A carta do Grupo Record que denuncia que os jabutis estão em cima das árvores
Sérgio Machado, presidente do Grupo Editorial Record — que compreende as editoras Record, Betrand, Civilização Brasileira, José Olympio, Best Seller e Verus —, enviou uma carta à Câmara Brasileira do Livro e à Comissão do Prêmio Jabuti informando que o grupo não participa mais da premiação enquanto não houver uma mudança de critério. A informação […]
Sérgio Machado, presidente do Grupo Editorial Record — que compreende as editoras Record, Betrand, Civilização Brasileira, José Olympio, Best Seller e Verus —, enviou uma carta à Câmara Brasileira do Livro e à Comissão do Prêmio Jabuti informando que o grupo não participa mais da premiação enquanto não houver uma mudança de critério. A informação já circula por aí. No pé do post, reproduzo a íntegra da carta.
Machado faz muito bem. O Jabuti se transformou numa patuscada político-ideológico destinada a premiar Chico Buarque sempre que ele resolver derramar seu leite. Quem não acompanhou o imbróglio todo pode se inteirar no assunto nos links abaixo:
O PRÊMIO JABUTI E OS ASQUEROSOS 2 – Os detalhes de uma fraude. Ou: “Dil-má/ Dil-má”
“A Bolsa Jabuti” para a ficcionista Maria Rita Kehl, a heroína de Itararé da esquerda descolada
Neste ano, o romance “Leite Derramado” (Companhia das Letras), de Chico, ficou em segundo lugar na categoria “romance”; “Se Eu Fechar Os Olhos Agora”, de Edney Silvestre (Record), obteve o primeiro. Não obstante, o grande prêmio de ficção foi conferido àquele que já o tinha vencido antes mesmo de escrever a obra: Chico! Estamos diante de um primor da lógica: o segundo de uma subcategoria (romance) é o primeiro da categoria geral (ficção). A carta de Machado expõe a pantomima.
O sambista, aliás, venceu também o Prêmio Portugal Telecom. O resultado só foi divulgado na terça. Na edição fechada na sexta, a VEJA já trazia na seção “Sobe Desce” um irônico “sobe” para o com compositor: todos sabiam o veredito desde sempre. Premiação literária de que ele participa é como licitação no Brasil: primeiro se combina o resultado e depois se faz a concorrência.
Segue a íntegra da carta de Sérgio Machado.
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Rio de Janeiro, 9 de Novembro de 2010
Exma. Sra.
Rosely Boschini
Presidente da Câmara Brasileira do Livro
Exmo. Sr.
José Luis Goldfarb
Presidente da Comissão do Prêmio Jabuti
Prezados Senhores,
O Grupo Editorial Record – composto pelas editoras Record, Bertrand, Civilização Brasileira, José Olympio, Best Seller e Verus – decidiu que não participará da próxima edição do Prêmio Jabuti para claramente manifestar sua discordância com os critérios de atribuição do Livro do Ano de ficção e não-ficção. Tais critérios não só permitem como têm sistematicamente conduzido à premiação de obras que não foram agraciadas em seleções prévias do próprio prêmio como as melhores em suas categorias.
Como editores preocupados com a Cultura e a ampliação da leitura no Brasil, nós entendemos que um prêmio literário visa a estimular a criação literária reconhecendo-a pelo critério exclusivo da qualidade. Não aceitamos – principalmente em um país como o nosso, onde quase sempre o mérito é posto em segundo plano – que o principal prêmio literário atribuído pelo setor editorial possa ser conferido a um livro que não esteja entre aqueles considerados os melhores em seus respectivos gêneros.
Infelizmente, a edição de 2010 do Jabuti não foi a primeira em que essa situação esdrúxula ocorreu. Em outra oportunidade, o mesmo agraciado deste ano preferiu não comparecer à entrega do prêmio, talvez por não se considerar merecedor da distinção. Grande constrangimento na cerimônia. Em 2008, a situação se repetiu, com o agravante de o então vencedor da categoria Melhor Romance do Jabuti ter conquistado também todos os outros prêmios literários conferidos no Brasil. O episódio causou tal estranheza e mal-estar que foi grande a repercussão na imprensa. Na época, passamos a acreditar que seriam feitos os necessários ajustes na premiação para que esses equívocos parassem de ocorrer.
Vimos, porém, que os critérios equivocados continuaram em vigor em 2010, com a diferença somente de o autor agraciado desta vez aceitar a láurea. Tomamos então a decisão de não mais compactuar com a comédia de erros. As normas do Jabuti desvirtuam o objetivo de qualquer prêmio, pondo em desigualdade os escritores que não sejam personagens mediáticos. Para não mencionar fato ainda mais grave: quando é evidente que a premiação foi pautada por critérios políticos, sejam da grande política nacional, sejam da pequena política do setor livreiro-editorial.
Como a inscrição das obras concorrentes ao Jabuti é um ato voluntário de cada Editora participante, e feito de forma onerosa, optamos por não mais participar da premiação, até que as medidas necessárias para a correção de seu rumo sejam adotadas.
Atenciosamente
Sergio Machado
Presidente
Grupo Editorial Record