreas nobres e da escola particular — e, portanto, favoráveis à polícia.  ELE NÃO TEM ESSES DADOS. Conclui-se desse raciocínio que os pobres são contra a presença da polícia em seus bairros.

Terceiro, a revolta dos estudantes nada tem a ver com o desejo de fumar maconha livremente no campus. A descriminalização da maconha nunca foi uma pauta do movimento estudantil.
Que “movimento estudantil”? Foi o “movimento estudantil” que invadiu dois prédios e impediu a PM de cumprir o papel que lhe garante a Constituição? Cadê o PCO, a LER-QI e o  Negação da Negação no texto de Safatle?

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Infelizmente, o incidente envolvendo três estudantes com um cigarro de maconha foi a faísca que expôs um profundo sentimento de não serem ouvidos pela reitoria em questões fundamentais.
É mentira! A USP tem 89 mil estudantes. A invasão da reitoria foi decidida por 300, e efetivada por menos de 100. Isso revela a seriedade do argumento.

Era o que estava realmente em jogo. Até porque, sejamos claros, mesmo se a maconha fosse descriminalizada, ela não deveria ser tolerada em ambientes universitários, assim como não se tolera a venda de bebidas alcoólicas em vários campi.
Ah, a quem este rapaz pensa que engana? Aqui ele decide demonstrar seu repúdio à maconha para sugerir que pretende discutir coisas mais importantes.

Quando ocorreu a morte de um aluno da FEA, vários grupos de estudantes insistiram que a vinda da PM seria uma máscara para encobrir problemas sérios na segurança do campus, como a iluminação deficiente, a parca quantidade de ônibus noturnos, a concentração das moradias estudantis em só uma área e a falta de investimentos na guarda universitária. Isso talvez explique porque 57% dos alunos dizem que a presença da PM não modificou em nada a sensação de segurança.
Espero que o “porque” de Safatle, no lugar de “por que”, seja só um erro da revisão. Mas isso é o de menos. O problema desse rapaz é o erro de pensamento. As condições gerais da USP podem melhorar com ou sem polícia; uma coisa não depende da outra. “Sensação de segurança” não salva ninguém, mas a segurança efetiva sim! Depois da presença da PM no campus, os furtos de veículos caíram 90%. Já roubos em geral tiveram redução 66,7%. Roubos de veículos caíram 92,3%. Esses são os fatos.

Safatle integra o grupo da USP que pretende, a partir de um incidente protagonizado por uma minoria de extremistas, criar um casus belli. O objetivo, já denunciei, é fazer no ano que vem “a maior greve em 10 anos”. O confronto entre maconheiros e PM, Safatle tem razão em certa medida, é só a falsa questão. A razão de fundo é eleitoral. Safatle também integra a turma dos “inteliquituais” engajados na candidatura de Fernando Gugu-Dadá Haddad à Prefeitura.

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Gugu-Dadá Haddad é aquele que, num rasgo de sinceridade, afirmou, censurando a ação da PM contra os invasores, que “não se pode tratar a USP como se fosse a Cracolândia e a Cracolândia como se fosse a USP”. Ou seja: ele estava dizendo que polícia é coisa pra pobre. Safatle deve concordar, não é?, ao contrário do que diz em sua coluna abjeta.

Texto publicado originalmente às 21h34 desta terça
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