Substituta de Luana Araújo apoiou Mandetta e Moro após demissões
Nomeada nesta quinta, a médica Rosana Leite de Melo já foi às ruas contra Dilma e assinou abaixo-assinado contra destruição da Capes sob Bolsonaro
À deriva desde que foi criada há 38 dias, a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde finalmente ganhou uma comandante nesta quinta-feira, com a nomeação da médica Rosana Leite de Melo. A pasta é aquela que quase foi chefiada pela infectologista Luana Araújo — ela perdeu o posto antes de mesmo de assumi-lo oficialmente por conta das suas opiniões contra a cloroquina e outros remédios milagrosos, descobertas pelos bolsonaristas nas redes sociais.
Pois a nova secretária também pode enfrentar problemas com apoiadores mais radicais do presidente Jair Bolsonaro por posicionamentos na internet. No perfil de Rosana no Facebook, há manifestações em apoio aos ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da Justiça, Sergio Moro, na época das suas ruidosas demissões, em abril do ano passado.
Conterrânea de Mandetta, do Mato Grosso do Sul, a médica compartilhou algumas postagens favoráveis ao então ministro — e hoje desafeto declarado de Bolsonaro — desde a sua posse, no começo de 2019. Durante a fritura do titular da Saúde, publicou uma imagem dele com a frase “Um médico não abandona seu paciente” e a hashtag #FicaMandetta.
Sacramentada a demissão, compartilhou a derradeira entrevista coletiva de Mandetta no cargo e um vídeo feito por funcionários do ministério em homenagem ao chefe.
Dias depois, foi a vez de Rosana prestigiar Moro, que pediu para sair do governo por conta da tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. “Sérgio Moro é realmente um gigante!!! Queria mais Moros neste país”, escreveu a médica no dia da demissão. Nos comentários, um de seus amigos comentou que o presidente estava acabando com o governo dele “pra proteger seus pimpolhos”.
No começo desse ano, ela compartilhou um artigo escrito pela micobiologista Natalia Parternak, que passou pela CPI da Pandemia na semana passada e fez duras críticas à condução do enfrentamento pandemia pelo governo Bolsonaro. O texto, publicado na revista Crusoé, exalta as vacinas contra a Covid-19 — tão desprestigiadas pelo presidente.
Já no último dia 19 de abril, Rosana publicou na sua página na rede social um abaixo-assinado pelo resgaste da Capes, para que o Congresso e o Ministério Público “tomem medidas contra a destruição da estrutura de fomento à pós-graduação e à pesquisa científica no Brasil”. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, havia anunciado o nome da nova presidente do órgão dias antes.
O documento cita o crescimento orçamentário da Capes entre 2010 e 2015 — quando o Brasil era governado por Lula e Dilma Rousseff — e os cortes “bruscos” no orçamento do órgão desde 2016, ano em que Temer assumiu. E destaca a redução, no governo Bolsonaro, de 2019 para 2020, de 4,2 bilhões de reais para 2,8 bilhões.
Em março de 2015, Rosana divulgou uma foto em que participava de um protesto contra Dilma.
Ao anunciar a nomeação da médica para a secretária, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, informou que ela é professora da UFMS e possui experiência em gestão pública, tendo presidido o Conselho Regional de Medicina do Mato Grosso do Sul e reestruturado a residência médica no Brasil, no período em que atuou no Ministério da Educação.
Por sinal, a própria Rosana contou em uma transmissão ao vivo no YouTube que deixou a pasta e voltou ao seu Estado por “divergências políticas” com o então ministro Abraham Weintraub, em 2019.
“Drª Rosana tem um perfil técnico e sabe dialogar com os profissionais de saúde. Além disso, liderou o enfrentamento à Covid-19 no Mato Grosso do Sul. Estou certo que fortalecerá o corpo de secretários do Ministério da Saúde”, declarou Queiroga.
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Na quarta-feira, diante de notícias de que Rosana seria escolhida para o cargo, o editor de um site de notícias bolsonarista deu um recado, curtido por milhares de seguidores no Twitter: “compartilha artigo de Natalia Pasternak contra o tratamento precoce. E enaltece Moro e Mandetta à epoca da saída deles do Governo. Por quanto tempo Queiroga estará livre para trair o Pres. Bolsonaro?”.